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sábado, 21 de julho de 2012

Falta de punição incentiva brigas de torcidas

A bola que rola e a bala que mata. Nunca antes no Brasil futebol e violência estiveram tão interligados, apesar dessa relação não ser direta. A partir de uma série de pesquisas, o sociólogo e coordenador do Núcleo de Sociologia do Futebol da Universidade Estadual do Rio (Uerj), Maurício Murad, 62 anos, faz um panorama desse grande mal do esporte mais popular do país no livro A Violência no Futebol (Editora Benvirá), publicação da coleção Para Entender.



Logo de cara, o autor faz questão de diferenciar a violência “no” futebol da violência “do” futebol. A primeira, mais grave, tem origem nos problemas sociais e em questões mais profundas, ao contrário da segunda, que se trata da rispidez nas jogadas.

“As práticas de violência mais graves tiveram início em meados dos anos 80. Entre 1969 e 1974, mais ou menos, as torcidas, em geral chamadas “jovens”,  foram se organizando, em padrões militarizados, sob a influência do militarismo vigente à época”, relembra Murad. 

Causas
Para ele, hoje em dia, o terror das organizadas acontece muito mais fora dos estádios, nos arredores, do que dentro, mas os frutos são terríveis, com vítimas que, na  maioria das vezes, não pertencem a esse tipo de torcida. “São grupos de delinquentes, violentos e que têm que ser contidos, mas são minoritários, entre 5% e 7% das organizadas”, pontua.

Para Murad, a violência tem origem em setores agressivos das organizadas, mas o poder público, a polícia e esferas do Judiciário também têm sua parcela de culpa, principalmente por um mal que não aflige apenas o futebol. “A impunidade é o grande fator que incentiva e propaga as causas da violência no futebol brasileiro”, acredita, utilizando números apresentados no livro. Segundo o autor, os próprios torcedores opinam que se ‘resolvem’ com a polícia, através de suborno, ou que os juizados em estádios os prendem apenas durante o jogo.

Para o sociólogo, hoje as organizadas já funcionam como uma espécie de máfia, não só no Brasil, como em todo o mundo: “Atuam como ‘famílias’ de ajuda mútua, exclusão do outro, domínio territorial e poder econômico garantido pela corrupção, inclusive de setores dos clubes, das federações e da polícia”.
Em A Violência no Futebol, o autor ainda mostra outras estatísticas que detonam como o terror nos estádios se tornou algo tão importante e que merece a atenção de todos. O Brasil é hoje o país onde mais se morre por conta da violência relacionada ao futebol.

Entre 1999 e 2008, foram 4,2 óbitos em média relacionados. E os números só pioraram em 2009 e 2010, com 9 e 12 mortes, respectivamente. As organizadas são formadas majoritariamente por homens e 71% dos integrantes estão desempregados ou na informalidade, o que denota o aspecto social do problema.

soluções
Esses números e os exemplos de combate à violência em outros países, notadamente na Europa, são mostrados como parte da solução para que se tenha dias de paz nos estádios. E o próprio esporte pode ajudar. Como? 
“Fazendo do combate à violência no futebol um exemplo para o país. Reduzindo a impunidade com medidas punitivas exemplares e a corrupção com medidas preventivas”, sugere Murad.  “É preciso responsabilizar os clubes, combatendo as ligações de muitos dirigentes com os torcedores agressivos”, diz. Enfim, a repressão, prevenção e reeducação são vitais para que a bandeira branca tremule mais forte no nosso futebol.


Ivan Dias Marques

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