Cuidando Bem da Sua Imagem

Cuidando Bem da Sua Imagem
Sistema Base de Comunicação

GIRO REGIONAL

GIRO REGIONAL
UM GIRO NO NORDESTE

domingo, 31 de julho de 2011

SERTÃO ( Artigo )


angela 163

A porta do SERTÃO aberta aqui é mágica, festiva, poética, triste, árida, mítica; é construída com rimas, sonhos, cores, santos, demônios, pedras, morte e vida.

angela 161

angela 137
Evoca a música que vem dos tambores, dos pífanos, das violas e das rabecas. Exibe trajes com bordados coloridos, a chita, o couro trabalhado dos gibões, os mantos dos reis e as composições bricoladas com retalhos e fitas coloridas.
angela 135

angela 134

Trata-se de um SERTÃO com uma paisagem quase sempre de uma vegetação rasteira e seca, formando uma massa de cor ocre-terra, ocre-vegetação, que se estende e oprime os fios de espelhos d’água que insistem em correr entre as terras secas.
angela 001


angela 224

É desse contraste entre essa natureza árida e o homem que a habita que nasce a ESTÉTICA DO SERTÃO. A impressão que se tem é que o sertanejo diante de sua natureza árida, numa ânsia de complementá-la, buscasse assim através de suas expressões plásticas, as cores e formas próximas de um estilo barroco, porém antropofagicamente modificado e com elementos que ora complementam ou rivalizam com a geografia árida.
angela 014

angela 037

Ressalto aqui que essa apresentação se aproxima do que Vilém Flusser chama de “pensamento expresso em superfícies”, isto é, vou utilizando imagens e escritas, num plano de superfície e devaneio tentando assim estabelecer laços entre a ciência e a arte, entre o pensamento racional e o intuitivo.
angela 008

Como no SERTÃO nada está totalmente organizado em estruturas de compêndios ou com etiquetas que decodificam, à partida, o que é o estético, a narrativa aqui não se estabelece o tempo todo como linear ou racional. Ela incorpora as incertezas, certezas, o delirante, o imaginário. Assim a compreensão se torna áspera, bifurcada, diversa e afinada com a complexidade do mundo.

angela 053

Esse é o SERTÃO que emerge do meu olhar flâneur e da relação de conhecimento que tenho sobre ele. A pesquisa (como pensamento racional construído), como também ato intencional e sistemático de construção da realidade, vem aqui se acoplar as imagens e textos de um sertão poético, lírico, imaginante.
angela 179

É certo que, na ciência, explicamos esse mundo, sobretudo por meio de palavras, mas as palavras nunca poderão desfazer o fato de estarmos imbricados pela expressão do olhar. Por outro lado, a maneira como vemos as coisas é afetada pelo que sabemos ou pelo que acreditamos. O olhar como diz Dietmar Kamper é antes de tudo um ato de “padecimento” do ser humano.
angela 007

E o sertão como diz Oswaldo Lamartine ( escritor nordestino) é o espaço geográfico e mental onde: “Cada vivente tem o seu sertão. Para uns as terras além do horizonte e, para outros, o quintal perdido da infância”.
angela 002

angela 044

O SERTÃO é essa terra quente que arde no coração, que tem cheiros, cores e ruídos singulares. O sertão tem gosto de riso e solidão, gosto do acaso da vida, dos enganos, do inesperado, da dor da terra esturricada e de toda morte desassossegada.

angela 138

angela 014

As BORDADEIRAS do sertão traçam poemas com as linhas. São linhas multicoloridas que vão preenchendo superfícies monocromáticas como se fossem a terra seca do sertão. As mulheres do sertão bordam sem alvoroço, com simplicidade.

angela 165

Nos bordados predominam as imagens de flores, todas de um colorido intenso, quase excessivo, exuberante como a paixão – esse sentimento que dilacera almas. As bordadeiras enterram as linhas ponto a ponto na trama do tecido, como cacos que cortam, como sangue que preenche, como um ato próximo à loucura das miudezas ou da rotina das cozinhas. A linha é o grande personagem, capaz de acessar, simular, reter e desafiar.
Tanto o SERTÃO de ontem como o SERTÃO de hoje são povoados de artistas primitivos, singulares, com uma obra abissal, banhada pelo pôr-do-sol da caatinga, lavrada pela pele da Caetana ou eternizada pelas pedras-lispes despencadas do céu. Um corpo em festa, animado pelo riso, cores e paixões que habitam no homem e, no entanto, se singularizam no sertão.
Antes de construir conceitos ou máquinas, enquanto fabricava as primeiras ferramentas, o homem criou mitos e pintou imagens, como disse Mikel Dufrenne. Assim é necessário compreender que a arte espontânea desde sempre exprime o liame do homem com a natureza.
angela 033

Para os arqueólogos brasileiros, os lugares no SERTÃO que foram habitados pelos primeiros homens foram os brejos, exatamente porque os brejos têm solos mais férteis, com filetes d’água, sendo possível a sobrevivência face à aridez das terras vizinhas. E são lá onde até hoje se encontram os sítios arqueológicos com as pinturas rupestres mais significativas
Os homens que chegaram ao Nordeste brasileiro pertenciam a grupos mongolóides como todos os habitantes das Américas, anteriores à colonização européia. Assim os índios brasileiros habitantes da região Nordeste são os descendentes de levas arcaicas que atravessaram, há milhares de anos, o estreito de Bering. Para Gabriela Martin ( arqueólaga): “foi precisamente nos sertões nordestinos do Brasil, onde a natureza é particularmente hostil à ocupação humana, onde se desenvolveu uma arte rupestre pré-histórica das mais ricas e expressivas do mundo”.

angela 036

A pedra, os signos, as formas estão na matriz das regras estéticas que se transformam numa verdadeira “arte poética” desde o homem pré-histórico até hoje, passando por diversas civilizações e culturas. A sensação que se tem é a de que existe um fio, simultaneamente tênue e forte, que resiste e persiste atravessando tempos e culturas como uma travessia que se transforma/desdobra e se abre numa passagem fantástico-mítica e utópica. Assim, a Abissínia, o império Inca, a China, a Grécia ou o Sertão são também espaços metafísicos capazes de superar e ultrapassar a mera realidade, e espalhar os fios agregadores de universalidade e permanência da imaginação humana.
angela 042

Como no caso da significação da morte no SERTÃO. Além da figura mítica da Caetana, há outras imagens impregnadas de sonoridades e vida. Passa-nos a impressão que a morte carrega a vida em sua plenitude, que é parte natural da natureza, é apenas uma transcendência da vida. Contraria o sentido irremediável de que morte é separação. A vida é a morte, a morte é a vida. Essa experiência estética do sertanejo com a morte é a experiência em estado mais bruto (primeiro/original) e abrangente.

angela 136

angela 020

O conjunto de fragmentos que compõe meu dizer/sentir sobre a estética do sertão não se fecha aqui. São várias outras entradas, como na literatura, na poesia, nos hábitos culturais, na arquitetura, nos mitos, na alimentação e no imaginário. Cada um desses recortes do mundo sertanejo dizem uma só e mesma coisa: a condição humana expressa pelo homem do sertão responde com exuberância á aridez, à falta e ao infortúnio da vida.
angela 025

angela 038

angela 155

angela 164

angela 162
angela 204

angela 169

angela 035

angela 213

angela 159

angela 018

Nenhum comentário:

NA ESTRADA DA VIDA

Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...

AS MAIS COMPARTILHADAS NA REDE

AS MAIS LIDAS DA SEMANA