Sequência de fotos mostra que cassetete de PM quebrou durante agressão a estudante, em Goiás (Foto: Arquivo pessoal/Luiz da Luz)
A agressão contra Mateus ocorreu no início da tarde de sexta-feira (28), durante manifestações e greve geral realizadas em Goiânia, e já tinha sido registrada em vídeo. Um grupo de mascarados entrou em confronto com policiais militares, quando o estudante foi atingido pelo golpe e ficou caído no chão. O agente saiu correndo e o rapaz recebeu os primeiros socorros de outros manifestantes.
O estudante foi levado para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). De acordo com o boletim médico, divulgado no início da tarde deste sábado (29), o rapaz segue sedado e intubado. Ele sofreu traumatismo cranioencefálico (TCE) e múltiplas fraturas. Ainda não há previsões de cirurgia.
A família de Mateus mora em Osasco, na Grande São Paulo. A mãe dele e um irmão devem chegar a Goiânia nesta tarde para acompanhar o rapaz. Enquanto isso, amigos do estudante passaram a noite na recepção do hospital, já que apenas os familiares podem visitá-lo.
Enquanto esperam por notícias, amigos deixaram cartazes na porta do hospital para homenagear Mateus. Nas mensagens, eles desejam a rápida recuperação do rapaz e pedem que o caso seja devidamente apurado.
Na sexta-feira, amigos do rapaz, que preferiram não se identificar, disseram à TV Anhanguera que ele estava sem máscaras e não participou de nenhum ato de vandalismo durante o protesto. Porém, antes da agressão, é possível ver que o estudante estava sem camisa perto dos policiais. Momentos depois, ele aparece com um capuz e parte do rosto encoberto, junto a um grupo de manifestantes mascarados.
Repúdio
O reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Orlando Amaral, também esteve no hospital nesta manhã em busca de informações sobre o estado de saúde do estudante. “Ele está na UTI, o estado dele é grave, mas estável, não há febre, e agora vai ser analisado do ponto de vista neurocirúrgico, para ver da necessidade, ou não, de uma intervenção cirúrgica”, disse à TV Anhanguera.
Mais cedo, a UFG, onde Mateus cursa o 3º período de ciências sociais, já tinha divulgado uma nota repudiando a agressão. No hospital, o reitor voltou a criticar a postura da PM. “Ele estava lá junto com dezenas, centenas, milhares de outros estudantes, professores, a comunidade, a população em geral, e não se justifica uma atitude como essa, uma violência tão desproporcional, em uma situação que obviamente demandava uma postura diferente da polícia, que é o que nós esperamos”, disse o reitor.
A Polícia Militar não quis se manifestar sobre as falas do reitor da UFG nesta manhã, mas reafirmou que “o Comando da PMGO condena veementemente todo e qualquer tipo agressão, praticada por policias militares no exercício de sua função, não compactuando com atos que possam afrontar os princípios da ética, moral e legalidade”.
Ainda segundo a nota, “diante das imagens que circulam em redes sociais, que mostram a clara agressão sofrida por Mateus Ferreira da Silva, quando da intervenção policial militar, o Comandante Geral da Polícia Militar, Coronel Divino Alves de Oliveira, determinou a imediata abertura de Inquérito Policial Militar pela Corregedoria-PMGO com o objetivo de individualizar condutas e apurar responsabilidades”.
Ainda no comunicado, a PM afirma que quatro policiais militares foram feridos durante o confronto e foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para serem submetidos a exames de corpo de delito.
Já a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) informou que condena as agressões sofridas por Mateus e que atos como este "ferem a ética da corporação e das demais forças que compõem a Segurança Pública, cuja missão é proteger vidas e jamais atentar contra qualquer cidadão".
O comunicado destaca ainda que a "exigência de imobilização de eventuais manifestantes nunca justificará a transgressão de limites". Por fim, pontua que, se confirmado autoria, a SSPAP será "rigorosa na punição administrativa e no encaminhamento para a esfera judiciária".
Protesto
O protesto em Goiânia começou às 8h de sexta-feira, em frente a Assembleia Legislativa de Goiás, no Setor Oeste. Às 10h10, os manifestantes começaram a caminhar em direção à Praça Cívica. De lá, seguiram para a Praça do Bandeirante, também no Centro. Segundo os organizadores, 30 mil pessoas participaram. Já a Polícia Militar não divulgou o número de manifestantes.
Participaram da manifestanção entidades como a Central Única de Trabalhadores (CUT), Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde), Sindicato dos Policiais Civis de Goiás (Sinpol), Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), entre outras.
De acordo com o presidente da CUT em Goiás, Mauro Rubem, diversos serviços públicos foram afetados durante a paralisação. "Bancos e escolas, inclusive particulares, estão fechados. Vários órgãos públicos também aderiram ao movimento, como o Ministério Público Estadual, Ministério da Saúde, Ministério do trabalho", afirmou ao G1.
Durante o confronto, algumas agências bancárias que ficam no cruzamento da Avenida Goiás com a Anhanguera tiveram vidros quebrados por mascarados. Além disso, comerciantes da região fecharam suas portas, por volta do meio-dia, com medo de invasões e depredações, e só reabriram após o fim do protesto.
Por Fernanda Borges, G1 GO