Por Evelyn RodriguesLas Vegas, EUA
A Comissão Atlética do Estado de Nevada suspendeu nessa quarta-feira, pelo período de dois anos, a licença do lutador Chael Sonnen. O americano, que foi considerado culpado pelo uso de cinco substâncias proibidas flagradas em dois testes antidoping surpresas, ainda terá que pagar pelos custos dos exames e da participação de um médico especialista na audiência, além de se comprometer em não lutar em nenhuma outra jurisdição durante a suspensão. O atleta também foi requisitado para trabalhar em conjunto com o órgão em um programa antidoping.
O lutador chegou cedo à sede da comissão, em Las Vegas, e conversou por alguns minutos com Vitor Belfort, que teve a sua licença concedida pela entidade no início da audiência. Acompanhado de seu advogado, Jeff Meyer, Sonnen fez pouco uso da palavra e ouviu o vice-procurador geral do órgão, Christopher Eccles, recomendar uma punição severa:
- O programa de teste de Nevada é efetivo e está impedindo trapaceiros de entrar no octógono. Hoje é dia do Sr. Sonnen assumir responsabilidade por trapacear e não se esconder por detrás de desculpas. Hoje é o dia de lhe conceder uma pena que sirva de exemplo.
O advogado do lutador, em seguida, afirmou que o lutador publicamente tem assumido responsabilidade pelo ocorrido e que, inclusive, anunciou a sua aposentadoria do esporte como parte dessa responsabilidade:
- Sentimos que seja importante que a comissão avalie as receitas médicas que ele recebeu, para assegurar que ele obteve esses remédios de forma legal. Quero ser claro que o Sr. Sonnen não está inventando desculpas para a violação, mas está aceitando a sua responsabilidade e sabe que, mesmo tendo uma receita, ao tomar o remédio ele está violando as regras da Wada e aceita as consequências. Peço que vocês olhem para os fatos. Sonnen não competiu com essas substâncias no organismo. Quando ele foi confrontado com o resultado do exame, aceitou a responsabilidade e não fugiu dela. As consequências de seus atos têm sido severas: sua carreira no UFC acabou e ainda foi demitido do cargo de comentarista e apresentador de uma emissora de TV.
Após a explanação de seu advogado, Sonnen se recusou a fazer comentários. A comissão então passou a discutir as ações do atleta, afirmando que ele teve sim a intenção de subir no octógono fazendo uso de substâncias ilícitas e que o que o impediu de fazê-lo foram os exames solicitados fora de competição. O lutador foi questionado sobre as justificativas apresentadas depois da divulgação do resultado do primeiro exame antidoping, em maio. Na época, ele alegou que estava fazendo tratamento de fertilidade porque ele e sua esposa estavam tentando ter um filho. O atleta então explicou que não pensou em solicitar uma isenção para poder fazer o tratamento. Em seguida, a comissão passou a questionar os motivos que o levaram a se consultar com três médicos diferentes para obter três receitas de remédios diferentes, mas com a mesma finalidade.
- Não são todos os médicos que fazem tudo. Eu não pensei nisso até você me perguntar agora - explicou Sonnen, passando a detalhar outras substâncias que lhe foram receitadas e como conheceu cada um dos médicos.
O atleta também deixou claro que não queria se defender:
- Eu estou muito cauteloso para conversar hoje. Não quero dizer nada que soe como defesa . Eu sou culpado, estou envergonhado e não quero me defender. Eu nunca fiz isso antes. Não entendo porque alguns médicos têm limitação e não podem prescrever remédios diferentes, mas isso acontece. Eu tenho foliculite, por exemplo, e não é todo médico que me fornece receita para isso.
A Comissão então pediu que um médico especialista analisasse cada uma das substâncias encontradas nos exames antidoping do lutador e ele passou a detalhar o funcionamento das drogas - os hormônios de melhora de desempenho EPO (eritripoetina) e GH (hormônio do crescimento), clomifeno, anastrozol, hCG (gonadotrofina coriônica humana), proibida por aumentar a massa muscular. Eles questionaram Sonnen por diversas vezes se ele havia tomado mais alguma substância, o que o lutador negou.
Perguntado sobre o que acha que a comissão poderia fazer para melhorar seu programa antidoping, o atleta deu a sua sugestão:
- Há muita confusão e eu espero que nós estejamos apenas conversando, não quero me defender. Para uma pessoa tomar uma medicação que não seja esteróide e assumir que isso é permitido é algo racional, mas não é. Eu sempre vi caras que vão para uma loja de suplementos e compram algo no balcão sem saber que estão violando as regras. Se alguém me perguntasse, eu diria: contanto que você não tome isso 30 dias antes da luta, está tudo bem. Digo 30 dias antes, porque a comissão nos pergunta isso por escrito. Eu nunca tive a opinião de médicos sobre as regras da comissão e eu me arrependo muito disso e me envergonho. Estou falando isso, porque sei que as pessoas estão assistindo. Só porque é legal, não significa que seja permitido. Eu acho que essa pergunta por escrito pode confundir as coisas para o lutador. Testes fora do período de competição são uma realidade hoje e eu sou culpado.
Convidado pelo órgão a contribuir com o programa, Sonnen se mostrou surpreso:
- Eu adoraria ajudar da forma como puder. O meu objetivo é sair limpo, do jeito que eu puder. Eu fui educado assim pelo meu pai, a não inventar desculpas. Eu ainda não entendo isso. Começando agora, a maioria das coisas que estou falando é que as pessoas não entendem que regras são regras e que você vai pagar o preço.
Antes do veredicto final, o vice-procurador geral voltou a dar o seu parecer sobre o caso:
- Ele só pode estar de brincadeira que alguém coloca uma seringa na sua veia com EPO e GH e que você não sabe o que é. Não acredito que esse caras não saibam o que é isso ou que tomar três injeções de três médicos diferentes é algo legal. Recomendo dois anos de suspensão, porque aí, se ele for para qualquer outra jurisdição, eles ainda saberão que ele ainda está sob suspensão por esta comissão.
Já o comissário Anthony Marnell voltou a defender que Sonnen fosse banido do esporte:
- Na minha opinião a intenção de trapacear estava lá desde o início. Nós tivemos a verdade roubada. Enquanto eu estiver nesta comissão, não posso votar a favor desse cara. Espero que ele não volte a lutar nunca mais. Sinto-me enganado.
Ao final da deliberação, a comissão votou por suspender a licença de Sonnen por dois anos e perguntou se ele estava de acordo com o restante das penas:
- Sim, estou de acordo e vou cumprir o que vocês determinarem - finalizou o atleta, que saiu da sala apressado e que não quis dar entrevista à imprensa.
Apesar de ter tido a licença suspensa, Sonnen ainda pode competir contra o brasileiro André Galvão no evento de luta agarrada Metamoris 4, que acontece no dia 9 de agosto em Los Angeles, EUA. Isso porque as regras da Comissão Atlética de Nevada não se aplicam a este evento.
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