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O Ministério Público de Santa Catarina investiga uma denúncia de abuso sexual de menores por parte do ex-deputado estadual e atual suplente de vereador na Câmara Municipal de Florianopólis, Nilson Nelson Machado, mais conhecido como Duduco. A investigação é realizada há oito meses.
Duduco já foi vereador da capital por duas vezes e é conhecido pelo trabalho social realizado com crianças e jovens, que fizeram a denúncia. Uma das vítimas, que não quis ser identificada, afirmou que ele é um "psicopata". "Ele criava situações, ele achava que tinha posse das pessoas".
O ex-deputado virou figura de destaque por desenvolver projetos sociais e cuidar de crianças carentes em um lar-abrigo, a Creche do Duduco, trabalho que dura mais de 30 anos. As vítimas, porém, alegaram que ele esconde "uma outra face". Um homem que viveu no abrigo dos 8 aos 22 anos contou que, aos 13, os abusos começaram. "Ele tocava nas partes íntimas. Isso no quarto dele". Segundo a vítima, essa situação ocorreu diversas vezes.
De acordo com a vítima, com o passar do tempo, os abusos ficaram cada vez mais frequentes. "Ele me tratava dessa forma, como se eu fosse o companheiro dele. Muitas vezes, fugia da casa e ele, para ir atrás, ele inventava, dizia que a gente tinha roubado alguma coisa dele", afirmou a vítima. O objetivo, segundo a denúncia, era que a polícia fosse atrás dos menores.
Sem saber que estava sendo gravado, Duduco admitiu, em um vídeo, ter se relacionado com os menores do abrigo. "Toda vida eu trabalhei contra esse tipo de relacionamento, agora que eu fui mais fraco, eu fui. Eu da minha fraqueza, eu me entreguei e é verdade", afirmou o político na gravação. O vídeo tem 30 minutos de duração e, nele, Duduco cita nomes: "Na minha fraqueza, eu me envolvi com o (…) e aí quando eu me separei do (…), o (…) começou a atravessar o meu caminho".
Procurado, ele negou as denúncias e refutou qualquer possibilidade de relacionamento com os adolescentes.
Mais denúncias
Outro garoto atualmente com 12 anos e que viveu no abrigo até o ano passado contou que passava fome na casa e era obrigado a praticar favores sexuais em troca de comida. "Ele me chamava no quarto para ver se eu estava com fome, daí ele trancava a porta do quarto, me levava para a cama, tirava a roupa e fazia isso à força."
Segundo a denúncia, os abusos sexuais eram cometidos apenas contra meninos, mas as garotas também sofriam maus-tratos. Uma adolescente de 14 anos disse que foi espancada várias vezes. "Ele batia na gente de cinta, sandália, com a mão também, pegava pelo nosso cabelo e chacoalhava a gente."
A menina deixou a casa no ano passado, quando foi resgatada pela irmã mais velha, que contou que também morava no abrigo e que sofrera maus-tratos até ser adotada por uma família. "Era chute, era soco, entendeu? Eu apanhei muito, muito lá dentro mesmo. Passava fome, entendeu? Eu saí de lá não sabia nem ler e escrever direito", disse.
Uma ex-funcionária confirmou as denúncias. Segunda ela, alguns meninos dormiam no mesmo quarto junto com Duduco. "Ele tinha uma cama que era uma cama de solteiro em cima, como um beliche e ele dormia na cama debaixo. Mas era no quarto dele." Um dos adolescentes chegou a desabafar, confessando a ela que era abusado. Duduco a demitiu dias depois.
Na última eleição, no ano passado, o político recebeu mais de 2.300 votos e foi eleito suplente na Câmara Municipal da capital. As vítimas disseram que ele usava o carisma e a popularidade como armas. "Ele ameaçava muito, dizendo que era deputado, que fazia o que quisesse que ninguém acreditaria no que eu iria falar", afirmou um dos garotos.
Sempre que recebiam a visita de um conselheiro tutelar, os jovens disseram que eram obrigados a mentir. "Ele falou assim: ‘Minha filha, mente para o pai não poder se preso, porque, senão, vocês não vão ter ninguém para cuidar de vocês’", disse a menina de 14 anos.
Inquérito
O inquérito policial tem mais de 200 páginas e contém relatos de vítimas que acusam o ex-deputado de maus-tratos e abusos sexuais. Em um documento, a autoridade policial afirma que as denúncias são extremamente graves e pede para que sejam apreendidos mídias de computador, fotos, câmeras fotográficas, memórias e demais materiais que comprovem os suspostos abusos.
A advogada que representa as vítimas, Jacie Anacleto, entrou com a primeira denúncia contra Duduco há mais de quatro anos.
Por enquanto, o Ministério Público disse que não vai se manifestar sobre o caso. Mas o órgão já deu início ao procedimento preparatório para investigar as denúncias de "situações de risco e cárcere privado envolvendo crianças e adolescentes".
‘À disposição da Justiça’
Procurado, Duduco negou todas as acusações. "O que eu vejo é apenas uma briga de família. Alguns que no passado que vieram a se desentender comigo com as suas esposas se revoltaram, as esposas, por brigas familiares comigo, resolveram dizer besteira na Justiça", afirmou. "Coloco-me à disposição da Justiça." Ele afirmou que ajudou na criação e na luta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
O ex-deputado negou que tenha tido qualquer envolvimento com menores. "É uma casa onde uma pessoa como eu adota crianças. Não é abrigo. Lá é feito tudo muito de coração e eu estou à disposição da Justiça. Eu clamo pela Justiça. Eu quero isso mesmo, que a Justiça me chame o mais rápido possível", afirmou. "Eu nunca namorei [nenhum dos internos]."
FRAM MARQUES. Com informações do Globo.com