Leandro Salino em ação pelo Olympiakos: tensão vira violência nos clássicos (Foto: Getty Images)
O campo do estádio Apóstolos Nikolaidis no clássico de Atenas entre os anfitriões Panathinaikos e o Olympiacos, no último domingo, foi palco de um confronto entre torcedores do clube da casa e policiais. Como pano de fundo à fumaça das bombas de efeito moral arremessadas por um lado e os pedaços de paus e pedras lançados do outro, uma enorme faixa com a palavra "guerra", em inglês - um sinal claro de que o ocorrido não foi mero acaso. Mais do que isso: é uma rotina nos dérbis do futebol grego, na opinião do meia brasileiro Leandro Salino, ex-Flamengo, que atuou na polêmica partida, vencida pelos anfitriões por 2 a 1.
Leandro faz apenas sua segunda temporada na equipe grega, mas diz que já tem vivência o suficiente no país para não se assustar com a agressividade dos torcedores em jogos entre rivais. As cenas vistas no domingo, para ele, já eram esperadas, uma vez que a postura de alguns fãs nas arquibancadas não se altera.
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- Medo não dá, porque não é a primeira vez. A gente já vai para os jogos na casa de Panathinaikos e PAOK mais ou menos preparados. Esse tipo de jogo não pode ser chamado de um jogo de futebol. Para eles, é como se fosse uma guerra. Não para os jogadores, mas para os torcedores. Eles vão para uma luta mesmo, para o que que der e vier. Os jogadores não, mas os torcedores, sim. Foi um confronto que não dá para imaginar. Os jogadores novos ficam assustados, mas quem está lá há mais tempo já não fica. Não dá medo, só aquela apreensão de ser atingido por alguma bomba, algo que passe perto - disse em entrevista por telefone ao GloboEsporte.com.
"Guerra": com faixa provocativa ao fundo, torcedores invadem o gramado (Foto: Divulgação / Site Oficial)
Tudo começou quando o elenco do Olympiacos apareceu pela primeira vez no campo para uma espécie de reconhecimento do gramado, molhado por causa da chuva. Os jogadores, porém, foram expulsos por uma chuva de objetos que atingiu o meia Kasami e um membro da comissão técnica.
- Quando entramos no campo para ver como estava o gramado, porque estava chovendo muito, fomos recebidos com vários foguetes, copos, isqueiros. E aí começaram a invadir, os policiais vieram, e nós entramos para o túnel novamente. Durante o jogo foi tranquilo, o problema é que sempre que íamos bater um escanteio, um lateral, eles começavam. Tinha que parar de cinco em cinco minutos, tinha muita fumaça... Isso não é um jogo de futebol - relatou Salino.
- Quando entramos no campo para ver como estava o gramado, porque estava chovendo muito, fomos recebidos com vários foguetes, copos, isqueiros. E aí começaram a invadir, os policiais vieram, e nós entramos para o túnel novamente. Durante o jogo foi tranquilo, o problema é que sempre que íamos bater um escanteio, um lateral, eles começavam. Tinha que parar de cinco em cinco minutos, tinha muita fumaça... Isso não é um jogo de futebol - relatou Salino.
Vítor Pereira, de gravata, foge em meio à fumaça após invasão de torcedores (Foto: Reprodução / Site Oficial)
A tensão diante do perigo de agressões começou no caminho até o estádio. Segundo Salino, o difícil acesso ao local força que as ruas sejam esvaziadas temporariamente e envolve cerca de 500 policiais para conter a ira dos torcedores - sufoco que o brasileiro garante que não é passado pelos atletas da equipe rival quando jogam na casa do Olympiacos, o Georgios Karaiskáki, que é mais moderno e conta com estrutura para receber partidas de Liga dos Campeões.
- Não entendo como a Fifa aprova um estádio daqueles. Se a gente fizesse 1 a 0, o jogo não terminaria. Com certeza iriam paralisar com uns 80 minutos, eles iriam invadir. Para sair demora, ficamos uma hora, uma hora e pouco dentro do vestiário para poder sair. Tem que esvaziar as ruas, ainda mais porque ontem (domingo) eles ganharam, aí ficaram fazendo aquela festa ali na frente. E no ano passado, quando ganhamos de 1 a 0, demoramos quase duas horas, pois a torcida invadiu o campo. Foi a mesma correria. Já é rotina quando a gente vai no campo deles. Modéstia à parte, nossa equipe é a maior, tem a maior torcida. Só que nossa torcida respeita. A torcida deles fica nervosa, aí quando a gente vai lá, eles querem nos machucar. Se pudessem pegar um jogador para bater... Não sei como a Fifa não faz nada diante disso - desabafou.
- Não entendo como a Fifa aprova um estádio daqueles. Se a gente fizesse 1 a 0, o jogo não terminaria. Com certeza iriam paralisar com uns 80 minutos, eles iriam invadir. Para sair demora, ficamos uma hora, uma hora e pouco dentro do vestiário para poder sair. Tem que esvaziar as ruas, ainda mais porque ontem (domingo) eles ganharam, aí ficaram fazendo aquela festa ali na frente. E no ano passado, quando ganhamos de 1 a 0, demoramos quase duas horas, pois a torcida invadiu o campo. Foi a mesma correria. Já é rotina quando a gente vai no campo deles. Modéstia à parte, nossa equipe é a maior, tem a maior torcida. Só que nossa torcida respeita. A torcida deles fica nervosa, aí quando a gente vai lá, eles querem nos machucar. Se pudessem pegar um jogador para bater... Não sei como a Fifa não faz nada diante disso - desabafou.
Objetos atirados em direção ao banco assustam e ferem jogadores do Olympiacos (Foto: Reprodução / Site Oficial)
Leandro Salino não hesita em comparar a atuação violenta dos torcedores com os grupos organizados do futebol brasileiro que entram em confronto antes e depois de clássicos, como noduelo entre Fluminense e Vasco, também no domingo. No futebol grego, os jogos de torcida única também foram implementados para evitar episódios mais sangrentos - mas Salino acredita que a federação local, com a ajuda da Uefa e da Fifa, deveria tomar ações mais enérgicas e abrangentes.
- É como se fosse algumas organizadas no Brasil. Quando a gente vai jogar no campo deles só tem a torcida deles, pois se fossem as duas, ia ter muita briga, coisas piores. Isso para mim não é fanatismo, não é torcida. É uma cambada de vândalos. A torcida vai para apoiar o time, mas, caso vá mal, eles viram para o outro lado. Acho que falta organização aqui no país. E a Uefa tinha que ter os olhos mais abertos para isso. Nosso presidente diz que briga por isso sozinho. A Liga Grega não pune os times. Isso atrapalha. Nosso presidente falou isso, que a Grécia tem que progredir com relação à segurança. Como a gente vai jogar? Querendo ou não, o jogador não foca totalmente na partida. Temos família. Por mais que a gente tente, não consegue. Tomara que (a solução) seja breve, porque gosto do país, do Olympiacos, da nossa torcida. Seria bom para o futebol, para o país - concluiu.
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