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segunda-feira, 3 de outubro de 2022

125 mortos: Tragédia em estádio da Indonésia

Ao menos 32 crianças entre os 125 mortos em tragédia em estádio da Indonésia


A tragédia na cidade oriental de Malang é a segunda pior em estádios registrados no mundo, atrás apenas do ocorrido no jogo entre Peru e Argentina, em Lima, em 1964



Captura de tela de um vídeo da AFPTV feito em 1º de outubro de 2022 mostra gás lacrimogêneo na multidão enquanto há correria em campo após uma partida de futebol entre Arema FC e Persebaya Surabaya no estádio Kanjuruhan em Malang, Java Oriental, na Indonésia AFP

Ao menos 32 crianças morreram no tumulto em um estádio da Indonésia, que deixou 125 mortos e 323 feridos, informou à AFP um funcionário do Ministério do Empoderamento das mulheres e da Proteção da Infância. Na manhã deste domingo, a AFP chegou a divulgar que o número de mortes havia chegado a 174, mas, pouco tempo depois, confirmou as 125 vítimas fatais.

"De acordo com as últimas informações que recebemos, das 125 pessoas que morreram no acidente, 32 eram crianças, sendo a mais jovem um menino de três ou quatro anos", afirmou Nahar, que como muitos indonésios tem apenas um nome.

Seporter tuan Arema FC masuk kedalam lapangan usai tim kebanggaan mereka dikalahkan oleh Persebaya Surabaya dikandang sendiri.

A confusão começou depois que torcedores do Arema FC invadiram o gramado do estádio Karnjurhan depois que o time perdeu por 3-2 para o Persebaya Surabaya, a primeira derrota para o rival em mais de duas décadas.

Há ainda cerca de 180 pessoas hospitalizadas. Após a batalha em campo, a liga nacional suspendeu a realização de jogos.

A polícia tentou conter os torcedores e fazer com que eles voltassem às arquibancadas, disparando gás lacrimogêneo depois que dois policiais foram mortos.

Muitas das vítimas foram pisoteadas até a morte ou sufocadas, segundo as autoridades. O vice-governador da província de Java Oriental, Emil Dardak, informou à rede de televisão Kompas TV que o saldo é de 174 mortos. Vários sobreviventes descreveram como os espectadores em pânico se aglomeraram quando o gás lacrimogêneo foi disparado contra eles.

— Os policiais dispararam gás lacrimogêneo, e automaticamente as pessoas correram para sair, empurrando umas às outras, e isso causou muitas vítimas — disse Doni, um espectador de 43 anos que não quis revelar seu sobrenome, à AFP. — Nada estava acontecendo, não havia tumulto. Não sei qual foi o motivo, de repente eles atiraram gás lacrimogêneo em nós. Isso me chocou, eles não achavam que havia crianças e mulheres?


A polícia respondeu usando gás lacrimogêneo na tentativa de dispersar a Aremania. A situação piorou após o uso do gás lacrimogêneo, já que as condições do vento prenderam o gás lacrimogêneo no estádio, asfixiando torcedores do Arema FC que estavam invadindo o campo.
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Um diretor do hospital disse à televisão local que um menino de cinco anos estava entre as vítimas. O presidente indonésio, Joko Widodo, ordenou neste domingo uma revisão da segurança nos estádios após a tragédia. Em uma mensagem televisionada, Widodo ordenou que o ministro do Esporte e Juventude, a polícia nacional e a associação local de futebol “realizassem uma avaliação completa das partidas de futebol e dos procedimentos de segurança”.

Imagens capturadas dentro do estádio durante a debandada mostraram grandes quantidades de gás lacrimogêneo e pessoas subindo cercas. Algumas delas carregavam espectadores feridos em meio ao caos.

Outras imagens divulgadas nas redes sociais mostram pessoas gritando obscenidades para os policiais, que se protegiam com escudos. O estádio tem capacidade para 42 mil pessoas e, segundo as autoridades, estava cheio. A polícia indicou que cerca de 3 mil pessoas invadiram o campo.

— Gostaria de enfatizar que [...] nem todos os participantes tiveram comportamento anárquico. Apenas cerca de 3 mil entraram em campo — disse o chefe de polícia da província de Java Oriental, Nico Afinta.

A tragédia na cidade oriental de Malang é a segunda pior em estádios registrados no mundo, atrás apenas do ocorrido no jogo entre Peru e Argentina, em Lima, em 1964.

Liga suspensa


Veículos queimados, incluindo um caminhão da polícia, permaneceram do lado de fora do estádio na manhã de domingo. O ministro indonésio de Esportes e Juventude, Zainudin Amali, pediu desculpas pelo incidente e prometeu investigar as circunstâncias da debandada.

— Lamentamos este incidente [...]. É um incidente lamentável que prejudica o nosso futebol numa altura em que os adeptos podem ir ao estádio assistir aos jogos — disse à rede Kompas. — Avaliamos rigorosamente a organização da partida e a presença de torcedores. Vamos proibir novamente a presença de torcedores nas partidas? É isso que discutiremos.

A Federação Indonésia de Futebol (PSSI) suspendeu os jogos de futebol por uma semana, proibiu o Arema FC de sediar jogos em casa pelo resto da temporada e anunciou que enviará uma equipe de investigação a Malang para determinar as causas da tragédia.

— Lamentamos e pedimos desculpas às famílias das vítimas e a todas as partes pelo incidente — disse o presidente da PSSI, Mochamad Iriawan.

Da mesma forma, o presidente da Confederação Asiática de Futebol, Salman bin Ibrahim al Khalifa, disse estar “profundamente emocionado e triste ao ouvir notícias tão trágicas da Indonésia, um país que ama o futebol”. A Indonésia planeja sediar a Copa do Mundo Sub-20 da FIFA em maio em seis estádios do país. O de Malang não está incluído no torneio.

A violência dos torcedores é um problema na Indonésia, onde rivalidades provocaram vários confrontos mortais. Alguns jogos ficam tão tensos que jogadores de grandes equipes precisam viajar para os jogos sob forte guarda.

Indignação contra a polícia da Indonésia aumenta após tragédia


A indignação contra a polícia da Indonésia aparenta ser cada vez maior após as 125 mortes. A irritação com as autoridades ficaram evidentes em frases pintadas nos muros do estádio, como "Meus irmãos morreram. Investiguem", ao lado da data da tragédia. Uma petição online com o título "A polícia deve parar de usar gás lacrimogêneo" recebeu quase 6 mil assinaturas nas primeiras horas.

— Uma de nossas mensagens é que as autoridades devem investigar de maneira profunda. Queremos prestação de contas. Quem é o responsável? — questionou Andika, de 25 anos, que não revelou o sobrenome. — Queremos justiça para os torcedores mortos.

Uma vigília foi organizada no domingo à noite do lado de fora do estádio Kanjuruhan para homenagear as vítimas.

Em Jacarta, centenas de torcedores se reuniram nas proximidades do maior estádio do país e gritaram "assassino", assim como canções de apoio ao Arema FC.

O presidente do clube, Gilang Widya Pramana, pediu desculpas e se responsabilizou pelo incidente.

— Como presidente do Arema FC, assumirei toda a responsabilidade do ocorrido. Peço desculpas profundas às vítimas, seus familiares, todos os indonésios e à Liga 1 — disse.

O ministro da Segurança do país do sudeste asiático, Mahfud MD, determinou uma investigação e punição aos responsáveis pela tragédia.

Ele anunciou que a comissão de investigação terá integrantes do governo, analistas, dirigentes do futebol, representantes da imprensa e das universidades. E prometeu resultados em duas ou três semanas.

Grupos de defesa dos direitos humanos exigiram uma comissão independente e que os policiais sejam responsabilizados pelo uso de gás lacrimogêneo em um espaço fechado.

O técnico do Arema FC, o chileno Javier Roca, disse que "alguns torcedores que morreram nos braços dos jogadores".

— Os jovens passavam com as vítimas nos braços. Acho que a polícia ultrapassou os limites — declarou à rádio espanhola Cadena Ser.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, considerou a tragédia um "dia sombrio para o futebol".

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