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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Crise da Petrobras freia a economia do país

Estaleiro Brasa, em Niterói: economia do Rio pode ser a mais afetada pela crise da Petrobras. – Marcelo Carnaval / Agência O Globo

O impacto da crise de caixa da Petrobras, das denúncias da Operação Lava-Jato e do baixo preço do petróleo no mercado internacional já afetam a economia. Demissões, adiamentos e atrasos em projetos de investimentos já acontecem no país, em particular no Rio. No mercado, a atual letargia da estatal desperta medo e apreensão em empresas de toda a cadeia produtiva.
Em 2015, quando a estatal fará a revisão de seu plano de negócios, o cenário deve piorar. Segundo especialistas, o corte a ser feito pela Petrobras terá o efeito de uma locomotiva freando sobre os trilhos, afetando todos os vagões da economia do petróleo, podendo deteriorar a já combalida expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) de 0,69%, como indica pesquisa semanal realizada pelo Banco Central (BC) com bancos e corretoras de todo o país. Pior: segundo economistas, ela pode levar o Brasil até mesmo à recessão no próximo ano.
Os investimentos diretos da Petrobras e os indiretos (considerando fornecedoras e empresas da cadeia de petróleo) representam 3,2% do PIB, segundo cálculos de Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. A redução no aporte previsto pela estatal para 2015 pode chegar, de acordo com estimativas de especialistas, a R$ 40 bilhões, ou o equivalente ao orçamento de um ano e meio do Bolsa Família, calcula Rodrigo Zeidan, economista e professor da Fundação Dom Cabral. Dessa forma, o aporte total da companhia cairia para algo em torno de R$ 70 bilhões.
IMPASSE NOS CONTRATOS
Um corte dessa ordem, diz ele, seria consequência de uma série de fatores. O ano que vem, para Zeidan, será muito parecido com o de 2003: com baixo crescimento, queda no investimento e alta inflação. A Petrobras enfrenta problemas legais, casos de corrupção, dificuldade em captar recursos no exterior, perda de valor e falta de credibilidade no mercado. O resultado deve puxar o PIB para baixo:
- Os problemas do setor do petróleo podem afetar o PIB em até um ponto percentual. Como muitos economistas já previam alta de apenas 0,5% em 2015, o Brasil pode ter um resultado negativo – disse ele, levando em conta toda a cadeia de petróleo. – O Brasil pode, sim, entrar em recessão em 2015. Os sinais não são animadores, mas há chance de serem invertidos.
Para o presidente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Eloi Fernández y Fernández, o cenário é, de imediato, ruim. A conjuntura internacional, pondera ele, afetará a receita de todas as empresas do setor: renegociações de contratos e de preço serão incontornáveis. Para a Petrobras e para a indústria do Brasil, o impacto será pior, pois a estatal é uma espécie de cliente único do setor.
- O governo, o setor e a companhia têm que saber fazer uma análise crítica para buscar o caminho certo. É como um túnel com várias saídas. Em algumas delas há luz – destacou Fernández.
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse que não está definido o valor do corte no investimento, mas que a medida visa a “preservar o caixa” da empresa. Este ano, previa investir US$ 42 bilhões, mas até o momento não conseguiu publicar o balanço do terceiro trimestre. A companhia apura os valores relativos aos subornos registrados em projetos como os da Refinaria Abreu e Lima (PE) e do Comperj, no Rio, para reduzir de seus ativos.
- O investimento de 2015 será ligeiramente menor do que o de 2014, a princípio – destacou Graça, semana passada.
A Petrobras está preocupada em definir como fará com seus contratos atuais e futuros. Várias empreiteiras e estaleiros tiveram seus controladores envolvidos nas investigação da Lava-Jato. Sem solução para o impasse, a Petrobras não poderá fazer licitações e convocar essas empresas.
- A Lava-Jato traz incertezas em relação a alguns importantes players da indústria. Estamos olhando como isso se transforma em possíveis efeitos nos prazos (de entrega) das unidades. Procuramos compensar isso com aumento de produção em poços que possam ser conectados a plataformas existentes – disse José Formigli, diretor de Exploração e Produção da Petrobras.
Para o Rio, o impacto deve ser ainda maior. O setor de petróleo responde por quase 30% da economia fluminense e por 60% do total de investimentos previstos de 2014 a 2016. Já há demissões, sobretudo em empresas da cadeia do petróleo, como na indústria naval. O exemplo mais crítico é o do Estaleiro Brasa, em Niterói, que tem 50% de seu capital nas mãos da holandesa SBM, acusada de ter pago propinas a funcionários da Petrobras para obter contratos. Se encerrar as operações, pode ter que demitir 1.500 pessoas, criando um efeito cascata na economia da região.
- Nossa previsão anterior indicava que o investimento cresceria 2,4% no país em 2015, mas já reduzimos a previsão para 1,1%. Não descartamos até uma previsão de que os investimentos encolham pelo segundo ano. Isso é muito ruim, pois a Petrobras, sozinha, representa 10% dos investimentos – afirma Alessandra, da Tendências, que avalia, porém, que o ano não será de recessão, dada a expansão do consumo das famílias e o efeito positivo para a indústria da valorização do dólar.
Cláudio Frischtak, sócio da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, espera que 2015 tenha crescimento zero e inflação de 7%, mas diz que pode haver recessão com os problemas na Petrobras e nas empresas afetadas pela Lava-Jato:
- Estamos diante de um ano muito ruim, com expectativas de forte restrição orçamentária para um novo ajuste fiscal, um cenário externo em desaceleração e agora uma crise na Rússia.
No Parque Tecnológico da UFRJ, há receio sobre como a crise afetará a área de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
- A Petrobras investe mais de R$ 1 bilhão por ano em P&D. Tem forte atuação como elo entre empresas e universidades – alerta o diretor do parque, Maurício Guedes. – Virá corte em recursos, pela queda no preço do petróleo. No longo prazo, a tendência é de normalização.
Marcelo Nacif, gerente geral da Swires Oilfield Services, multinacional de equipamentos de transporte, diz que a dúvida é sobre que perfil a Petrobras terá:
- Se for a Petrobras atual, lenta, enfraquecida e com credibilidade abalada, será difícil. Se tivermos uma empresa reinventada, haverá melhora. Será preciso discutir regras emvigor.
O Globo

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