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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Marketing político: A história da propaganda eleitoral no Brasil Republicano


Caça ao Voto



Os melhores jingles das eleições brasileiras (2002-2006)

Exatamente 25 anos depois de emergir no noticiário como o maior líder sindical do país, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República. Na terceira tentativa de chegar ao poder, Lula venceu José Serra no segundo turno com uma vantagem de quase 20 milhões de votos.
Essa foi a primeira eleição em que os jingles do candidato petista tiveram pouco parentesco com o original Lula Lá. Convencido pelo marqueteiro Duda Mendonça, Lula concorreu com um discurso menos radical e conquistou parte do grande empresariado. Nasceu o “Lulinha Paz e Amor”, como definiu Duda Mendonça.
“A imagem do Lula ‘Che Guevara’ se transformou no Lulinha Paz e Amor, de barba bem cuidada e cabelo arrumado”, explica Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos. “Dentro de ternos bem cortados e camisas sociais de grife, Lula apresentou um discurso conciliador, dizendo que iria melhorar o que estava bom.” A aliança com José Alencar (PL), megaempresário mineiro da área têxtil, convidado a ser seu candidato a vice-presidente, foi determinante. Aliados importantes de Fernando Henrique Cardoso, como Itamar Franco, Antonio Carlos Magalhães e José Sarney, além de não se empenharem na campanha do candidato tucano, declararam apoio explícito a Lula no segundo turno.
Luiz Inácio Lula da Silva





















José Serra







































2002
Ciro Gomes, candidato à Presidência
Aécio Neves, candidato ao governo de Minas Gerais






Jorge Viana, candidato ao governo do Acre



Roberto Requião, candidato ao governo do Paraná



Germano Rigotto, candidato ao governo do Rio Grande do Sul






Marcelo Crivella, candidato ao governo do Rio de Janeiro



Rosinha Garotinho, candidata ao governo do Rio de Janeiro



Leonel Brizola, candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro



Marcelo Alencar, candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro



Henrique Meirelles, candidato a deputado federal por Goiás



Mesmo com a imagem abalada pelo mensalão – escândalo revelado em meados de 2005 que envolveu quase toda a cúpula do governo, incluindo José Dirceu, chefe da Casa Civil, e até mesmo Duda Mendonça –, Lula conseguiu se reeleger. Como era de se esperar, o mensalão foi destacado nos jingles da oposição. O presidente venceu mesmo assim. Mais uma vez no segundo turno, venceu Geraldo Alckmin com 61% dos votos.









Na eleição de 2006, o material de campanha do PT substituiu o número 13 em vermelho pelas cores da bandeira brasileira. “O mote da campanha, ‘Lula de novo com a força do povo’, demonstrava o afastamento proposital entre o candidato e o partido”, conta Manhanelli. “Através de atitudes, palavras e comportamento, Lula reforçou a imagem de homem simples, perseguido pelas elites por ser um homem do povo.”
Embora menos marcantes que em anos anteriores, os jingles estão presentes em todas as eleições. Apesar de ser uma prática ilegal, as canções políticas nas cidades do interior do país continuam a ser paródias de músicas consagradas, “por serem facilmente assimiladas pelo povo”, afirma Manhanelli. Nas metrópoles, entretanto, os jingles hoje têm de lutar para cair no gosto dos eleitores com letras e composições originas.
2006
Lula



Geraldo Alckmin












Ana Julia Carepa, candidata ao governo do Pará



Jaques Wagner, candidato ao governo da Bahia



Paulo Souto, candidato ao governo da Bahia






Guilherme Afif Domingos, candidato ao Senado por São Paulo



Aloizio Mercadante, candidato ao Senado por São Paulo



Dimas Ramalho, candidato a deputado federal por São Paulo



Marcelo Itagiba, candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro



Branca Nunes


Os melhores jingles das eleições brasileiras (1994-1998)

O sucesso do Plano Real e a vitória sobre a inflação garantiram a vitória de Fernando Henrique Cardoso já no primeiro turno nas eleições de 1994. Mas, segundo Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos, o ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco contou com um trunfo adicional para conquistar o Palácio do Planalto.
“Inesperadamente, o Tribunal Superior Eleitoral proibiu o uso de imagens externas na propaganda política”, recorda Manhanelli. “Lula foi o grande prejudicado.” Depois da derrota nas eleições de 1989, o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva lançou a Caravana da Cidadania, uma viagem pelo interior do Brasil planejada para conferir ao vivo o cotidiano da população. Pelas novas regras, foi vetada a veiculação das imagens gravadas nesse período.
Manhanelli compara essa restrição à instituição da Lei Falcão, em 1974. Diante do crescimento da oposição, o regime militar limitou os comerciais políticos a uma foto do candidato ao lado do número. Fernando Henrique venceu com 54% dos votos.



Segundo colocado, com 27% dos votos, Lula teve de contentar-se com título de dono dos jingles mais originais. Todos, de certa forma, tinham parentesco com o clássico Lula Lá:






Lula Lá é o último dos jingles inesquecíveis”, acredita Manhanelli, que há 36 anos coleciona filmes, jingles, objetos e documentos relacionados à briga pelo voto. Professor de marketing político e especialista no assunto, Manhanelli emprestou parte desse acervo para que o site de VEJA pudesse ajudar a divulgar parte da história política do país.

1994

Dante de Oliveira, candidato ao governo de Mato Grosso



Marcelo Alencar, candidato ao governo do Rio de Janeiro



Ronaldo Caiado, candidato ao governo de Goiás



Paulo Maluf, candidato ao governo de São Paulo



Francisco Rossi, candidato ao governo de São Paulo



Mário Covas, candidato ao governo de São Paulo



Afanásio Jazadji, candidato a deputado estadual por São Paulo



1998

Com a aprovação da emenda que instituiu a reeleição, FHC e Lula disputam novamente a Presidência. Mais uma vez FHC foi reeleito no primeiro turno -- conquistou 53% dos votos.
Fernando Henrique Cardoso









Lula
Miguel Arraes, candidato à reeleição ao governo de Pernambuco



Orestes Quércia, candidato ao governo de São Paulo



Eduardo Suplicy, candidato ao Senado por São Paulo



Ao enfrentar Paulo Maluf no segundo turno, o governador paulista Mario Covas – que era candidato à reeleição e terminou a primeira etapa em desvantagem –, resolveu trocar a discussão de programas administrativos pela comparação do histórico de cada um. “Eu acho que o telespectador quer discutir caráter”, disse, durante um dos debates mais intensos da história do país. “Você quer saber como nós nos comportamos historicamente, como nós somos como pessoa. Que tipo de caráter e de antecedência a gente tem.” Covas venceu com quase 10 milhões de votos.
Branca Nunes


Entre o parlamentarismo e a monarquia, o Brasil resolveu continuar presidencialista


Pedro Gastão de Orleans e Bragança, bisneto do imperador Pedro II (Foto: Fernando Lemos)
Mais de 100 anos depois da Proclamação da República, os brasileiros foram novamente confrontados com a ideia de restaurar a monarquia. Em 21 de abril de 1993, depois de uma campanha com direito a jingles, comerciais na TV e horário eleitoral gratuito, as cédulas apresentavam duas opções sucessivas. Primeira: monarquia ou república. Segunda: presidencialismo ou parlamentarismo.
A tentativa de ressurreição do regime imperial partiu do deputado federal paulista Antônio Henrique Bittencourt da Cunha Bueno. Monarquista de berço, filho de Antônio Sílvio Cunha Bueno, um dos cardeais do PSD em São Paulo, Henrique Cunha Bueno decidiu, durante a Assembléia Nacional Constituinte, propor a realização de um plebiscito para dar ao povo a possibilidade de escolher a forma e o sistema de governo que preferiam. Seu principal argumento era que, durante o reinado de Pedro II, o Brasil vivera o período de maior estabilidade. Surpreendentemente a emenda que propunha o plebiscito foi aprovada.
Em maio de 1992, o parlamentar fundou o Movimento Parlamentarista Monárquico (MPM) ao lado de dom Pedro Gastão de Orleans e Bragança, um dos pretendentes ao trono, pertencente a uma das duas linhagens que reivindicam a coroa brasileira. “Em termos de militância, só nós e os petistas”, dizia o chefe dos monarquistas, que levou a turma para as ruas sob o slogan “Vote no Rei”.

Monarquia


Parlamentarismo

Presidencialismo




A república foi a forma de governo escolhida por 66% dos mais de 67 milhões de brasileiros que compareceram às urnas (contra 10% que optaram pela monarquia). O sistema presidencialista conseguiu 55% dos votos, enquanto o parlamentarismo ficou com 24%.
Pouco mais de três décadas antes, o país viveu sua única experiência parlamentarista. Em agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou à Presidência da República, oito meses depois da posse. Certo de que as Forças Armadas e o Congresso não aceitariam a posse do vice-presidente João Goulart, acusado de simpatizar com o comunismo, Jânio esperou uma viagem de Jango à China para consumar a insensatez e voltar ao poder nos braços do povo. Parte do plano deu certo: os militares não engoliram o vice com facilidade. Liderada por Leonel Brizola, casado com uma irmã do Jango, a oposição exigiu o cumprimento da Constituição, que previa a posse do vice. Na tentativa de encontrar uma solução para a crise, o Congresso aprovou em caráter de “urgência urgentíssima” o parlamentarismo. O regime durou pouco mais de um ano.


O país festeja a ressureição da democracia

O entusiasmo provocado pela restauração da escolha direta do presidente da República transformou as eleições de 1989 nas mais movimentadas da história. Quase 55% dos eleitores não exerciam esse direito há quase 30 anos, outros 45% nunca tinham votado. Todas as tendências políticas estavam representadas.
“As eleições de 1989 foram marcadas pelo uso pleno da televisão nas campanhas eleitorais”, conta Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos. “Isso era a grande arma dos candidatos desconhecidos, que não faziam parte do círculo tradicional”. Manhanelli lembra que, ao contrário do que acontece hoje, não eram proibidas cenas externas nas inserções de 30 segundo fora do horário eleitoral gratuito nem os efeitos especiais.
No livro Marketing Político, do Comício à Internet, Manhanelli conta que naquele ano “foram usados todos os recursos disponíveis de imagem e som na produção dos programas eleitorais, levando inclusive mensagens e imagens fantásticas através das mesas de efeitos em 3D. É o show se consagrando nas eleições da TV”.
Alguns jingles lançados em 89 fizeram tanto sucesso que ainda são usados. É o caso do clássicoEy, ey, Eymael, um democrata cristão, de José Maria Eymael. “A música era tão ruim que pegou”, brinca Paulo Garfunkel, compositor de jingles políticos há mais de 20 anos e um dos criadores da letra da música que Marina Silva levou para a campanha deste ano.



O primeiro turno de 89 foi disputado por 24candidatos. Os jingles e clipes de grande parte deles ainda povoam as lembranças de quem tem mais de 30 anos.









A candidatura de Lula, grande novidade do Brasil redemocratizado, mobilizou artistas como Gilberto Gil, Milton Nascimento e Djavan, que se juntaram na gravação do Lula lá. “É o maior clássico desde o começo do regime militar”, acredita Jean Garfunkel, irmão e parceiro profissional de Paulo.






Embora a televisão tenha dominado a paisagem eleitoral de 1989, o rádio era a única forma de alcançar 20% da população que só tinham acesso a esse veículo. Ainda assim, o publicitário Fábio Ciaccia, num dos textos do livro Marketing Político, do Comício à Internet, observa que apenas Fernando Collor, Leonel Brizola, Guilherme Afif Domingos e Lula investiram na propaganda radiofônica. “Durante toda a história”, escreveu Ciaccia, “os políticos apresentaram dificuldade para entender a importância do rádio. Não viram que era o melhor meio de atingir os analfabetos”.
O duelo no segundo turno entre Lula e Collor se estendeu aos clipes exibidos na televisão. Lula mostrava uma multidão de celebridades cantando o seu jingle. Collor replicava com uma mensagem que atribuía ao povo brasileiro o papel de verdadeiro artista.
Carlos Manhanelli recorda que a derrota de Lula é atribuída a três fatores, dois deles intimamente ligados à televisão. O primeiro foi o programa no horário eleitoral de Collor em que Mirian Cordeiro, ex-namorada de Lula, o acusava de ter tentado forçar o aborto da filha Lurian:
O segundo motivo foi a onda de rumores vinculando o PT aos seqüestradores do empresário Abílio Diniz. O terceiro, a edição do último debate entre os candidatos apresentada pelo Jornal Nacional, amplamente favorável a Collor.
Eleito com 49% dos votos, Collor foi afastado do cargo dois anos depois, acusado de envolvimento com um vasto esquema de corrupção articulado pelo ex-tesoureiro de sua campanha, Paulo César Farias. Mais uma vez, a mobilização do povo nas ruas foi fundamental para a aprovação do processo de impeachment.

Fernando Henrique Cardoso caiu da cadeira


Fernando Henrique Cardoso, candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo, sentado na cadeira do prefeito (foto: Jorge Rosenberg)
A campanha das Diretas Já, os políticos cassados durante o regime autoritário, e sobretudo o PMDB – antigo Movimento Democrático Nacional (MDB), partido de oposição à ditadura militar. Esses e outros símbolos da resistência democrática foram as grandes armas usadas pelos candidatos que disputaram prefeituras e governos nos anos que se seguiram à vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
Dante de Oliveira, candidato à prefeitura de Cuiabá em 1985, por exemplo, transformou em estandarte a emenda que propunha o restabelecimento das eleições diretas e que foi batizada com o seu próprio nome.



No Rio de Janeiro, o jingle de Marcelo Alencar evocava a cassação do seu mandato de deputado pela ditadura:



Na disputa pelo governo estadual, o baiano Waldir Pires e o paulista Orestes Quércia repetiram incontáveis vezes a sigla PMDB nas letras das músicas de campanha.






Um dos capítulos que marcaram as primeiras eleições pós-ditadura ocorreu em São Paulo. Favorita em todas as pesquisas de intenção de voto, a candidatura de Fernando Henrique começou a degringolar. Seus jingles adaptavam músicas como Vai Passar, de Chico Buarque,Baile dos Passarinhos Parabéns a Você:












Jânio Quadros, que acusava o adversário de conhecer mais intimamente os subúrbios de Paris do que a periferia de São Paulo, explorou à exaustão uma resposta infeliz do sociólogo durante um debate na TV. O jornalista Boris Casoy perguntou-lhe se acreditava em Deus. Desconcertado, Fernando Henrique balbuciou que, conforme o combinado, a pergunta não seria feita. Em seguida, gaguejou uma resposta suficientemente confusa para que Jânio o acusasse de ateu. Nessas eleições, Jânio usou e abusou de regravações dos jingles que o levaram à vitória nas eleições presidenciais de 1960.






A disputa atingiu seu ponto culminante no dia da votação. De manhã, a Folha chegou às bancas estampando na primeira página a foto de Fernando Henrique sentado na cadeira de prefeito. O que foi considerado uma atitude de “arrogância” extrema, não passou de um equívoco resultante de uma atitude gentil do candidato.
Atendendo a um pedido de Veja, Fernando Henrique se deixou fotografar com o compromisso de que a foto só seria publicada caso fosse eleito. Enquanto a imagem era produzida, repórteres daFolha e do Estadão que esperavam na ante-sala reivindicaram o mesmo direito. Todos se comprometeram com o embargo. A Folha não cumpriu o acordo.
Eleito com 4% de votos a mais que Fernando Henrique, Jânio não perdeu a chance. Ao entrar no novo gabinete, desinfetou a cadeira que passaria a ocupar.
Branca Nunes

O povo voltou às ruas


Comemoração da vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral (Eduardo Tavares)
“Esta foi a última eleição indireta da história do Brasil”.
A frase, dita por Tancredo Neves em 15 de janeiro de 1985, fez parte do discurso da vitória no Colégio Eleitoral e marcou o fim de uma campanha política que mobilizou o Brasil em favor da candidatura de um presidente que não seria eleito pelo voto popular. Nove meses depois de a emenda das Diretas Já ter sido derrotada no Congresso, o clamor das multidões foi canalizado para a campanha Tancredo Já.
Grandes comícios, passeatas, cartazes, camisetas adesivos, bottons, jingles… A eleição de 1985 fez com que os brasileiros voltassem a sentir o sabor de uma eleição presidencial.




“A eleição do Tancredo é um dos dois maiores exemplos do poder do marketing político”, afirma Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos. Como as eleições foram indiretas, as estratégias de marketing precisaram ser adaptadas. “Foi preciso convencer a população a pressionar o Colégio Eleitoral para que seus membros votassem no Tancredo. Era uma estrutura triangular”, explica.
Com a derrota no Colégio, a ditadura militar começou a ser derrubada. Tancredo foi eleito com 480 votos, contra 180 dados ao segundo colocado, Paulo Maluf. O processo de transição e abertura política iniciado na eleição de 1974 atingiu ali seu ponto culminante.
Na véspera da posse, Tancredo é internado no Hospital de Base de Brasília:
José Sarney, vice-presidente, tomou posse em 15 de março de 1985, tornando-se o primeiro presidente civil a assumir a Presidência depois de quase 21 anos de autoritarismo. Tancredo morreu em 21 de abril, 24 dias antes de a Emenda Constitucional nº 25 restabelecer as eleições diretas para presidente da República.

Multidão acompanha o cortejo fúnebre de Tancredo Neves (Jorge Rosenberg)
O segundo maior exemplo de marketing político citado por Manhanelli é a eleição de Fernando Collor. Mas esta só viria a assombrar o Brasil quatro anos depois.
Branca Nunes

Eleições sob censura

Restritas a dois partidos e constantemente ameaçadas pelas vontades armadas dos quartéis, as eleições no Brasil aconteceram durante quase todo o regime militar. Embora não pudessem eleger o presidente da República, os brasileiros continuaram a escolher pelo voto direto governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores.
A primeira eleição legislativa depois do golpe aconteceu em 15 de novembro de 1966, pouco depois da decretação do Ato Institucional número 2 (AI-2), que extinguiu os 13 partidos legais existentes e na prática instituiu o bipartidarismo. Foram formados a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Nenhuma das legendas criadas pela reforma partidária de 1966 incluía no nome a palavra “partido”.

Eleições em São Paulo, em 1966
Embora timidamente, os candidatos animaram-se a criar jingles e fazer campanha de rua. Foi o caso de Dinarte Mariz, candidato ao governo do Rio Grande do Norte.


Depois da avassaladora derrota sofrida em 1970 pelo MDB, que chegou a discutir a hipótese da autodissolução, o regime militar afrouxou as amarras eleitorais em 1974. “O governo acreditava que o chamado ‘milagre brasileiro’ seria suficiente para conquistar a maioria dos votos e permitiu programas eleitorais ao vivo na televisão”, conta Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos. “O resultado foi uma derrota humilhante do governo.”
Orestes Quércia, um dos 16 senadores eleitos pelo MDB na ocasião, debita aos programas televisivos a vitória. Começou a campanha com apenas 5% das intenções de voto, contra 75% do ex-governador Carvalho Pinto. Na edição de 25 de setembro de 1974, uma reportagem publicada por VEJA descreveu o clima da época: “Uma campanha eleitoral para a renovação do Senado da República, da Câmara Federal e das Assembléias Legislativas inundou o país com slogans, cartazes, jingles, foguetes, refrigerantes e discursos sobre assuntos como a revogação do AI-5, os problemas da agricultura e da pecuária, o combate à inflação e o endividamento externo”. O MDB conquistou 59% dos votos e praticamente duplicou a bancada na Câmara, além de eleger quase o triplo do número de senadores arenistas.
Diante do crescimento gigantesco da oposição – ainda menosprezado por setores do governo – o presidente Ernesto Geisel declarou: “Não podemos tapar o sol com a peneira”. As apurações de 1974 resultaram na Lei Falcão, que impôs severos limites à propaganda política no rádio e na televisão. Na TV, só podia aparecer uma foto do candidato ao lado do número, enquanto uma voz em off narrava um breve currículo. No rádio, o locutor dizia somente o nome e o número do candidato.
Em 1982, o fim da Lei Falcão permitiu que as eleições para governador, senador e deputados voltassem a desfrutar das várias possibilidades do marketing político.


Com a restauração do pluripartidarismo, cinco partidos disputaram a preferência do eleitorado: o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o Partido Democrático Social (PDS), o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Fundado por Tancredo Neves e Magalhães Pinto, o Partido Popular (PP), que reunia dissidentes da Arena e moderados do MDB, desistiu de concorrer e seus filiados se uniram ao PMDB.
Franco Montoro venceu Reynaldo de Barros e Jânio Quadros na disputa pelo governo de São Paulo. Candidato pelo PTB, um partido fraco, o Homem da Vassoura conseguiu provar que mantinha boa parte da força política, principalmente entre os eleitores mais jovens. Três anos depois, seria eleito prefeito de São Paulo.


Era o início do uso maciço da TV na política, que atingiria o auge dois anos depois com a campanha das Diretas Já. Houve gigantescos comícios em todas as capitais. Na Candelária, no Rio de janeiro, e no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, reuniram mais de 500 mil pessoas. A Rede Globo, que tentou ignorar o movimento, acabou sendo obrigada a cobrir intensamente as manifestações populares que exigiam a volta de eleições diretas para presidente da República.
A Emenda Dante de Oliveira, que refletia a vontade da maioria dos brasileiros, não foi aprovada. Com 298 votos a favor, 65 contra e 3 abstenções – 112 deputados estavam ausentes no dia da votação – não foi levada à apreciação do Senado. Faltaram 22 votos.
Branca Nunes

Dos sonhos de JK às vassouras de Jânio


João Goulart, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek, na posse do homem da vassoura
Uma das mais extraordinárias peças de propaganda política nasceu do acaso. Em 4 de abril de 1955, Juscelino Kubitschek, ex-governador de Minas Gerais e candidato à Presidência, desembarcou em Jataí, no interior de Goiás, avisando que, caso fosse eleito, cumpriria integralmente a Constituição. Acabou saindo de lá comprometido com a construção de Brasília.
A ideia começou a tomar forma quando Antonio Soares Neto, um corretor de seguros de 29 anos, indagou se, “conforme determinado nas Disposições Transitórias da Constituição”, JK mudaria a capital para o interior do país. Depois de refletir alguns segundos, o candidato endossou uma das mais fascinantes aventuras de todos os tempos: “Cumprirei na íntegra a Constituição. Durante o meu quinquênio, farei a mudança da sede do governo e construirei a nova capital”.
Começavam os 50 anos em 5 de JK:


Os adversários de Juscelino eram Juarez Távora, da UDN, e Adhemar de Barros, do PSP:








Com 35% dos votos, o presidente Bossa Nova – um de seus codinomes mais conhecidos – foi eleito 290 comícios e 1.215 discursos depois.
Restrita às ondas do rádio em 1955, a campanha política alcançou a televisão cinco anos mais tarde. Na campanha de Jânio Quadros em 1960 foi ao ar o primeiro comercial eleitoral da história do Brasil:
“Ainda havia poucos televisores no país, mas eram suficientes para atingir os formadores de opinião”, conta Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos. “Foi o primeiro uso racional da TV no processo eleitoral brasileiro”. Um ano antes, em 1959, Jânio havia assumido, a convite de Paulo Machado de Carvalho, na época dono da TV Record, um programa de entrevistas onde seus convidados tratavam dos problemas nacionais. Com o jeito de falar também peculiaríssimo – o sotaque juntava o acento de Mato Grosso, onde nasceu, do Paraná, onde se criou, e de São Paulo, onde amadureceu politicamente – Jânio ampliou com os telespectadores a multidão de devotos.
Treze anos depois de eleito suplente de vereador, o ex-prefeito, ex-governador e ex-deputado Jânio Quadros candidatou-se à Presidência. Os adversários eram o general Henrique Teixeira Lott, que garantiu a posse do presidente Juscelino Kubitscheck e foi o ministro da Guerra do seu governo, e Adhemar de Barros, com quem Jânio reprisou nacionalmente a disputa regional que se desenrolava em São Paulo desde o começo dos anos 50.
O emblema de Lott, estampado em flâmulas, bottons e cartazes, era a espada. O de Adhemar, o trevo. Jânio usou a vassoura, que simbolizava o combate à corrupção. Foi essa a origem de “Varre, varre, vassourinha, um dos mais conhecidos jingles da história política nacional, e de outras trilhas memoráveis:








Lançado pelo inexpressivo Partido Trabalhista Nacional (PTN), a candidatura de Jânio recebeu o apoio da União Democrática Nacional (UDN). Logo virou mania nacional aquele político de estilo estranhíssimo, com cabelos desgrenhados, caspa no paletó, gesticulação elétrica e que devorava sanduíches de mortadela durante os comícios. Ao perceber o franco favoritismo de Jânio, João Goulart, candidato a vice-presidente na chapa de Lott, incentivou o movimento JanJan, que pregava o voto em Jânio para presidente e em Jango para vice (naquela época os dois cargos eram escolhidos separadamente).




Milton Campos, um político mineiro extremamente correto e vice oficial de Jânio, não recebeu praticamente nenhuma ajuda do companheiro de chapa.






As táticas de marketing da campanha de 1960 incluíam a transformação de acusações e apelidos pejorativos em trunfos eleitorais dos alvejados. Os adversários de Adhemar de Barros, por exemplo, mencionavam sistematicamente a “caixinha do Adhemar”, expressão que indicava a fortuna particular acumulada com o desvio de dinheiro público. O ex-governador de São Paulo inverteu a acusação com um jingle:


No âmbito regional, a técnica foi usada por Aluísio Alves, candidato ao governo do Rio Grande do Norte pelo PSD. O jingle surgiu depois que um de seus adversários o chamou de “cigano”.


Com a ausência de compositores profissionais, a trilha sonora da campanha ficava por conta de músicos e cantores famosos da época. É o caso desses dois jingles de Jango, cantados por Elizeth Cardoso e Ivon Curi:


Embora Lott fosse o candidato oficial do governo, JK pouco se empenhou na campanha. Conjugado com o carisma incomparável de Jânio Quadros, essas circunstâncias ajudam a entender mais um caso de esquizofrenia eleitoral dos brasileiros. Apaixonados por Juscelino, risonho e conciliador, elegeram Jânio Quadros, brigão e carrancudo. Lott terminou a eleição em segundo lugar e Adhemar em terceiro. João Goulart foi o vice.






Eleito com 48% dos votos sem necessitar da ajuda dos grandes partidos, Jânio Quadros descobriu tarde demais que era impossível governar sem a maioria no Congresso. Em 21 de agosto de 1961, oito meses depois da posse, o homem da vassoura renunciou ao cargo com a esperança de retornar ao poder pela aclamação popular. O país recuperou-se rapidamente do choque proporcionado pelo ato insano e passou a tratar da posse do vice-presidente.
Com duas décadas de atraso, a televisão foi a grande novidade da campanha de 1960 no Brasil – Franklin Roosevelt, candidato à Presidência dos EUA, já havia feito o primeiro discurso que acoplava imagem à voz em 1939.
Assim como aconteceu com o rádio, interceptado pela decretação do Estado Novo quando começava a ser usado de maneira racional nas campanhas políticas, a TV também tropeçaria em leis autoritárias. Em 1964, a ditadura militar resolveu impedir o uso intensivo da televisão. A proibição vigorou por 20 anos.
Branca Nunes

Getúlio Vargas cumpriu a promessa feita a Wainer: “Eu voltarei como líder de massas”

A trajetória que levou Getúlio Vargas de volta ao poder “como líder de massas” começou oficialmente em 12 de agosto de 1950 no Rio de Janeiro e, durante 51 dias, percorreu todo o Brasil. Decidida a ignorar os passos do ex-ditador, a grande imprensa não enviou repórteres para acompanhar a empreitada. O único jornalista que registrou a campanha foi Samuel Wainer, dosDiários Associados.
“Depois do comício de abertura no Rio, voamos para Manaus”, descreve Wainer no seu livro de memórias. “No aeroporto, a polícia teve de dispersar o povo para permitir que o avião encontrasse espaço na pista de pouso. Durante o comício, o palanque sacudia, abraçado pela multidão. Eram camponeses com pés de Portinari, brasileiros descalços, gente humilde, homens sem posses que vinham saudar o ‘Pai dos Pobres’. As multidões não portavam cartazes, não bradavam palavras de ordem, não exibiam consciência política. Eram, apenas, getulistas. ‘Getúlio!’, uivavam centenas de milhares de pessoas, em todas as capitais, em todos os Estados”.
Esses comícios amazônicos eram habilmente registrados pelos correligionários de Getúlio Vargas. As imagens em movimento – veiculadas nos cinejornais – começavam a fazer parte da propaganda política:
“A intenção das filmagens era focalizar o presidente através da cena tomada do alto da arquibancada dando a impressão de esmagamento do líder pela massa, fazendo com que Vargas diminuísse frente aos que o aplaudiam”, escreve Karla Cristina de Castro Amaral, no livro Getúlio Vargas – o criador de ilusões. “Outra câmera, posta no carro fazia a junção da manifestação fervorosa na arquibancada com a gesticulação da cabeça e braços de Vargas”. É o começo do uso de imagens manipuladas em benefício de um candidato.
Enquanto Getúlio protagonizava esses novos lances da propaganda eleitoral, o brigadeiro Eduardo Gomes, seu principal adversário, continuava restrito aos jingles:


Embora a televisão já existisse nessa época – as primeiras imagens foram transmitidas no Brasil em abril de 1950 e mostravam uma apresentação do padre-cantor Frei Mojica – havia apenas 7 mil aparelhos no país, todos concentrados no eixo Rio-São Paulo. “A estreia do uso eleitoral da TV aconteceu no dia 10 de setembro de 1950, quando a TV Tupi, ainda em fase experimental, passou um filme onde Getúlio Vargas falava sobre sua volta à vida pública”, conta Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos. “Quase ninguém assistiu. O preço de um aparelho era três vezes maior que a mais sofisticada radiola e um pouco mais barato que um carro”.
O rádio ainda era a grande ferramenta para comunicar-se com o povo e Getúlio soube dominá-la como nenhum outro político. Daí a quantidade incalculável de jingles, que iam das marchinhas carnavalescas às marchas militares:
















Ao fim de dois meses de campanha, Getúlio conquistou quase 50% dos votos. Voltou ao poder nos braços do povo no dia 31 de janeiro de 1951:


O país mais uma vez escutou a voz inconfundível de Getúlio Vargas, sempre endereçada aos seus maiores eleitores – os “trabalhadores do Brasil” –, e o sotaque que sublinhava o “L” à maneira gaúcha.


Em agosto de 1954, as mesmas emissoras de rádio que o candidato transformara em trunfo eleitoral divulgaram a tragédia incomparável: o maior líder popular da história se suicidara com um tiro no coração. O jornal Última Hora – último reduto governista na imprensa – precisou apenas incorporar a frase “o presidente cumpriu a palavra” à manchete publicada na véspera: “Só morto sairei do Catete”.


O retrato do velho começa a percorrer o caminho de volta às paredes do Brasil

“E se o senhor viesse a ser candidato? – perguntei”.
“Eu não sei… – começou Vargas. – Mas pode dizer uma coisa: eu voltarei. Eu voltarei, mas não como líder de partidos e, sim, como líder de massas.”
O diálogo, reproduzido no livro de memórias do jornalista Samuel Wainer, ocorreu em 1949 e descreve o momento em que Getúlio Vargas usou a primeira pessoa para endossar o aviso espalhado desde 1945 por muros de centenas de cidades do Brasil: Ele Voltará.
Em dezembro de 1945, Vargas fora eleito senador por dois estados e deputado por nove (naquela época, havia a possibilidade de se candidatar por mais de um estado e a mais de um cargo). Em 1947, convencido de que a oposição parlamentar tentaria desmoralizá-lo no Congresso, exilou-se voluntariamente em sua estância em São Borja e manteve distância da imprensa.
A reportagem assinada por Samuel Wainer foi ampliada pelos jornais da cadeia Diários Associados e pelas emissoras de rádio – o veículo mais influente da época: “O melhor programa noticioso do país era O Grande Jornal Falado Tupi, que começava às cinco da manhã e terminava às sete”, conta Wainer no livro Minha Razão de Viver. “Naquele dia, sucessivas vezes, repetiu-se uma gravação com a frase que se tornaria famosa: ‘Eu voltarei como líder de massas’. A gravação fora feita pelo locutor Silvino Neto, pai do humorista Paulo Silvino, que imitava à perfeição a voz de Getúlio. O presidente Eurico Dutra, que costumava acordar bem cedo, levou um susto enorme: ele pensou que a voz era a do próprio Getúlio”.
Em 9 de agosto de 1950, Vargas deixou a estância de Itu, na fronteira com o Uruguai, para começar a campanha pelo Brasil:
Além do rádio, já utilizado intensivamente pelos políticos, Vargas transformou o cinema em instrumento eleitoral. “Com os vídeos em forma de documentários, Getúlio reconstruía a história de seu próprio passado e divulgava seu programa de governo”, informa um dos textos do livro Marketing Político – do comício à internet, assinado pelos jornalistas Daniela Rocha e Lincon Franco. O cinejornal – noticioso apresentado antes dos filmes –, foi a grande carta na manga do candidato.
A imagem de “Pai dos Pobres” e “Salvador da Pátria”, foi sendo desenhada conscientemente antes mesmo do surgimento do marketing político, que nascerá somente em 1954, na campanha de Celso Azevedo para a prefeitura de Belo Horizonte. “O que existia até então era a simples propaganda dos candidatos”, explica Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos. “Só em 1954 surge o marketing político, ou seja, a ciência que estuda o mercado para adaptar um produto aos anseios daquele meio”. Mesmo que ditadas pelo instinto, a frase “é preciso conhecer os pequenos para conhecer-lhes as aspirações” – retirada do cinejornal reproduzido acima – mostra que Vargas já sabia disso.
Os jingles de Vargas dominavam as rádios:






E o retrato do velho começava a percorrer o caminho de volta às paredes do Brasil.



domingo, 31 de julho de 2011

Casa comigo?



'Casa comigo?'- disse Monica de repente.

Monica não era uma moça muito decidida, mas dessa vez ela não tinha dúvidas, casar com Fernando era o que ela mais queria. Estava cansada de encontros de fim de semana, estava cansada de passar horas no telefone durante a semana, contando sobre seu dia, ouvindo as novidades de seu amado sem poder participar.
Estava decidido, seria naquele dia.
Mônica colocou sua roupa mais sexy, aquela que ele nunca resistia. Saia preta, salto alto, uma blusinha de renda que ganhara dele no seu aniversário e uma meia calça 7/8 com cinta liga, que mesmo não estando a mostra a fazia se sentir confiante e sedutora.
Ligou para ele e sem dizer muita coisa, marcou as 8 horas um encontro num bistrô aconchegante num bairro chique da cidade. Claro que seria díficil impor sua vontade assim, mas sabia que se ele a amasse ele também desejaria o mesmo.
No horário marcado ela estava sentada lá, numa mesinha nos fundos do bistrô. Suas mãos suavam e ela repetia inúmeras vezes consigo mesmo o que havia treinado durantes horas na frente do espelho de casa 'eu sei que parece cedo, mas me sinto preparada e desejo com todo o meu coração. Casa comigo?'. Para tomar mais coragem ela pediu uma caipirinha de morangos, dizer uma coisa dessas de fato era terrível e ela enfim soube como se sentia os homens ao dizerem isso as mulheres, então como eles ela esperava que ele dissesse sim.
Fernando chegou, 10 minutos atrasado como sempre, mas dessa vez ela ficou contente por ele ter se atrasado, porque pela primeira vez ela se deu conta que mesmo as vezes ficando irritada com ele, esse era Fernando, o homem que ela amava tanto, com defeitos e qualidades que ela admirava.
Ele sorriu ao vê-la. Estava vestido de maneira incrível, camisa azul clara ajustada com a manga enrolada, realçando seus incríveis olhos azuis, calça jeans e sapatos, incrivelmente lindo e por um momento ela suspirou. Ela amava o homem mais lindo do mundo. Ele deu a ela um beijo de chegada e se sentou na cadeira de frente a ela, a hora estava chegando e parecia que o momento a consumia, era tão difícil fazer aquilo que ela agarrou o canudinho vermelho da sua caipirinha de morangos e deu um longo gole.
'Adoro aqui, a comida é incrível. Já pediu algo amor?' Disse ele vendo o cardápio.
Ela não conseguia pensar direito, seus olhos só observando os olhos dele correndo sobre a oferta de pratos e bebidas do Menu. Sentia um misto de carinho, ansiedade, admiração, medo, tudo misturado em uma coisa só e por um momento ela decidiu que não ia falar nada, que esperaria ele a pedir em casamento, mas e se ele nunca a pedisse? Não, ela deveria pedir, estava decidido, ela pediria.
'Você está bem amor?' ele disse olhando para ela enquanto segurava em sua mão.
'Sim, estou bem e você, como foi seu dia?'
Ele começou a falar sobre o seu dia no estúdio, dos inúmeros trabalhos que ele havia feito, das modelos que havia fotografado, dos pontos negativos e positivos e ela observava seus lábios se mexerem devagar e claramente, aqueles lábios que tanto adorava beijar, as mãos dele que se mexiam sem parar, mãos que as tocavam com tanta ternura e segurança, as feições dele que mudavam a cada frase terminada e lembrou das inúmeras situações que ele fora engraçado, bravo, alegre, triste e sem pensar em mais nada, só olhando ele dizer, ela interrompeu uma das frases dita por ele com 'Casa comigo?'
Ele calou-se repentinamente e a fitou com um ar indecifrável e o estômago dela gelou, não podia voltar atrás já estava feito e agora era ver no que ia dar. Ele deu uma risada marota e disse: 'Nunca me fizeram uma oferta dessas. Sabia que é o homem que pedi a mulher em casamento?'. Ela deu mais um longo gole na sua caipirinha para esconder a ansiedade e disse: 'sei, mas te observando falar, senti uma vontade tão grande de me casar com você, eu te amo e não quero mais ficar longe de você um só segundo, quero durmir e acordar ao seu lado todos os dias. Quer casar comigo?'
Ele encantado olhou fixamente nos olhos de Mônica e sorriu, dessa vez com um tom de carinho e apego.
'Sim' disse ele 'eu quero me casar com você Mônica.'
Eles se beijaram e o momento se eternizou.
Mônica e Fernando se casaram as 6 hrs de uma dia de primavera, numa cidadezinha pequena do interior. Hoje eles vivem felizes e tem 3 filhos e até hoje Fernando brinca com Mônica sobre ela o ter pedido em casamento ao invés dele.

cultura

A força da cultura nordestina na música



Para quem esqueceu ou teima em esquecer a importância e a riqueza cultural da música nordestina, divulgo sem pretensão de autoria da matéria. A toada "Luar do Sertão" é um dos maiores sucessos de nossa música popular em todos os tempos. Fácil de cantar, está na memória de cada brasileiro, até dos que não se interessam por música. Como a maioria das canções que fazem apologia da vida campestre, encanta principalmente pela ingenuidade dos versos e simplicidade da melodia. Embora tenha defendido com veemência pela vida afora sua condição de autor único de "Luar do Sertão", Catulo da Paixão Cearense deve ser apenas o autor da letra.
A melodia seria de João Pernambuco ou, mais provavelmente, de um anônimo, tratando-se assim de um tema folclórico - o côco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá" -, recolhido e modificado pelo violonista. Este côco integrava seu repertório e teria sido por ele transmitido a Catulo, como tantos outros temas. Pelo menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.
Há ainda a favor da versão do aproveitamento de tema popular, uma declaração do próprio Catulo (em entrevista a Joel Silveira) que diz: "Compus o Luar do Sertão ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá"'. A propósito, conta o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque) que teve a oportunidade de ouvir "Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do 'É do Maitá': a original e 'outra modificada por João Pernambuco', esta realmente muito parecida com Luar do sertão".

Francisco Alves
Homem humilde, quase analfabeto, sem muita noção do que representavam os direitos de uma música célebre, João Pernambuco teve dois defensores ilustres - Heitor Villa-Lobos e Henrique Foreis Domingues, o Almirante - que, se não conseguiram o reconhecimento judicial de sua condição de autor de Luar do Sertão, pelo menos deram credibilidade à reivindicação. Ainda do mesmo Almirante foi a iniciativa de tornar o Luar do Sertão prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a partir de 1939.
Luar do Sertão (toada, 1914) - João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense

--------G ----------Em -------Am --------D7-------- G----- D7
Não há, ó gente, oh não luar / Como este do sertão (bis)

--------------G------- Em------------ Am--------------------------- D7
Oh que saudade do luar da minha terra / Lá na serra branquejando
------------------------G D7------- G--------- Em---------- Am
Folhas secas pelo chão / Esse luar cá da cidade, tão escuro
--------------------------D7------------------- G------- D7
Não tem aquela saudade / Do luar lá do sertão (refrão)

--------------G --------Em ---------Am--------------------------- D7
A gente fria desta terra sem poesia / Não se importa com esta lua
-----------------------G D7------------- G--------- Em------- Am
Nem faz caso do luar / Enquanto a onça, lá na verde capoeira
------------------------D7-------------------- G------ D7
Leva uma hora inteira, / Vendo a lua a meditar (refrão)

-----------------G--------------- Em---------- Am
Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
------------------------D7---------------------- G------- D7
Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez
-------------G------------- Em --------Am
Ser enterrado numa grota pequenina
------------------------D7 ----------------G -------D7
Onde à tarde a surunina chora sua viuvez (refrão).

SERTÃO ( Artigo )


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A porta do SERTÃO aberta aqui é mágica, festiva, poética, triste, árida, mítica; é construída com rimas, sonhos, cores, santos, demônios, pedras, morte e vida.

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Evoca a música que vem dos tambores, dos pífanos, das violas e das rabecas. Exibe trajes com bordados coloridos, a chita, o couro trabalhado dos gibões, os mantos dos reis e as composições bricoladas com retalhos e fitas coloridas.
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Trata-se de um SERTÃO com uma paisagem quase sempre de uma vegetação rasteira e seca, formando uma massa de cor ocre-terra, ocre-vegetação, que se estende e oprime os fios de espelhos d’água que insistem em correr entre as terras secas.
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É desse contraste entre essa natureza árida e o homem que a habita que nasce a ESTÉTICA DO SERTÃO. A impressão que se tem é que o sertanejo diante de sua natureza árida, numa ânsia de complementá-la, buscasse assim através de suas expressões plásticas, as cores e formas próximas de um estilo barroco, porém antropofagicamente modificado e com elementos que ora complementam ou rivalizam com a geografia árida.
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Ressalto aqui que essa apresentação se aproxima do que Vilém Flusser chama de “pensamento expresso em superfícies”, isto é, vou utilizando imagens e escritas, num plano de superfície e devaneio tentando assim estabelecer laços entre a ciência e a arte, entre o pensamento racional e o intuitivo.
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Como no SERTÃO nada está totalmente organizado em estruturas de compêndios ou com etiquetas que decodificam, à partida, o que é o estético, a narrativa aqui não se estabelece o tempo todo como linear ou racional. Ela incorpora as incertezas, certezas, o delirante, o imaginário. Assim a compreensão se torna áspera, bifurcada, diversa e afinada com a complexidade do mundo.

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Esse é o SERTÃO que emerge do meu olhar flâneur e da relação de conhecimento que tenho sobre ele. A pesquisa (como pensamento racional construído), como também ato intencional e sistemático de construção da realidade, vem aqui se acoplar as imagens e textos de um sertão poético, lírico, imaginante.
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É certo que, na ciência, explicamos esse mundo, sobretudo por meio de palavras, mas as palavras nunca poderão desfazer o fato de estarmos imbricados pela expressão do olhar. Por outro lado, a maneira como vemos as coisas é afetada pelo que sabemos ou pelo que acreditamos. O olhar como diz Dietmar Kamper é antes de tudo um ato de “padecimento” do ser humano.
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E o sertão como diz Oswaldo Lamartine ( escritor nordestino) é o espaço geográfico e mental onde: “Cada vivente tem o seu sertão. Para uns as terras além do horizonte e, para outros, o quintal perdido da infância”.
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O SERTÃO é essa terra quente que arde no coração, que tem cheiros, cores e ruídos singulares. O sertão tem gosto de riso e solidão, gosto do acaso da vida, dos enganos, do inesperado, da dor da terra esturricada e de toda morte desassossegada.

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As BORDADEIRAS do sertão traçam poemas com as linhas. São linhas multicoloridas que vão preenchendo superfícies monocromáticas como se fossem a terra seca do sertão. As mulheres do sertão bordam sem alvoroço, com simplicidade.

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Nos bordados predominam as imagens de flores, todas de um colorido intenso, quase excessivo, exuberante como a paixão – esse sentimento que dilacera almas. As bordadeiras enterram as linhas ponto a ponto na trama do tecido, como cacos que cortam, como sangue que preenche, como um ato próximo à loucura das miudezas ou da rotina das cozinhas. A linha é o grande personagem, capaz de acessar, simular, reter e desafiar.
Tanto o SERTÃO de ontem como o SERTÃO de hoje são povoados de artistas primitivos, singulares, com uma obra abissal, banhada pelo pôr-do-sol da caatinga, lavrada pela pele da Caetana ou eternizada pelas pedras-lispes despencadas do céu. Um corpo em festa, animado pelo riso, cores e paixões que habitam no homem e, no entanto, se singularizam no sertão.
Antes de construir conceitos ou máquinas, enquanto fabricava as primeiras ferramentas, o homem criou mitos e pintou imagens, como disse Mikel Dufrenne. Assim é necessário compreender que a arte espontânea desde sempre exprime o liame do homem com a natureza.
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Para os arqueólogos brasileiros, os lugares no SERTÃO que foram habitados pelos primeiros homens foram os brejos, exatamente porque os brejos têm solos mais férteis, com filetes d’água, sendo possível a sobrevivência face à aridez das terras vizinhas. E são lá onde até hoje se encontram os sítios arqueológicos com as pinturas rupestres mais significativas
Os homens que chegaram ao Nordeste brasileiro pertenciam a grupos mongolóides como todos os habitantes das Américas, anteriores à colonização européia. Assim os índios brasileiros habitantes da região Nordeste são os descendentes de levas arcaicas que atravessaram, há milhares de anos, o estreito de Bering. Para Gabriela Martin ( arqueólaga): “foi precisamente nos sertões nordestinos do Brasil, onde a natureza é particularmente hostil à ocupação humana, onde se desenvolveu uma arte rupestre pré-histórica das mais ricas e expressivas do mundo”.

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A pedra, os signos, as formas estão na matriz das regras estéticas que se transformam numa verdadeira “arte poética” desde o homem pré-histórico até hoje, passando por diversas civilizações e culturas. A sensação que se tem é a de que existe um fio, simultaneamente tênue e forte, que resiste e persiste atravessando tempos e culturas como uma travessia que se transforma/desdobra e se abre numa passagem fantástico-mítica e utópica. Assim, a Abissínia, o império Inca, a China, a Grécia ou o Sertão são também espaços metafísicos capazes de superar e ultrapassar a mera realidade, e espalhar os fios agregadores de universalidade e permanência da imaginação humana.
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Como no caso da significação da morte no SERTÃO. Além da figura mítica da Caetana, há outras imagens impregnadas de sonoridades e vida. Passa-nos a impressão que a morte carrega a vida em sua plenitude, que é parte natural da natureza, é apenas uma transcendência da vida. Contraria o sentido irremediável de que morte é separação. A vida é a morte, a morte é a vida. Essa experiência estética do sertanejo com a morte é a experiência em estado mais bruto (primeiro/original) e abrangente.

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O conjunto de fragmentos que compõe meu dizer/sentir sobre a estética do sertão não se fecha aqui. São várias outras entradas, como na literatura, na poesia, nos hábitos culturais, na arquitetura, nos mitos, na alimentação e no imaginário. Cada um desses recortes do mundo sertanejo dizem uma só e mesma coisa: a condição humana expressa pelo homem do sertão responde com exuberância á aridez, à falta e ao infortúnio da vida.
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quando cada um faz a sua parte, nós fazemos o todo.



para todos nós

''Conhece-se a beleza dádiva dos deuses por aquilo que
ela produz na alma dos homens [...]'
'
Esse é um pequeno trecho do poema Um céu numa flor silvestre, de Rubem Alves. Lembrei-me dele quando vi aqueles homens chegarem a 700 metros mais perto do céu. 
 a questao a qual vou me referir aqui remete ao exemplo que foram esses 33 homens. um misto de sentimentos positivos manteve 33 pessoas totalmente diferentes numa sintonia magnifica que com certeza foi o que os fez chegar aqui em cima melhor do que era esperado. 
é até ironico quando pensamos que ali eles estavam com a finalidade de retirar das rochas um dos objetos mais preciosos para a humanidade: o ouro.  e de que passou a valer na mente de cada um deles qualquer grama de ouro quando se viram soterrados e sem comunicação por 17 dias?
sabiamente, os mineiros souberam procurar o ouro que cada um carrega consigo para sobreviver: o equiibrio entre mente e coração e o que daí fluir - uniao, companheirismo, paciencia, compreensao, fé. e foi assim que cada capsula que chegou trouxe um novo heroi para o Chile e para quem conseguir encontrar nesses homens um espirito de luta pela sobrevivencia.
pois em meio a tantas noticias tragicas de assaltos, sequestros, assassinatos, ou seja, da especie traindo a si mesma,  ver um ato de uniao entre os homens é de comover qualquer um.
nao seria, se sempre nos unissimos para nos proteger. mas o homem, o qual deveria ser o mais inteligente dos animais talvez seja o mais burro de todos. eu escutei isso em uma aula e me foi tao pertinente que parei para refletir. e é verdade, porque se nao o fosse, nao estariamos discutindo sobre o quao rapido estamos destruindo a natureza a qual nos mantém, fora isso ainda há as discussoes sobre as diferenças que levam muitas vezes às guerras armadas. 
a indiferença ao semelhante é tão natural que ao ver o que os mineiros fizeram tomamos como exemplo, uma lição de vida. e é esse espirito que eles demonstraram de fraternidade que deveríamos trabalhar no nosso meio.
quando cada um faz a sua parte, nós fazemos o todo. 

COISAS DO NOSSO BRASIL

Do sertão



Que homem é esse?  que acorda antes do Sol e sai em busca, a cada dia do que terá no fim para alimentar a sua família;
 Que vive assim, sem ter o salário seguro do fim do mês mas sem desespero  - porque tem uma fé de rocha – vive um dia de cada vez;
 que tem os pés rachados do atrito no solo árido mas que aguentam qualquer espinho que venha lhe ferir e as mãos calejadas e grossas mas prontas para qualquer trabalho;
 Que não sabe ler nem escrever mas conhece a natureza ao seu redor melhor do que qualquer pessoa;
  Que tem a sabedoria de viver com o básico no século 21 e por isso sobreviverá a qualquer previsão de que um dia voltaremos aos primórdios;
 Que tem uma saúde de ferro e vive muitos anos por mais que nunca tenha visto um medico;
 Que é uma lição de vida mesmo sem a pretensão de ser. 
Ele mesmo, o homem do sertão.
Por isso,  para ele se curvem e se redimam de toda subestimação todos os que lhe tem ojeriza sem ao menos saber que cada dia para aquele homem é um milagre, como deveria ser para qualquer um de nós.

NA ESTRADA DA VIDA

Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...

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