Menores de 18 anos podem ser processados
Criar um blog para falar mal dos outros pode
ser bem divertido, mas, ao mesmo tempo, pode trazer muitas complicações para
quem o criou. Principalmente se aquele que se sentir ofendido em ver a vida
privada se tornar pública na internet procurar um advogado e mover uma ação
contra os autores da brincadeira de mau gosto.
Pense bem se vale a pena, literalmente, se
meter numa dessas. (LF e AK)
Estudantes de colégios e faculdades criam blogs e sites para fazer fofocas sobre colegas e professores; brincadeira vira mania e gera bate-boca nas escolas.
Foi-se o tempo em que os blogs eram usados
apenas como inofensivos diários online. Agora, a história é diferente. Alguns
desses sites viraram espaço para avacalhar com a vida de colegas e professores.
Por isso, cuidado com o que você faz no colégio ou
na faculdade. Seus atos podem sair publicados na internet, para todo mundo ver,
essa zoeira via internet ocorre de forma bem caseira. São páginas muito
acessadas por todos os alunos, que querem saber fofocas e informações, na
maioria das vezes maldosas e exageradas, sobre o dia-a-dia no colégio. O
conteúdo delas costuma gerar muito bate-boca e até brigas.
O Folhateen conversou com os autores de alguns dos blogs
mais polêmicos da internet. Os nomes foram mudados para proteger os inocentes
e, é claro, os culpados. Os endereços dos blogs também estão omitidos nesta
reportagem, para evitar constrangimentos e preservar as histórias desses
jovens, de 15 a 20 anos de idade, e as vítimas de suas atitudes, na maioria das
vezes, inconsequentes.
Nove alunos do curso de publicidade de uma
faculdade no ABC paulista "vivem" para o blog. Munidos de câmeras
digitais e programas de manipulação de imagem -como o Photoshop-, eles
fotografam tudo o que acontece nos corredores universitários e aproveitam para
detonar quem passar pela frente.
"O blog foi uma extensão da zoeira que vinha
da sala. A maioria não trabalhava quando a gente começou, há um ano e meio.
Fizemos o blog para aloprar mesmo. Começou com os professores. Depois, a gente
ia colocando o principal defeito das pessoas da sala. Tem gente que não fala
comigo até hoje", conta, rindo, José, 20, que lidera a galera e as piadas
sobre o rapaz gordo da sala e a língua presa de um dos professores. "O
pior é que, quando uma pessoa é zoada e não gosta, há um motivo a mais para
continuarmos."
O grupo dedica pelo menos duas horas por dia ao
blog.
Os integrantes enviam montagens de fotos, que
vão de retratos com colegas de cabelos pintados digitalmente a corpos com
rostos de outras pessoas. "Não aprendemos nada fazendo o blog, é só
gozação mesmo. O objetivo é divulgar a zoeira que rola na sala", conta
Lúcio, 19.
Público x privado
Mas nem tudo termina em risadas no mundo dos blogs
da encrenca. Há pouco mais de dois anos, na escola Vera Cruz, em São Paulo,
alunos da 8ª série do ensino fundamental criaram uma página na internet para
azucrinar a vida de duas colegas.
"Foi uma brincadeira de mau gosto, nós
realmente extrapolamos. Chamávamos as garotas de porcas para baixo. Criamos o
blog por pura falta de coisa melhor para fazer", diz Henrique, 17, que
conta que praticamente toda a classe estava envolvida na tal "brincadeira".
O provedor que hospedava o site gratuito fechou a
página, por desrespeitar as regras (difamar pessoas pode ocasionar o
cancelamento de um site ou blog), e, para os alunos, a escola passou uma
tarefa, um trabalho sobre ética da comunicação.
"Começamos a discutir o problema pela ética
da informática, o instrumento com o qual estávamos lidando. Com isso na mão,
identificamos todos os alunos que tinham aberto a página e aqueles que tinham
participado. Todos se entregaram", explica Maria Stella Galli Mercadante,
64, diretora do ensino fundamental da escola Vera Cruz.
"Eles não imaginavam que isso iria atingir a
colega daquela maneira. Trabalhamos a diferença entre público e privado. Eles
achavam que iriam fazer uma conversa entre eles, mas tornaram público o que deveria
ser privado. Eles fizeram um texto se retratando com a menina e leram esse
texto para todos na classe. Dentro da programação de estudos sociais,
reforçamos esse assunto por meio do trabalho de ética da comunicação.
Mobilizamos todas as séries, de 5ª a 8ª, nessa discussão de público e privado.
É uma das grandes preocupações dos educadores hoje", conta Maria Stella.
Mas o que leva estudantes de escolas particulares
a ofender colegas pelas costas, já que os autores preferem se manter anônimos?
"O blog é uma maneira de falar aquilo que a
gente não pode dizer na escola. É a realização de um sonho do colégio inteiro,
falar o que ninguém fala", explica Sérgio, 18, que participa de um blog de
avacalhação criado por 15 alunos do 2º ano do ensino médio de um colégio de São
Paulo.
"Surgiu como uma ideia de falar as coisas da
nossa sala, e não para detonar as pessoas. Nos corredores do colégio, ouvimos
comentários sobre o nosso blog, mas fizemos um pacto de nunca revelar os
autores. A gente não inventa histórias, nós apenas aumentamos um pouco",
brinca Cecília, 16, uma das líderes desse blog.
Vítima
E quem foi detonado pelas histórias
"aumentadas" por blogs de colégio, o que sente? Julieta, 17, foi
vítima de um site criado por outras colegas. "Uma menina da minha classe
fez um blog para fazer fofocas. Umas amigas minhas descobriram algumas páginas
falando mal de um monte de gente, inclusive de mim. Queriam que eu morresse!
Elas nunca tinham falado comigo", conta.
"Hoje até sou amiga de algumas delas, que,
depois, disseram que o site não tinha nada a ver comigo, apesar de usar as
minhas iniciais. A que encabeçava o blog saiu do colégio. Nem falo mais com
elas sobre o assunto. Prefiro esquecer."
Julieta não vê problemas em alguém criar um blog
para falar de uma fase da própria vida. "Mas não entendo o que elas
pensavam quando criaram o site para falar mal dos outros. Blogs saem fora de
controle, pois são abertos ao público. Não entendo o sentido disso. Queria
saber o que elas queriam."
Por Fram Marques, Professor, Jornalista e Publicitário.
Fontes: Folha de São Paulo, Folhateen / LEANDRO FORTINO e ALESSANDRA KORMANN
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