HAVANA, Cuba — Ter acesso à internet em Cuba é um luxo para poucos. Uma hora de conexão custa cerca de US$ 9, sendo que o salário médio no país equivale a US$ 16 mensais, relata a colunista do GLOBO Cora Rónai. Mas isso não impede que jovens cubanos usem o computador para conversar com amigos, compartilhar informações ou disputar jogos on-line. Com poderosas antenas Wi-Fi e cabos ethernet, eles criaram uma rede — local e limitada — que reúne mais de 9 mil computadores em Havana.
— Nós realmente precisamos da internet porque existe muita informação on-line, mas isso ao menos nos satisfaz um pouco, porque estamos conectados com um monte de pessoas, conversando, trocando arquivos — disse à Associated Press Rafael Antonio Broche Moreno, engenheiro elétrico de 22 anos que ajudou a montar a rede conhecida como SNet, abreviação de StreetNet.
A infraestrutura não é das melhores, com cabos distribuídos sobre os telhados das casas, mas foi toda montada pelos próprios jovens com equipamentos comerciais e sem ajuda externa, garantem os organizadores.
Centenas de pessoas estão conectadas em qualquer hora do dia, seja jogando games como “World of Warcraft” e “Call of Duty”, contando piadas ou trocando arquivos em canais de bate-papo e até organizando eventos no mundo real, como festas e idas à praia.
Tecnicamente, a SNet é ilegal, já que o governo proíbe o uso de equipamentos Wi-Fi sem a licença do Ministério das Comunicações. Contudo, diz Moreno, existe um entendimento tácito que garante o funcionamento da rede, desde que ela respeite as leis cubanas. A SNet possui administradores voluntários monitoram a rede para evitar pornografia, discussões políticas e conexões ilícitas à internet.
— Nós não somos anônimos porque o país sabe que esse tipo de rede existe. Eles precisam proteger o país e sabem que 9 mil usuários podem ser colocados para qualquer propósito — disse Moreno. — Nós não mexemos com ninguém. Tudo que queremos é jogar, trocar ideias saudáveis. Nós não tentamos influenciar o governo ou o que está acontecendo em Cuba. Nós fazemos a coisa certa e eles nos deixam mantê-la.
Violações às regras podem levar a sanções que vão desde a suspensão por um dia ao banimento. Infrações menores, como a troca de arquivos pesados fora dos horários recomendados (o que torna a rede lenta), causam suspensão, mas casos mais graves, como a distribuição de pornografia, levam ao banimento.
— Os usuários demonstram muito respeito para preservar a rede, porque é a única que eles têm — contou Moreno. — Mas eu e outros administrados estamos sempre vigiando para garantir que a rede faça o que ela propõe.
INFRAESTRUTURA IMPROVISADA
Cuba é conhecido pelo alto grau de instrução de sua população, mas sem recursos por causa do embargo, muitas vezes é preciso improvisar. Criada em 2001, a SNet é um exemplo do grau de sofisticação da engenharia de telecomunicações caseira.
A rede consiste em uma série de nós, com poderosos computadores e poderosas antenas Wi-Fi, que distribuem o sinal para redes menores, cada uma com até uma dúzia de computadores em uma vizinhança.
A SNet foi criada em 2001, com não mais que dez pessoas, e agora possui mais de 9 mil computadores conectados. Diariamente, ao menos 2 mil usuários fazem uso da rede.
Além dos jogos e dos bate-papos, a rede é bastante usada para assistir filmes e programas de TV. A SNet também possui uma cópia da Wikipedia atualizada constantemente por usuários com acesso à internet e uma versão de rede social que funciona como o Facebook.
Moreno estima em US$ 200 o custo para equipar um grupo de computadores com antenas e cabos necessários para um novo nó, o que significa que toda a rede custou cerca de US$ 200 mil. O país possui outras redes similares, mas menores, em outras cidades e províncias.
A reaproximação entre entre Cuba e os EUA tem nas telecomunicações um dos pontos centrais de discussão. O governo local culpa o embargo comercial pela falta de infraestrutura, já que empresas americanas não podem operar no país e o estrangulamento econômico impede que a ilha busque por soluções em outros mercados. Por outro lado, a administração de Obama aposta que a entrada de gigantes da tecnologia na ilha vão aumentar o acesso à internet e levar os cubanos a exigirem maior independência do Estado.
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