Cuidando Bem da Sua Imagem

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GIRO REGIONAL

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UM GIRO NO NORDESTE

domingo, 11 de novembro de 2012

CRÔNICA: Bahia dos baianos.

       Faz tempo que mantenho comigo essa crônica acerca de uma verdadeira aventura carioca em solo baiano, e logo quando, no momento em que inicia na Boa Terra o ciclo anual de festas. Carlos Eduardo Novaes, advogado, cronista, romancista, contista e dramaturgo, desembarca na Cidade do Salvador com o intuito de se afastar das atribulações e ritmo do cotidiano carioca. Pecou o ilustre jornalista, por desconhecer o ritmo do cotidiano baiano, justamente nessa época do ano, e por estar totalmente despreparado para enfrentá-lo. Resultou isso em uma crônica divertida, mas porque não dizer, num retrato catastrófico causado pela surpresa de ter que enfrentar a energia típica de um povo que antes de mais nada ama estar alegre e descompromissado com qualquer que seja o compromisso, mas antes de mais nada de forma responsável, embora não aparentando.

O contraste colorido dos morros que circundam a cidade do Rio de Janeiro...

...com as luzes do entardecer cansado do coração empresarial e financeiro...

...quase nada têm a ver com a maravilhosa dádiva da natureza,
em uma das mais belas capitais do planeta.

“A REVOLUÇÃO BAIANA”

Jornal da Bahia – janeiro de 1981.
Carlos Eduardo Novaes.

“SALVADOR
Sempre se disse que o baiano faz as coisas sem pressa, descansado, movendo-se em “slow-motion”. Há exemplos que confirmam tal característica: ano passado fui mandar fazer duas cópias de chave e o chaveiro, para minha surpresa, disse-me que ficariam prontas no dia seguinte. Meia-sola, que no Rio coloca-se em cinco minutos, em Salvador demora cerca de quatro horas – cada pé. A cidade tem um ritmo muito próprio, indolente, que favorece a preguiça e o descanso. Daí, tendo chegado ao fim do ano à beira do stress(no Rio de Janeiro), achei que Salvador era o local ideal para retemperar as forças e descansar o corpo.

A cidade abraçada pelo mar é um convite à contemplação e descanso.

O calor ameno de um verão permanente e suas praias de águas mornas,
fazem da Capital da Bahia um destino inigualável.

Em qualquer ponto da cidade as ondas acariciam seus habitantes
e visitantes, convidando-os a viver em seu ritmo malemolente.

     Dia 30 de dezembro desembarquei em Salvador disposto a ficar recolhido em uma casinha na Pituba. O único esforço a que me permitiria seria o de segurar o coco para beber a água.
     - Vim a Salvador para descansar, apenas descansar – adverti meus amigos no aeroporto.
     - Tudo bem – disse um deles – mas só depois do Ano Novo, porque preparamos um réveillon para você.
     Já estava tudo organizado. Seria um réveillon com poucas pessoas, na casa do meu amigo Agnaldo Calça Curta. Não me senti à vontade para tirar o corpo fora. De qualquer maneira, pensei, um réveillon com poucas pessoas, numa casa, não deve passar da manhã... Às cinco da matina ainda não tinha conseguido sair.
     - Agora vocês vão me dar licença – disse com energia – mas vim a Salvador para descansar.
     - Peraí rapá! Logo agora que o sol vai nascer. Você já viu o sol nascendo aqui em Salvador?
     - Já vi – respondi meio cheio – já vi sim.
     - Mas não desse ângulo. Veja. Olha ali... já está clareando.
     - É uma pena que não possa parar o quadro como se faz no cinema e na televisão para apreciar melhor o nascer do sol, tenho certeza – continuou meu amigo - que a expressão “dar a luz” surgiu com o sol nascendo em Salvador.

Assim é a visão dos sonhos do visitante que almeja uns dias descompromissados
nas cálidas praias da Bahia.

No desembarque, logo na saída do Aeroporto "2 de Julho" a surpresa da
 um tunel de bambus passa a sensação de se estar entrando em outro mundo...
e não está tão longe assim de ser verdade. 
A alvorada baiana com o sol surgindo no horizonte sobre o mar
é de arrepiar... é algo que nunca mais se esquece...

...e se estiver surgindo estre os coqueiros de itapuã então...
     - Maravilhoso! – exclamei o primeiro adjetivo que me veio à cabeça – mas agora eu vou me retirar porque preciso descansar.
     - E você não vai acompanhar a procissão de Nosso Senhor dos Navegantes? Você não pode fazer isso! Não há nada mais bonito! Eu fico todo arrepiado só de falar.
     - Quando é?
     - É agora. Vamos sair todos daqui e pagar a escuna do Cobas no Iate...
     - Eu vim a Salvador para descansar.
     - Vai ter muito tempo para você descansar depois da procissão.
Não adianta tentar descrever a procissão marítima. É preciso participar. São centenas de barcos, escunas, saveiros, botes, acompanhando a galeota que conduz a imagem do Senhor dos Navegantes até a praia da Boa Viagem. Em todas as embarcações, uma batucada. Quando a procissão passa pelo porto há uma queima de fogos e todos os barcos apitam ao mesmo tempo. Realmente é de arrepiar.

A saída da procissão marítima tem lugar bem ao lado do Forte de São Marcelo.
A cidade dependurada no alto da encosta da Montanha de longe acompanha
sua primeira manifestação festiva de cada ano.

A galeota centenária carrega uma das mais belas imagens do
Senhor dos Navegantes da Bahia.

Centenas de embarcações de todo tipo cercam com fé e alegria
a pequena galeota que desaparece em meio a elas.

Novamente a bela embarcação se destaca quando chega em seu destino.
A praia da Boa Viagem, onde uma multidão ruidosa aguarda na frente da Igreja
o desembarque da bela imagem.

Espetáculo da fé e crenças de um povo simples e alegre.

     Voltamos às 5 horas da tarde. Eu já me arrastava pelo convés da escuna “Bom Tempo”.
No cais me despedi dos amigos.
     - Vou ver se durmo um pouquinho agora. Amanhã a geste se vê...
     -Amanhã? Você ficou maluco? Vai perder a festa da Boa Viagem? Nós vamos para lá hoje à noite. É dessas festas de largo que você não encontra mais no Rio... muita birita, muitas barraquinhas...

Nem é preciso descrever a animação do lado profano dessas
festas de largo que ainda perduram na Bahia.

De um dia para o outro esse é o quadro dessa festa que mistura
fé com alegria de viver.

     Era 3 horas da manhã quando estava entrando em casa. Despedi-me dos amigos que foram me levar de carro.
     - Vou começar meu descanso a partir de agora. Daqui uns três dias a gente se vê...
     - Gostou da festa da Boa Viagem? – perguntou Roberto Koch.
     - Muito! – respondi no meio de um bocejo.
     - Então nós viremos buscar você amanhã para ir à festa da Lapinha. É muito melhor que a da Boa Viagem!
     - Eu vim para descansar – respondi desanimado.
     - Tudo bem, mas você não pode perder a festa da Lapinha. É uma das mais importantes da Bahia... é a festa dos Reis Magos... é um tríduo que se estende até a madrugada do dia seis.
A festa de Reis é uma das poucas oriundas do folclore português. Além das barraquinhas há desfile de ternos e ranchos lembrando os antigos reisados.

O tranquilo e bucólico bairro da Lapinha se transforma numa réplica
portuguêsa em dias de ranchos e reisados.

O lado religioso e folclórico festeja a chegada dos Reis Magos.

Para logo depois dar novamente lugar ao festejo popular entre barracas,
samba de roda e outras manifestações da arte musical baiana.

Vim carregado da Lapinha. Por mim ficaria lá descansando num canto da calçada, mas os amigos acharam que eu devia ir em casa mudar de roupa e tomar um banho para melhorar o aspecto geral.
     - Mas para que tomar banho e mudar de roupa? – perguntei me arrastando com os braços sobre os ombros dos amigos.
     - Porque nós temos que ir pra festa do Bonfim que começa amanhã.
     - Eu vim a Salvador para descansar – comentei abraçando uma pilastra – Eu vim aqui para descansar... Depois da festa do Bonfim, acaba?
     - Depois da festa do Bonfim é que vai começar! Tem a festa da Ribeira e depois a festa do Rio Vermelho e a procissão marítima de Iemanjá e a festa da Pituba e a festa de Itapuã e a festa...

Concentradas na frente da Igreja de N. Sa. da Conceição da Praia,
as baianas com suas oferendas e uma grande multidão se preparam para
a marcha de seis quilômetros até a Colina Sagrada do Bonfim.

A participação do Afoxé dos Filhos de Gande da a nota
do sincretismo religioso do povo dessa terra.

Enquanto a marcha avamça, na escadaria da Igreja do Bonfim
em suas imaculadas vestes brancas as velhas baianas aguardam o momento
de entrar em ação com suas jarras de "água de cheiro".

Finalmente o momento esperado, a chegada da multidão que primeiramente
irá reverenciar o Santo maior da Terra da Bahia,
para em seguida se manifestar com a alegria que lhes é tão peculiar.

     - CHEGA! CHEGA! – interrompi – me levem para o aeroporto, por favor... eu prefiro descansar trabalhando no Rio.
     Entendi então porque o baiano faz suas coisas sem pressa, descansado, trabalhando em “slow-motion”: é durante o trabalho que ele descansa das festas da cidade. Salvador, não tenho dúvidas, é a cidade mais festeira do mundo. É um crime fazer o baiano trabalhar. A Bahia deveria ser, dentro do Brasil, uma grande reserva de festas e alegrias. Aliás, está caminhando para isso, tenho certeza: na véspera de meu retorno o Governador assinou o decreto 27.811 aumentando para cinco dias o Carnaval de Salvador.


Ps.: Diante da impossibilidade de responder pessoalmente a amigos e leitores que me enviaram cartões e telegramas de Boas Festas, quero aproveitar agora para pedir a todos que em 1981 não coloquem suas alegrias na poupança”.
E o que Carlos Novaes diz é verdade, verdadeira;
a chave da Cidade do Salvador é entregue para o Rei Momo na quinta-feira
e somente é devolvida na tarde da quarta-feira de cinzas.
Ao invés de cinco, são seis os alegres dias de folia.

Deixar para trás essa terra em dias de alegria é no mínimo...

...deixar de descansar das festas poulares, no Jardim de Aláh...

...ou de passar uma tarde boiando nas águas calmas do Porto da Barra.

Ou ficar sem fazer nada nas sombras dos "coqueiros de Itapuã" de Caymmi.

Também deixará de se sentar na grama dos fundos do Farol da Barra...

...e mesmo que tenha visto o nascer do sol da Bahia, não poderá
descrever como é seu pôr-do-sol, descansando de mais um dia de festa.

A Cidade do Salvador da Bahia de todos os Santos, é um dos únicos lugares
do mundo que tem o privilégio de ver o sol nascer no mar e se pôr sobre ele,
lá atrás da Ilha de Itaparica.




E para concluir, acrescento:
     Mesmo não vivendo em um lugar que tenha o clima maravilhoso da Capital baiana, em todos os aspectos, façam como eles, como os baianos; soltem suas amarras e curtam um pouco mais a vida, mesmo que para isso tenham que trabalhar durante uma boa parte do tempo, ou do ano.
 
 

blog do Nogueira

Os Cangaceiros de Verdade.

A
o me referir ao filme “Os Cangaceiros”, que no ano de 1953 foi levado às telas, algumas  lembranças relacionadas com essas figuras legendárias me vieram à memória. O épico nordestino mostrou Lampeão como um líder nato, justo com seus comandados, porém violento e insensível com os demais, aos quais aplicava suas próprias leis. Talvez no filme o tenham retratado muito mais fielmente do que se possa imaginar.
De fato Lampeão e seu bando levavam pavor aos ermos lugares dos sertões nordestinos, justificando a perseguição policial que lhe dedicaram os governos da maioria dos Estados daquela região.
O semi-árido sertão nordestino.
A caatinga predominante no sertão nordestino.

Para minha surpresa durante a fase jornalística de meu tio e sogro Luiz Nogueira Filho, com 25 anos, entre seus artigos publicados no “O Serrinhense”, jornal de sua cidade natal, havia um datado de 12 de abril de 1931 cuja manchete “Inacreditável Indiferença”, demonstra claramente o que representava Lampeão e sua gente para a população da região.Vamos acompanhar alguns trechos dessa reportagem feita por quem testemunhou tais acontecimentos naquela época.
     “Há poucas horas que estou em Queimadas e já posso auferir do pavor que assalta a sua pacata população, na iminência de sofrer a segunda investida do famigerado bando de Lampeão. Em poucos minutos que privei com alguns elementos representativos locais, senti a angústia que a todos domina com as notícias recebidas pelo delegado local cap. Antonio Ferreira de Araujo, transmitidas que foram por seu colega de Itiúba de que o bandido toma rumo desta vila.”
Em seguida Luiz descreve as providências de socorro que em vão são solicitadas ao governo da Bahia, resultando na manchete de seu artigo. Fica ainda mais claro o que se pensava do bando de Lampeão ao continuarmos a ler a reportagem.
     “Aproxima-se de uma localidade a horda de bandidos, o grupo de assassinos salteadores do século XX; a autoridade local, sem elementos para enfrentá-la apela para o Chefe de Polícia (...) e não consegue arrancar uma palavra de quem tem a obrigação de atendê-la em tão difícil situação.”
Refere-se aí o jovem repórter à solicitação do reforço de apenas nove homens armados a mais, já que regularmente essas cidades possuíam no máximo três policiais, além do delegado, para os ajudar no caso de enfrentamento com o bando de cangaceiros. Conclui o jornalista nato sua longa e indignada reportagem com a frase “...O Nordeste debate-se nas malhas de um crime sem precedentes, (...) enfrentando bandoleiros que zombam da polícia baiana, da mesma forma que os poderes estabelecidos zombam de seus constantes apelos e clamores.”

Lampeão (primeiro da esq.p/dir.) em Pombal - 1928

Em outro número desse mesmo periódico datado de 28 de dezembro de 1928, encontramos sob a manchete “Lampeão fazendo um raid automobilístico – suas declarações em Tucano” uma raríssima entrevista com Virgulino Ferreira, o Lampeão, tratado como “capitão”, na qual ele tenta explicar e até justificar a causa de sua marginalidade. Acompanhemos alguns trechos.
 
– Que idade tem o capitão?
- Tenho 28 anos de idade.
- Há quantos anos vive em luta?
- Há 14 anos.
- Quais os motivos que levaram o capitão a abraçar essa vida acidentada e perigosa?
- Questões de família e sobretudo o assassinato de meu pai. Meu pai não sabia manejar uma arma.
Possuía um criatório regular e isso despertou a cobiça de um vizinho nosso que não nos olhava com bons olhos. De uma feita quando meu pai reunia o gado foi atacadotraiçoeiramente por esse vizinho. Assassinado meu pai fui para a companhia de um tio, queabandonei quando atingi a idade de 14 anos, para executar meu plano de vingança e de lápara cá não abandonei mais a vida do cangaço.”

Em outro trecho lhe é perguntado o porquê de haver se retirado de Pernambuco, ao que ele responde:

     “- Eu lhe conto. Em Pernambuco até as folhas das árvores são minhas inimigas. Lá, quando eu dormia ou descansava embaixo de uma árvore, sempre trazia uma bala na agulha de minha carabina receando que caísse sobre mim alguma “folha inimiga”. (...) Eu sei que esta vida não é lá muito boa, mas se tenho sofrido, em compensação, tenho gozado bastante. E o que é a vida? Sofrer e gozar.”

O município de Tucano é vizinho ao de Serrinha, terra dos Carneiro Ribeiro e dos Nogueira, conhecidos por sua retidão, valentia e destemor. Talvez por essa razão a última pergunta feita pelo repórter ao capitão Virgulino.
    
     “- O capitão não receia que uma força lhe ataque inesperadamente nesta vila?
       - Qual nada, em Serrinha o destacamento conta 9 praças e eles não virão até cá.”

Por alguma razão Virgulino, mesmo com seu bando em maior número, evitou entrar em Serrinha. Dando por encerrada a entrevista resta ao jornalista observar a retirada do bando e seu líder acomodados na carroceria de um caminhão que haviam “requisitado rodando pelas ruas desta vila entoando canções despreocupados, felizes, inteiramente alheios aos comentários da população que assistia a esse quadro inétido, como se fora um sonho irrealizável.” Palavras no repórter.
Uma outra entrevista julho de 1928 no jornal “O Povo”, trazia a seguinte manchete e chamada de primeira página: “A palavra de Lampeão – O monarca selvagem dos sertões” e complementava com a frase do chamado “jaguar bravio do nordeste” - “Não sou cangaceiro por maldade minha, mas pela maldade dos outros...” 
O Governo da Bahia na tentativa de conseguir conter Lampeão, chegou a publicar e distribuir anúncio de recompensa por sua captura, tal qual se fazia no velho oeste americano.

Recompensa de 50 contos de réis, pequena fortuna na época.

Grupo de Cangaceiros em Mossoró.

Há apenas uma contradição no filme, que assisti quando garoto, talvez para mostrar o cangaceiro como cowboy ao estilo americano, a grande quantidade de cavalos utilizados como montaria pelo grupo de Lampeão. Pela entrevista acima, o bando ao deixar a localidade em que se encontrava saiu sobre a carroceria de um velho caminhão, o que demonstra a ausência desses animais devido certamente à dificuldade em mantê-los, nessa região tão carente de pasto e água. Em nenhuma das fotos feitas por Benjamim Abraão, que se juntou ao bando para reportar e filmar com a permissão de seu líder, se vê tais montarias. No máximo em alguma oportunidade poderiam se valer de pequeno grupo de resistentes jegues, mas apenas para carregamento de mantimentos, um companheiro ou companheira adoentado além de outros apetrechos desses verdadeiros nômades sertanejos.

O fotógrafo confraternizando com Lampeão.

O pequeno e resistente jegue, típico animal de carga do nordeste.

A morte de Lampião não foi por acaso, ele foi vítima de uma manobra policial que deu certo entre tantas outras frustradas. Como não era fácil de ser encontrado, quem ajudasse de alguma forma para sua localização, era sustentado a peso de muito dinheiro e sabia muito bem que se fosse descoberto e delatado, ou se fracassasse na tentativa de sua captura, pagaria bem caro com a vida sua e de seus familiares. Desse modo a chamada “Volante”, grupo composto de quase trinta homens que perseguia os cangaceiros, comandado por um certo tenente Bezerra, da Força Alagoana, conseguiu por meio de informantes da região cercar o bando de cangaceiros já reduzido, por deserção ou morte, na madrugada de 28 de julho de 1938, num lugar denominado de “Grota de Anjicos” em Sergipe. Surpreendidos enquanto dormiam em mais um acampamento, onze cangaceiros foram mortos entre eles Lampeão e Maria Bonita. Os que conseguiram fugir se embrenharam na caatinga e viveram escondidos por vários anos. Alguns foram presos ou se entregaram à policia, outros mais tarde seriam descobertos já idosos e senis.

A volante, alguns soldados eram disfarçados de cangaceiros.

A Grota de Anjico, local onde dormiam e foram surpreendidos pela Volante.

Presos ou anistiados. Cobra Verde, Vinte e Cinco, Peitica, Maria Jovina,
Pancada, Vila Nova, Santa Cruz e Barreira, (advogado?)

Como havia a necessidade de se apresentar provas definitivas de que o bando havia sido dizimado, o tenente Bezerra ordenou que as cabeças dos mortos fossem decepadas e colocadas em latas com sal para serem transportadas com a finalidade de exibi-las em praça pública. Por fim foram mumificadas e mantidas em exibição pública por vários anos no museu Nina Rodrigues, no prédio que ocupava no Centro Histórico da Cidade do Salvador, próximo ao Pelourinho. Em 1967 estive por lá e pude visualizar essa terrível exibição.

De baixo para cima, Lampeão, Quinta-Feira, Maria Bonita e Luiz Pedro,
Mergulhão, Elétrico e Caixa de Fósforo, Enedina, Cajarana, não conhecido e Diferente)


Nos dias de hoje tais exemplares macabros já não mais são vistos. Longa demanda jurídica de descendentes dos onze cangaceiros mortos, conseguiram que fossem definitivamente sepultadas com alguma dignidade, como merece qualquer ser humano. 

Caros seguidores e visitantes.
Como podem constatar, recebi uma informação do Sr. Everton Francisco que vem enriquecer nossa publicação com uma preciosa e rara imagem do grupo de cangaceiros em seus cavalos, o que achava ser apenas uma leitura cinematográfica dessa prática.

Como ele mesmo nos informa, da direita para a esquerda estão
o cangaceiro Ezequiel e marcado com uma cruz Lampeão.

Ainda há quem afirme que o chefe do bando teria se evadido do local do massacre momentos antes da invasão e até que, por motivos políticos, a notícia do fim do bando de Lampeão teria sido forjada para evitar o desgaste moral da força policial que os perseguia. Esta parece ser uma longa polêmica em torno do assunto, com alguns tentando fazer da figura de Lampeão um herói enquanto que documentalmente por meio de jornais da época, como na reportagem de Luiz Nogueira Filho, foi apenas um fora da lei quadrilheiro que roubava, matava e se arvorava de justiceiro.

Lampeão, Maria Bonita e seu bando de cangaceiros.

O tema Cangaceiros, Cangaço e o agreste do sertão, também serviu para que artistas nordestinos demonstrassem, cada um a seu modo e com o passar dos anos, a sua arte simples e expressiva.

Xilogavura de J. Miguel, famoso artista popular nordestino.

Bonecos de argila inspirados nos cangaceiros, arte inspirada nos
trabalhos de Mestre Vitalino.

Xilogravura para a literatura de cordel.

Arte modernista com o tema do cangaço de artista ignorado.

(Imagens e fotos de Benjamim Abraão no Google)
Caros seguidores e visitantes.
Como podem constatar nos comentários, o Sr. Everton Francisco nos esclarece acerca do uso de cavalos pelos cangaceiros. Como não havia encontrado referência a essa prática, imaginei que se tratava apenas de uma leitura cinematográfica a caravana que circulava pelo sertão. Para melhor ilustrar o que disse nos fornece uma rara e bonita imagem do grupo em seus cavalos.

Conforme nos informa o Sr. Everton, em suas montarias,
da direita para a esquerda estão, Ezequiel e Lampeão.

NA ESTRADA DA VIDA

Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...

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