José Paulo de Assis Andrade mostra a lista de vestibulares em que foi aprovado (Foto: Mariane Rossi/G1)
Um estudante de Santos, no litoral de São Paulo, foi aprovado em 16 vestibulares mas, por causa de um sonho, desistiu de fazer a matrícula em todos eles. Aos 23 anos, José Paulo de Assis Andrade foi aprovado, neste ano, em cursos de algumas das universidades mais concorridas do país. Mas, na última hora, após ter prestado todos os vestibulares, o jovem relembrou uma história do passado e decidiu fazer medicina. Andrade se formou no Ensino Médio e passou a servir o Exército Brasileiro, no Batalhão de Infantaria Leve, em São Paulo. Ele acabou entrando na vida de militar porque não sabia qual carreira gostaria de seguir. A decisão também era uma forma de ajudar nas despesas de casa. Ele, porém, não sabia que o Exército Brasileiro traria experiências que passaria a lembrar para sempre, inclusive um caso em específico que mudaria sua vida.
Jovem no Exército Brasileiro (Foto:
José Paulo de Assis Andrade/Arquivo Pessoal)
Em 2011, o exército estava auxiliando os trabalhos de Pacificação do Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro. José Paulo estava entre as equipes que realizam o trabalho de patrulha em todo o morro da Penha. No meio da missão, os soldados se depararam com uma mulher em trabalho de parto, passando mal nas escadarias da favela. Eles levaram a gestante para uma casa tomada pelo Exército, que era utilizada anteriormente por traficantes de drogas. Em alguns minutos, José Paulo chegou ao local e foi direcionado para a missão de realizar o parto da moça. “Todo mundo que foi para a missão sabia que eu tinha dado instruções de primeiros socorros para o pessoal. Quando ela começou a ter contrações mais fortes eu comecei a fazer os procedimentos. Improvisamos um colchão, busquei alguma coisa para esterilizar o canivete que eu tinha, coloquei uma luva e comecei os procedimentos. Fiz o parto sem condição nenhuma. Cortei o cortão umbilical com canivete, preservei a parte intima dela com um pano de chão comprado na vendinha da frente e ela estava deitada em um colchão. Deu tudo certo. Levamos o bebê para o hospital e fizeram os outros procedimentos. Depois, fomos ver ele, vimos eles saindo do hospital. Foi um menino, João Gabriel”, conta ele.
Depois da experiência, ele soube que seu maior desejo era ser médico, poder realizar partos como aquele e ajudar vidas. Assim que voltou da operação de Pacificação no Rio de Janeiro, ele quis se desligar do Exército Brasileiro. Logo depois, entrou em um cursinho pré-vestibular em Santos, onde começou a estudar para fazer os testes e cursar medicina.
Para poder pagar os estudos, José Paulo teve que arranjar um emprego. ”Saí do batalhão, mas não pensei como eu ia me manter financeiramente porque minha família não tem condições. Fiz um curso de barman para poder trabalhar nos fins de semana e manter o cursinho e as inscrições para os vestibulares”, conta. Após um ano de dedicação, ele prestou dois vestibulares, mas não teve o desempenho necessário para entrar em uma faculdade. Mesmo assim, continuou os estudos.
No fim deste ano, João Paulo prestou 19 vestibulares e conseguiu passar em 16, sendo que a maioria deles era para estudar em faculdades públicas. Para ele, o bom desempenho é resultado de dedicação. “Eu estudava bastante, tinha todo um planejamento. Todas as matérias que a gente teve no dia a gente tinha que estudar no dia para não acumular e não deixar nada para trás. Também depende da metodologia da pessoa. E tem que ter um tempo para descanso”, afirma.
Em várias universidades, ele conseguiu passar utilizando a nota do Enem. “No ano passado a minha nota do Enem foi mediana. Neste ano, a minha nota aumentou 90 pontos”, diz. José Paulo recebeu a nota 670 na prova e 720 na redação do Enem.
O jovem ficou muito contente com o resultado dos vestibulares e pôde escolher entre uma grande variedade de universidades, em várias partes do país. Ele passou em sete faculdades para cursar Biologia, quatro em Enfermagem e uma em Ciências Naturais, Ciências do Mar, Zootecnia, Engenharia Ambiental e Fisioterapia. Porém, não passou direto em nenhuma das três faculdades de Medicina. Por isso, mesmo tendo passado em 16 vestibulares, José Paulo decidiu que não irá cursar nenhuma faculdade neste ano. “Eu prestei os vestibulares. Se não desse para eu entrar em Medicina, eu ia fazer um deles. Pensei que quando eu entrasse na faculdade de Medicina eu ia matar matérias. Sempre que eu passei, eu conversei com meus professores e eles falaram para eu ficar mais tempo no cursinho para estudar mais para medicina”, explica.
José Paulo ainda tem esperanças, já que está na lista de espera das três faculdades de Medicina. Enquanto isso, ele faz um curso de radiologista para se manter financeiramente, além do emprego de barman. “Se eu passar em medicina, mesmo em outra cidade, eu sendo radiologista, eu vou poder trabalhar nos fins de semana. Também já falei no meu emprego, vou trabalhar mais, ganhar um pouquinho melhor e poder viajar mais para fazer os vestibulares”, diz.
Enquanto isso, o jovem não larga os estudos. Segundo ele, o foco neste ano serão as disciplinas da área de exatas, que é o seu ponto fraco. “Eu vou prestar todos os vestibulares que aparecerem. Se tiver medicina eu vou prestar. Vou focar em medicina. Eu tenho 23 anos, para entrar em medicina é cedo, mas para a vida, para a sociedade é tarde. Eu me cobro muito. Eu queria estar trabalhando, estabilizado, como eu estava no batalhão, que eu tive que largar. Isso eu sinto falta. Mas eu aprendi a gostar de estudar”, afirma.
José Paulo de Assis Andrade estudando no cursinho pré-vestibular (Foto: Mariane Rossi/G1)
José Paulo de Assis Andrade estudando no cursinho pré-vestibular (Foto: Mariane Rossi/G1)
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