A informação veio de pessoas que participaram da organização da Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, e que garantem que Valcke terá apoio maciço do continente, bem como de boa parte da AFC (Ásia), da Conmebol (América do Sul) e Concacaf (América do Norte e Central) - justamente a base aliada de Blatter. Ele seria o único capaz de manter o atual "status quo". É o aliado que conhece a forma de operar da entidade, tem excelentes relações com muitas federações nacionais, e é em quem essas federações confiam que não deixará mudar o atual sistema que vem sendo colocado em xeque pela mídia e autoridades internacionais.
Apesar de toda a mídia negativa que essa escolha pode gerar, há três motivos principais para a estratégia: Valcke sabe os segredos de Blatter, e vice-versa; qualquer outro nome que assumir possivelmente abrirá as portas para as autoridades americanas, como forma de tentar começar do zero; e qualquer outro nome que não seja o do número dois na hierarquia atual da entidade colocará em risco a realização dos Mundiais na Rússia e no Catar. Este último ponto é uma séria ameaça aos dois dirigentes, pois fatalmente transformaria esses dois países em novos inimigos e provavelmente iniciaria uma nova rodada de escândalos com o vazamento de documentos mostrando a possível compra de votos que é investigada por americanos, suíços e até australianos.
Um indicativo claro da força de Valcke e de sua relação de cumplicidade com Blatter é o escândalo envolvendo a troca de patrocinadores da Copa do Mundo - saiu a Mastercard, entrou a Visa, que fica "pelo menos até 2022", por coincidência. Afastado em dezembro de 2006 do cargo de diretor de marketing, que ocupava desde 2002, o francês retornou meses depois como secretário-geral.
A Mastercard levou o caso aos tribunais e obteve da Fifa uma indenização de US$ 90 milhões. Valcke teria mentido às duas empresas nas negociações e foi afastado ao lado de outros três funcionários. Mas voltou, e com mais força. Vale lembrar que, em fevereiro de 2007, ainda fora da Fifa, Valcke passou a prestar serviços de consultoria à CBF na montagem do projeto para que o Brasil fosse sede da Copa de 2014. A relação é próxima. Sebastién Valcke, filho do secretário-geral da Fifa, trabalha na entidade brasileira.
A única ameaça real entre os possíveis candidatos é o também francês Michel Platini, mandatário da Uefa, e que tem apoio em bloco dos europeus - à exceção da Rússia e possivelmente mais um ou dois países. Só que isso significa que tem em torno de 50 votos entre os 209 possíveis. Considerando mais algumas dissidências, como os Estados Unidos e o Canadá na Concacaf, e o Chile, na Conmebol, teria, em ordem de grandeza, a mesma quantidade de votos que o príncipe Ali bin Al-Hussein, da Jordânia, obteve na eleição da última semana. Suficiente para fazer barulho, mas não para mudar a estrutura da entidade e expor seus segredos mais protegidos.
Uma pessoa, porém, pode destruir os planos de Joseph Blatter: o ex-presidente da Concacaf e ex-vice-presidente da Fifa, Jack Warner. Ele afirmou em pronunciamento nesta quinta-feira que teme por sua vida, mas sabe porque Blatter desistiu do mandato - e não pretende ficar calado. De acordo com fontes ligadas à entidade, no dia do seu pronunciamento que surpreendeu o mundo da bola, Blatter teria sido avisado de que as investigações americanas estavam fechando o cerco sobre ele e, se não houvesse uma transição em andamento, os danos à Fifa como instituição, e não apenas aos seus dirigentes, poderiam ser irreparáveis. Resta agora saber o calibre da munição que Warner tem contra Blatter e Valcke e até aonde está disposto a ir para amenizar as acusações que pesam contra ele.
Errata: ao contrário do que foi informado inicialmente, a indenização paga pela Fifa à Mastercard foi de US$ 90 milhões e não de US$ 60 milhões.
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