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As centenas de fotos, recortes de jornais e pôsteres espalhados pelas paredes de uma salinha, situada embaixo da numerada do Anacleto Campanella, remetem a um tempo de glórias do São Caetano. Lembranças que Agostinho Folco, de 80 anos, fundador e presidente da famosa Bengala Azul, mostra com orgulho na sede da torcida. Mas um orgulho ferido, que nos últimos tempos tem se transformado em tristeza.
Quando o Azulão entrar em campo neste sábado, às 16h, fora de casa, contra o Duque de Caxias, fará sua última partida na Série C do Campeonato Brasileiro. O time já está rebaixado para a Série D. Sim, o clube – que no começo dos anos 2000 foi vice da Taça Libertadores, duas vezes do Brasileirão e campeão paulista – em 2015 jogará a Série A-2 do Paulistão – também caiu este ano – e a Quarta Divisão nacional.
Agostinho acompanhou de perto os grandes momentos do São Caetano. Viajou, comemorou e até ficou famoso por conta da torcida, formada apenas por idosos. Mas nos últimos anos isso deu lugar a um sofrimento, motivado por quedas e vexames, por enquanto sem fim. As alegrias estão só nas recordações. E as palavras dele não escondem isso.
Com olhar saudoso, Agostinho observa lembranças de uma época vitoriosa do Azulão (Foto: Fabrício Crepaldi)
– Sentimos muito, não é brincadeira o que estamos recebendo. Saíamos na rua com o orgulho de usar a camiseta do São Caetano, as pessoas perguntavam sobre o clube. Hoje temos que baixar a cabeça, porque em qualquer esquina que passamos somos criticados e humilhados. Mudamos do vinho para a água. Não tem como continuar dessa maneira – contou, indignado.
A Bengala Azul também não é mais a mesma. Apesar de ter mais de 600 associados, que ajudam a realizar festas e eventos na cidade, apenas 20 ou 30 costumam comparecer aos jogos. Mesmo assim, Agostinho garante que ela não acabará e nunca deixará de dar apoio ao Azulão. O que, no entanto, não diminuiu a revolta pela decadência do clube. Uma decadência para a qual ele não consegue encontrar motivos.
– A situação é precária. A cidade está sofrendo um trauma muito esquisito com esses rebaixamentos. O clube está abalando toda a estrutura da cidade. O povo quer que cheguemos novamente. É lamentável o clube que tem essa história, que há 12 anos era uma atração no mundo todo, estar nessa situação. Muitas vezes eu também me pergunto como isso está acontecendo – disse ele.
– A situação é precária. A cidade está sofrendo um trauma muito esquisito com esses rebaixamentos. O clube está abalando toda a estrutura da cidade. O povo quer que cheguemos novamente. É lamentável o clube que tem essa história, que há 12 anos era uma atração no mundo todo, estar nessa situação. Muitas vezes eu também me pergunto como isso está acontecendo – disse ele.
Agostinho e a memorabília do São Caetano: troféus, faixas de campeão, pôsteres e mais (Foto: Fabrício Crepaldi)
Agostinho Folco tem nos anos de glória a esperança para dias melhores no Azulão, como o vice da Libertadores de 2002 e o título paulista de 2004, considerados por ele os momentos mais inesquecíveis do clube. E por mais no buraco que o time esteja, ele afirma: nunca vai deixar de acreditar que um dia voltará a receber alegrias do clube de coração.
– A revolta nós sentimos porque temos um passado que nos consola. Nós tínhamos tudo aquilo, por que hoje não temos nada? Eu também não sei. Todo clube tem sua fase ruim, e nós estamos passando por ela. Creio que está acontecendo pela fase gloriosa que tivemos anos atrás. Eu penso "poxa vida, o clube foi tudo isso? Agora vamos castigar um pouco para nos reerguer". E vamos conseguir. Não vou perder a esperança – finalizou.
"Tragédia" e descaso
Se a torcida não consegue encontrar explicações para a situação do São Caetano, um ex-jogador que ajudou muito a construir a história positiva do Azulão é mais incisivo nas críticas. Morador da cidade e lateral-direito campeão paulista pelo clube em 2004, Anderson Lima vê a diretoria como responsável pelo momento que ele define como trágico.
– É culpa de má administração, falta de planejamento, uma coisa puxa a outra. Se a administração não é boa, o restante não rende. Quando as pessoas começaram a pensar no próprio umbigo, começou a cair. E eu fico muito triste com isso. Todos nós estamos abalados, porque chegou numa situação que no futuro pode até mudar, mas vai ser muito difícil. Para mim é muito triste. Ver um clube como o São Caetano, que conquistou tudo aquilo, nessa situação é uma tragédia – lamenta ele.
Hoje auxiliar na Chapecoense, Anderson Lima culpa diretoria por decadência do São Caetano (Foto: Fabricio Crepaldi)
Anderson é o único dos ex-jogadores de sucesso do Azulão que mora na cidade. Ele continua trabalhando com o futebol e é auxiliar do técnico Jorginho na Chapecoense. Mas poderia estar no próprio São Caetano, se a diretoria tivesse aceitado um projeto de "ajuda" dele e de outros ex-companheiros de clube. A reportagem do GloboEsporte.com tentou contato com o presidente Nairo Ferreira – o mesmo da época de títulos – e outros dirigentes, mas foi informada que nenhum deles falaria.
– A cidade é como os ex-atletas: não tem muita abertura para ajudar o clube. Eu e outros atletas que passamos por lá tentamos várias vezes ajudar de uma forma ou de outra, porque para você fazer um trabalho bom precisa profissionalizar o futebol. E o São Caetano não fez isso, não tem pessoas capacitadas para tocar o futebol. Tentamos trabalhar no futebol, ajudar a planejar um pouco mais, porque tivemos a experiência de ter vestido a camisa do São Caetano e soubemos tudo o que se passa lá dentro. Poderíamos ajudar trabalhando lá dentro – explica.
Mesmo com a negativa, Anderson Lima garante: nunca vai recusar uma ajuda ao Azulão. E acredita que um dia vai voltar a ver no clube aquilo que vivenciou dentro de campo.
– Sou identificado com o clube. Sempre quero ajudar. Mas infelizmente não temos essa chance. Esperamos um dia voltar e ajudar. Dá saudade em mim e em todos. As pessoas deixam de ver o São Caetano jogar para acompanhar o (esporte) amador de São Caetano. Se pessoas capacitadas trabalharem num futebol profissionalizado, é possível voltar a ser um clube sério e com profissionais que querem ajudar – completou.
O futuro já começou
O Azulão nem terminou a participação na Série C do Brasileiro, mas já apresentou o técnico para a próxima temporada: será Luis Carlos Martins, que ganhou o apelido de Rei do Acesso por ter subido de divisão mais de dez times na carreira. Ele já trabalhou no clube, em 1999, e assumirá de fato no fim deste mês.
Mesmo com a negativa, Anderson Lima garante: nunca vai recusar uma ajuda ao Azulão. E acredita que um dia vai voltar a ver no clube aquilo que vivenciou dentro de campo.
– Sou identificado com o clube. Sempre quero ajudar. Mas infelizmente não temos essa chance. Esperamos um dia voltar e ajudar. Dá saudade em mim e em todos. As pessoas deixam de ver o São Caetano jogar para acompanhar o (esporte) amador de São Caetano. Se pessoas capacitadas trabalharem num futebol profissionalizado, é possível voltar a ser um clube sério e com profissionais que querem ajudar – completou.
O futuro já começou
O Azulão nem terminou a participação na Série C do Brasileiro, mas já apresentou o técnico para a próxima temporada: será Luis Carlos Martins, que ganhou o apelido de Rei do Acesso por ter subido de divisão mais de dez times na carreira. Ele já trabalhou no clube, em 1999, e assumirá de fato no fim deste mês.
O objetivo do novo comandante é justamente esse. O primeiro passo será recolocar a equipe na Série A-1 do Paulistão, e Martins se mostra empolgado e esperançoso em reerguer o São Caetano.
– Nos últimos anos as coisas não foram bem aqui. Mas agora vamos pensar para frente, pensar em fazer as coisas bem para o São Caetano. Vamos virar essa página e pensar que tudo vai dar certo. Vamos fazer o possível, vou tentar tirar o máximo e montar um grupo vencedor. Para isso temos de estar unidos e respeitar a cidade – analisou.
– Nos últimos anos as coisas não foram bem aqui. Mas agora vamos pensar para frente, pensar em fazer as coisas bem para o São Caetano. Vamos virar essa página e pensar que tudo vai dar certo. Vamos fazer o possível, vou tentar tirar o máximo e montar um grupo vencedor. Para isso temos de estar unidos e respeitar a cidade – analisou.
Luis Carlos Martins, o Rei do Acesso: técnico é uma esperança na luta pelo reerguimento (Foto: Fabricio Crepaldi)
E a grande aposta do novo técnico é naquilo que foi construído nos tempos de vitórias, mas esquecido nos últimos anos.
– O São Caetano tem força, camisa, tradição, cidade, torcida, diretoria capacitada, um grupo de apoio bom. O time tem isso, mas por algum motivo as coisas não andaram bem em campo. Agora, com tudo isso, vamos fazer o que pudermos pelo clube para recolocá-lo em seu lugar – completou.
É o que esperam a Bengala Azul, Anderson Lima e todos aqueles que se acostumaram a ver o São Caetano brilhando entre os grandes do futebol brasileiro e até internacional.
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