Quando aquele palitinho de dente começa a inclinar-se para a esquerda no painel, rumo à região vermelha é hora de abastecer novamente… Encontrado o posto, é só dizer ao frentista o que deseja e deixar que ele faça sua parte…
- Gasolina, ou álcool?
- Gasolina.
- Comum, ou aditivada?
- Comum…
Enquanto completa o tanque, o funcionário do posto, certamente orientado por seus superiores que visam sempre o maior lucro possível, faz outra série de perguntas, um verdadeiro interrogatório que, por vezes, chega a ser entediante…
- Água e óleo?
- Tá tudo certo…
- Extintor?
- Em dia…
- Parabrisa?
- Inteiro…
- Quer que jogue uma água no parabrisas?
- Não! Prefiro um vale-ducha…
- Quer pôr um aditivo na gasolina? De vez em quando é bom…
Depois de concordar com a ideia, percebo o quanto fui relapso. Afinal, qual a razão de usar gasolina comum e depois adicionar um aditivo?… Não seria melhor e mais barato abastecer com aditivada duma vez?… Vitória do capitalismo!… É, depois de posto, não tem como tirar o aditivo do tanque, a não ser queimando junto com o combustível….
Pois bem! Resolvi gastar o vale-ducha no mesmo dia… Fila de doze carros precisando de água. Esperei pacientemente a chegada da minha vez e, tomado pela preguiça, permaneci dentro do veículo durante a lavagem… Um esfregava daqui chacoalhando todo o meu veículo oficial, outro jogava água dali com uma pressão que dava medo… Descobri que entra água entre os vidros… Descobri também que a limpeza exterior é muito importante, porém, meu “fiestinha branquelo” permanecia sujo por dentro. Tapetes embarrados, poeira no painel, impressões digitais nos vidros, uma lástima… Mas a lataria estava limpa e isso é o que importa, pois é o que os outros veem, a limpeza interior pode esperar mais um pouco…
O carro, no momento em que estamos dirigindo, é uma extensão do nosso corpo, pois qualquer veículo motor perde sua motricidade se não houver uma vida humana orientando seus movimentos. Por sua vez, o automóvel é também uma extensão de nossa vida… Se ficarmos esperando um vale-ducha para começar a limpeza, estaremos remetendo esta responsabilidade para outrem… E pior, enquanto fazemos uso só da lavagem de aparência, jamais nos tornaremos pessoas realmente limpas. Aos olhos dos outros, um brilho falso que acompanha a maioria das autoridades eleitas por nós… Por dentro, no entanto, a coisa é diferente: sujeira em cima de sujeira, afinal ninguém verá se não estiver no interior do veículo, e quem estiver lá, tem uma grande chance de fazer parte da mesma sujeira perfeitamente camuflada depois de uma ducha caprichada…
Nos carros e na vida, nem sempre o que vemos é a essência… Nem sempre as imagens revelam o que existe no interior.. Enquanto assim for, continuaremos iludindo e sendo iludidos pela ducha do sistema…
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