Há um ano, Copa do Mundo começava no Brasil (Foto: Marcos Ribolli)
O que 365 dias e uma Copa do Mundo podem mudar na carreira de um jogador de futebol? Um craque com apoio absoluto pode se tornar um reserva sob forte desconfiança. Um jovem promissor pode virar estrela de um dos maiores clubes do planeta. O vilão de uma torcida pode ser exaltado como herói da outra, e a derrota dolorosa pode inspirar o triunfo histórico no futuro. Trezentos e sessenta e cinco dias e uma Copa do Mundo podem transformar a carreira de um jogador de futebol - para o bem e para o mal.
No grupo de 736 jogadores que se apresentaram nas 12 sedes do Mundial no Brasil, há aqueles que protagonizaram transferências milionárias para gigantes europeus, os que conseguiram vaga em uma equipe mais abastada em seu país ou os que seguiram no mesmo lugar. O GloboEsporte.com analisou a trajetória dos astros no último ano, indicando quem está em alta ou em baixa comparado àquele 12 de junho de 2014, em que Brasil e Croácia protagonizaram a abertura da Copa na Arena Corinthians.
MESSI, NEYMAR E SUÁREZ PUXAM GRUPO EM ALTA
Lionel Messi pode ter encerrado a Copa do Mundo de forma melancólica, com uma derrota para a Alemanha na prorrogação da grande final no Maracanã - mas, hoje, o camisa 10 argentino vive dias muito mais felizes do que há um ano. O grande astro da seleção de Alejandro Sabella chegou ao Mundial com a moral abalada, depois de não conquistar nenhum título importante com o Barça, conviver com críticas inéditas desde seu início no Barcelona e ver o nome de sua família envolvido em uma polêmica fiscal na Espanha. Para completar, o rival Cristiano Ronaldo já havia lhe tomado a Bola de Ouro meses antes e acabara de consagrar-se com o décimo título europeu do Real.
Mas foi no Brasil que o quatro vezes melhor jogador do mundo reencontrou o sorriso. Logo na estreia, marcou um golaço; depois, decidiu contra Irã e Nigéria. Foi fundamental para que os argentinos chegassem ao vice-campeonato. Com tal desempenho, retornou para o Barcelona certo de que poderia voltar a assombrar o mundo - e o fez. Acompanhando de Neymar e Suárez no ataque, marcou 58 gols na temporada, deu 28 assistências, deixou adversários no chão, marcou golaços e protagonizou a segunda Tríplice Coroa da história do Barça.
Companheiro de clube do argentino, Neymar mudou de patamar em um ano. Se no começo da Copa do Mundo o atacante já era valorizado como principal esperança brasileira, hoje ele é capitão da Seleção e um forte candidato a estar entre os três finalistas da Bola de Ouro. Tudo começou no 12 de junho passado, quando o camisa 10 fez dois gols na vitória sobre a Croácia, na abertura do Mundial. Vieram mais dois gols e boas atuações até a joelhada de Zúñiga, que o tirou do Mundial nas quartas de final.
No Barcelona, depois de seis meses de adaptação e lampejos de um grande jogador, Neymar se consolidou. Hoje é ídolo da torcida e faz o número 11 ganhar força perto do consagrado 10 de Messi - é o preferido de muitos. Graças ao seu papel decisivo em muitos jogos (como no primeiro clássico da temporada), aos 39 gols marcados (com artilharia da Copa do Rei e da Liga dos Campeões) e à amizade entrosamento com os outros membros do tridente.
Novato do trio que conquistou a Europa, Suárez viveu a famosa montanha-russa nos últimos 365 dias. Candidato a craque da Copa depois de levar a Chuteira de Ouro europeia com a temporada no Liverpool (mesmo tendo realizado uma cirurgia no joelho), fez jus à expectativa quando arrancou, com dois gols, uma vitória sobre a Inglaterra e deixou o Uruguai vivo na fase de grupos. Porém, perdeu a cabeça ao morder Chiellini no jogo seguinte, em um ato que o perseguiria e o faria ficar sem poder exercer a profissão por meses.
Apesar de toda a desconfiança em torno do atacante, o Barcelona apostou nele e o anunciou como reforço ainda antes da final da Copa. Deu certo: embora só tenha estreado em outubro, Suárez entrou no time e completou o ataque sul-americano não só com seu faro de gol, mas com grandes atuações como garçom. Teve o ano difícil coroado com um gol decisivo na final da Champions.
Messi, Neymar e Suárez: trio do Barça tem ano de consagração (Foto: Reprodução / Facebook)
Mas não foi só o Tridente que subiu degraus desde a abertura da Copa do Mundo. A campeã Alemanha teve Toni Kroos como a grande sensação do torneio, fazendo com que o Real Madrid logo buscasse a sua contratação por € 30 milhões. O volante ganhou a titularidade imediatamente, agradou a torcida e consolidou-se como um dos grandes nomes da posição em todo o futebol mundial. Com sua eterna mania de grandeza, o Real Madrid também agiu rápido para deter a grande revelação do Mundial. Antes um jogador promissor que tinha boas atuações no Monaco, James Rodríguez comandou a Colômbia com sua categoria e golaços - inclusive o eleito vencedor do Prêmio Puskás, marcado no Maracanã, contra o Uruguai. Tornou-se um ídolo nacional em seu país e custou € 80 milhões ao Real, onde chegou e também se consolidou rapidamente.
No grupo das revelações, houve espaço até para a Argélia. O atacante Brahimi já chegou ao Mundial considerado a grande promessa do país africano, mas enfrentou desconfiança do treinador. Logo ganhou a posição, chamou a atenção com sua velocidade e habilidade, sendo contratado pelo Porto. Deu grande força ao ataque dos Dragões e marcou seis gols na Liga dos Campeões.
James Rodríguez foi contratado pelo Real Madrid a peso de ouro após a Copa (Foto: Agência EFE)
Outro jovem que roubou a cena foi holandês Memphis Depay, que chamou a atenção já na Copa e voltou para o PSV como craque do time. Foi artilheiro do Campeonato Holandês com 22 gols e ajudou na conquista do título após jejum de sete anos - e, com isso, garantiu a contratação pelo Manchester United por € 27,5 milhões.
O croata Iván Rakitic conseguiu ganhar ainda mais moral no futebol europeu, pois foi de capitão do título do Sevilla na Liga Europa a titular absoluto e autor de um dos gols do Barcelona na final da Liga dos Campeões. O espanhol Fàbregas deu a volta por cima, depois de deixar o Barcelona por falta de espaço no time titular, se tornando um dos principais nomes do Chelsea na conquista da Premier League - mesmo depois do fracasso da Roja ainda na fase de grupos da Copa do Mundo.
Companheiro de equipe de Cesc, o belga Hazard também subiu no último ano, sendo eleito o melhor jogador do Campeonato Inglês e garantindo a renovação com os Blues. Também na Inglaterra, o chileno Alexis Sánchez desabrochou no Arsenal, e o marfinense Bony chamou a atenção na Copa das Nações Africanas, deixando o Swansea para se juntar ao City. E o zagueiro Smalling melhorou seu desempenho no Manchester United e se tornou titular da seleção inglesa.
Já no vice-campeão europeu Juventus, Pogba tornou-se um dos nomes mais cobiçados do mercado e viu seus compatriota Evra voltar a ter uma boa temporada. Chiellini - alvo da mordida de Suárez - consolidou-se um dos grandes zagueiros do continente.
Argelino Brahimi se destacou com a Argélia e foi para o Porto (Foto: Reuters)
DI MARÍA E BALOTELLI DECEPCIONAM
O início da Copa do Mundo no Brasil também marcou o começo de um ano difícil para muitos atletas. Até mesmo quem teve boa atuação no Mundial não se escapou de terminar 2014/15 em baixa, como Ángel di María. O argentino chegou àquele 12 de junho do ano passado como nome fundamental do Real Madrid na conquista da Liga dos Campeões e um dos astros da Argentina no Mundial. O bom desempenho em terras brasileiras não bastou para que Florentino Pérez quisesse mantê-lo em Madri, e o jogador foi com toda a pompa para o Manchester United - como a contratação mais cara do futebol inglês na história, comprado por € 75 milhões.
Entretanto, a trajetória que começou de forma promissora, com três gols em cinco jogos, terminou pouco animadora. A partir de dezembro, Louis van Gaal começou a colocar o argentino no banco em algumas partidas, e o desempenho ruim o fez acabar a temporada sem moral. Em sete dos últimos oito jogos da temporada, começou no banco e somou apenas 137 minutos (média de 19,5 por jogo). No jogo de encerramento da Premier League, ganhou chance entre os titulares, mas ficou em campo por apenas 23 minutos, sendo substituído por lesão.
Di María terminou temporada como reserva no United(Foto: Getty Images)
Na seleção brasileira, alguns jogadores também não tiveram bons dias desde que entraram em campo contra a Croácia na abertura do Mundial. Bernard deixou o Atlético-MG e foi para o Shakhtar com status de promessa, mas logo iniciou um relacionamento conturbado com o treinador Mircea Lucescu. Não conseguiu se consolidar na equipe ucraniana e marcou apenas dois gols nos 23 jogos realizados. Assim, perdeu seu lugar na seleção brasileira desde a chegada de Dunga.
Titular em cinco dos sete jogos do Brasil na Copa, o volante Paulinho teve uma temporada para lá de discreta no Tottenham. Usado desde o começo em apenas 14 dos 30 jogos realizados no ano, ele somou 1381 minutos (média de 46 por jogo), marcando dois gols. Na reta final de 2014/15, só entrou em campo em quatro dos nove últimos jogos dos Spurs, sendo titular em dois deles.
Quem chamou a atenção pela diferença em seu desempenho com relação à última temporada foi Yaya Touré. Antes considerado o grande craque do meio de campo do Manchester City campeão inglês em 2013/14, o marfinense - que não fez uma Copa do Mundo muito chamativa - não mostrou o mesmo papel de meia artilheiro e fez 12 gols em 38 jogos (contra 24 tentos no ano anterior). Sua importância no time foi mais discreta do que em 2013/14, assim como sua badalação no mercado de transferências.
Campeões mundiais com a Alemanha, Khedira ePodolski deixaram a desejar. O jogador do Real Madrid sofreu com os problemas físicos mais uma vez e foi utilizado apenas 17 vezes na temporada, no meio de campo concorrido do elenco merengue. Com isso, não teve seu contrato renovado e foi para o Juventus em transferência livre. O atacante - que chamou a atenção por sua relação intensa com os brasileiros no Mundial - teve pouco espaço no Arsenal e foi contratado pelo Inter de Milão em janeiro, como uma das soluções para o ataque. Porém, dois meses depois, passou a figurar no banco de reservas, emplacando uma sequência de nove partidas sem ser titular na reta final do Campeonato Italiano.
Bernard teve começo conturbado no Shakhtar e perdeu vaga na Seleção (Foto: Divulgação / Site Oficial do Shakhtar)
Contratado junto a Podolski para reforçar o Inter, o suíço Shaqiri também não conseguiu se consolidar no futebol italiano. Apesar das boas atuações na Copa e nos amistosos com a seleção suíça, o ex-jogador do Bayern de Munique deixou os torcedores nerazzurri insatisfeitos e ficou na reserva em sete dos último oito jogos da temporada. O uruguaio Diego Forlán também não agradou no Cerezo Osaka, do Japão, e não teve seu contrato renovado, ficando sem clube.
O ano desde a abertura da Copa também não foi proveitoso para alguns artilheiros. Van Persie, que começou o Mundial com um golaço de cabeça na goleada holandesa sobre a Espanha, perdeu seu posto de titular absoluto no Manchester United - mesmo sendo treinado pelo velho conhecido Louis van Gaal. O atacante foi reserva em quatro dos últimos sete jogos do ano e vem tendo sua saída do Old Trafford especulada. Enquanto isso, o italiano Mario Balotelli se aventurou novamente no futebol inglês, mas viveu dias ruins no Liverpool, onde marcou apenas quatro gols em 28 jogos, nos quais começou como reserva em 14 oportunidades.
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