A presidente Dilma Rousseff disse ontem em Fortaleza que a obra de transposição do São Francisco ‘está andando’. Na prática, contudo, o cenário é outro: rachaduras, remendos, mato e trabalhos em ritmo lento. A Folha percorreu nesta semana os dois canais da obra — o leste e o norte. Encontrou placas de concreto rachadas sendo remendadas, em vez de substituídas por novas peças.
A transposição ganhou recentemente contornos eleitorais. O presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) exibiu trechos abandonados no programa nacional do partido, o que levou Dilma a cobrar a aceleração das obras. Ontem, em Fortaleza, a presidente se referiu à obra mesmo sem ser questionada.
‘Também a interligação do São Francisco [está andando] antes que você fale para mim que a interligação está parada’, afirmou a jornalistas.
A conclusão prevista inicialmente para 2012, foi remarcada para dezembro de 2015. A construção dos 477 km de canais é a mais cara ação federal de combate aos efeitos da seca no Nordeste.
Agora são R$ 8,2 bilhões
O orçamento total pulou de R$ 4,6 bilhões para R$ 8,2 bilhões desde o início dos trabalhos, em 2007, durante o segundo mandato de Lula.
Em Floresta, no sertão pernambucano, uma imagem resume o cenário atual: num canal de concreto, vê-se a carcaça de um bode, animal resistente à caatinga, mas que não suportou a uma das piores secas dos últimos 60 anos.
Quando prontos, os dois canais levarão parte da água do São Francisco a rios e açudes de quatro Estados (CE, PE, PB e RN). Para que a água chegue de fato aos sertanejos, são necessárias adutoras, instaladas pelos Estados.
Em 2007, a obra só começou após o governo derrubar ações na Justiça que denunciavam impactos ambientais e negociar o fim da greve de fome de um bispo da Bahia.
Atrasos
A imprecisão dos projetos básicos exigiu novas licitações, renegociação de contratos e interrupção do serviço pelas empreiteiras. Os únicos trechos prontos são dois lotes feitos pelo Exército.
Quem toca a obra é o Ministério da Integração Nacional, até outubro comandado por Fernando Bezerra, indicado pelo provável candidato à Presidência e governador Eduardo Campos (PSB-PE).
Em quatro canteiros, há trabalho 24 horas: Salgueiro e Cabrobó, em PE, Jati, no CE, e São José de Piranhas, na PB.
Em geral, porém, o ritmo é lento nos locais onde a obra foi retomada. Operários ainda são contratados em cidades como Sertânia (PE).
(Folha de São Paulo )
CARLINO SOUZA
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