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GIRO REGIONAL

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UM GIRO NO NORDESTE

domingo, 4 de maio de 2014

1ª DAMA DO TRÁFICO É PRESA


A traficante Jaqueline Ferreira de Souza, de 28 anos, que foi presa em Serrinha logo após visitar o companheiro Fracileno de Jesus Nunes, o “Su”, no conjunto penal do município, onde está recolhido em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), na ala de segurança máxima, era, segundo a polícia, uma das líderes da quadrilha que controla o tráfico de drogas em Bom Jesus da Lapa e região.

Com dois mandados de prisão preventiva em aberto, ela era incumbida de transportar drogas entre Serrinha e Bom Jesus da Lapa, escondidas nas fraldas da filha do casal, segundo apurou o delegado Mozart Cavalcanti, coordenador da 15ª Coordenadoria Regional de Policia do Interior (Serrinha ).

Outra integrante da quadrilha, identificada como Viviane Vieira Maia, 26 anos, foi capturada em Bom Jesus da Lapa, por policiais militares. As investigações apontam que ela emprestava a conta corrente para o tráfico, fazendo depósitos e retiradas bancárias, a mando de Fracileno de Jesus,  líder maior do grupo. Viviane trabalhava na Pastoral da Criança naquela cidade e teve a prisão decretada pela Justiça local.

Drogas e armas apreendidas com a quadrilha em janeiro

O esquema de tráfico entre Serrinha e Bom Jesus da Lapa começou a ser desarticulado no final de janeiro deste ano, durante a Operação Líder, deflagrada na Fazenda Jibóia, de propriedade de Su, na zona rural de Bom Jesus da Lapa. Ali foram apreendidos mais de 100 quilos de drogas, entre maconha, cocaína e crack, 517 munições de diversos calibres, quatro pistolas, duas carabinas, 14 carregadores, um rifle com mira de longo alcance e supressor de ruídos, 13 cadernos com anotações da contabilidade do tráfico, extratos de comprovantes em contas bancarias e R$ 28 mil.

A operação, feita conjuntamente pelas polícias Civil e Militar, resultou ainda nas prisões de vários integrantes da organização criminosa liderada por Su, responsável pelo tráfico de drogas em Bom Jesus da Lapa e região. Também estão presos no Conjunto Penal de Serrinha: Franclin Darling de Oliveira Lima, o “Frank”, e José Nativo Ferreira de Almeida Júnior o “Nativinho”, irmão de Jaqueline.

De acordo com o delegado Mozart Cavalcanti, todos respondem por uma série de crimes (homicídio, tráfico, associação para o tráfico, porte ilegal de arma, inclusive de uso restrito). Inicialmente recolhido no Presídio da Mata Escura, em Salvador, Su, por continuar comandando o tráfico de dentro da cadeia, foi transferido para o sistema prisional de Serrinha. Ele, Jaqueline e Frank devem ser transferidos para o presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Informações: www.cleristonsilva.com.br

NAQUELAS VEREDAS DO SERTÃO CANGACEIRO

Rangel Alves da Costa*


Imagine o seguinte cenário: Mata fechada, tomada de catingueiras, aroeiras, angicos, quipás e tantas outras árvores de galhagens pontudas, ameaçadoras e traiçoeiras. Mais rente ao chão, urtigas e cansanções, cabeças-de-frade, xiquexiques, tocos pontiagudos e perfurantes, cactos agulhados, carrapichos, tufos com seus habitantes venenosos e indesejáveis. Pontas de pedras miúdas, lajedos cortantes, espinhos abertos em flor, cipós se entrelaçando, grotas e armadilhas. Tudo na natureza cerrada ou por veredas de difícil caminhada. E o calor insuportável se em tempos de estiagem, ou lamaçais escorregadios se em épocas de trovoadas. Além disso, os caminhos perigosos e traiçoeiros, as curvas perigosas, os olhos que pareciam escondidos por dentro da mataria. As incertezas em cada passo, o aperreio em cada instante da vida, seja debaixo do sol, seja debaixo da lua.
Imagine a seguinte cena: Um monte de gente caminhando apressadamente, cansada, esbaforida, tendo que seguir sempre adiante custe o que custar. Pessoas famintas, sedentas, sem tempo de parar para buscar qualquer alimento no embornal ou procurar um fio d’água perdido na mata. Homens correndo, homens fugindo, se entrincheirando, avançando, recuando, atacando, se movendo de canto a outro sem parar. Chovesse ou fizesse sol, todos cobertos com roupas pesadas, com armas, cartucheiras e embornais descendo dos ombros, cruzando os peitos, alojadas nas perneiras. Sempre em alerta, atentos ao menor barulho surgido na caatinga, muitas vezes tinham os olhares voltados apenas para frente e para os lados, para os tufos ao redor, sem ter tempo de dar a menor importância ao que seria encontrado ou pisado pelas grossas alpercatas de couro cru.
Agora imagine a seguinte situação: Na pressa do passo, no avanço rotineiro e até descuidado, ou mesmo já mais lentamente e com esmerado cuidado pelos barulhos suspeitos ouvidos, pela falsa imitação de canto passarinheiro escutado instantes atrás, de repente e alguém lá na frente, aquele que está com a função de abrir caminho, para e levanta o braço direito. Ou apenas parando para gesticular, fazer sinais, apontar direções, ordenar que parte do grupo avance atacando por um lado, enquanto outro deve adentrar na mata pelo outro lado, de modo que o inimigo se veja cercado e sem saída. Ou ainda soltando um grito de comando para recuar, avançar, atacar, se dissipar ou, já sentindo a presença do inimigo e o pipocar de suas armas, querendo dizer que mais uma refrega de vida ou de morte está para acontecer. E num segundo os tiros partindo de todas as direções, gente se entrincheirando rente ao chão, alguns procurando arvoredos ou pedreiras como proteção, outros correndo quase agachados, mas sempre com armas empunhadas. E atirando, contra-atacando, tendo o corpo lanhado da mata impiedosa, muitas vezes com o corpo sangrando pela bala desnorteada que não pôde evitar. Gritos, berros, sons terríveis das armas cuspindo fogo, gemidos abafados, últimos suspiros. A morte. Mas também a continuidade da vida.
E certamente as cenas seguintes: Após colocar o inimigo em recuada, afligi-lo de grandes perdas ou colocá-lo em fuga desembestada por cima de troncos e catingueiras, ter de se refazer no que restou, lamentar os mortos, tentar salvar os feridos, nada parece ainda seguro. Não raro que sequer há tempo para olhar pra trás, para sentir as perdas, para arrastar ou levar nos ombros aqueles que clamam socorro. Sabem que mais adiante a mesma luta será travada, as vidas estarão novamente entregues ao comando do destino Tantas vezes não há vencido nem vencedor, apenas opostos que lutam ferozmente e são vitimados de lado a lado. Cada vitória é comemorada na própria vida que milagrosamente foi preservada, mas não se sabe até quando. Dependendo das circunstâncias, os mortos são abandonados ali mesmo nas veredas da luta, deixados à sorte dos animais carnicentos e das cruzes invisíveis. E um rastro de sangue vai ficando para trás, demarcando a terra sertaneja nas costumeiras vinditas entre cangaceiros e volantes.
Parece filme, relato de uma saga travada nos carrascais nordestinos, um épico medonho que teve seu auge nos tempos de Lampião e seu bando, e com a polícia volante como personagem secundária, mas não menos importante. A película da história não afasta a ideia de que em muitas ocasiões e contextos tenha sido realmente assim. Ora, o cenário não poderia ser outro, as cenas também, e os personagens aqueles homens escolhidos pelo destino para combater as ilusões de um tempo injusto.
Filme longo, penoso, trágico, sangrento, abominável para uns, plenamente justificado para outros, mas sempre memorável em todos os sentidos. Mesmo que se negue o valor do cangaço, a coragem daqueles homens do sol e a sua luta infinda, não se pode deixar de reconhecer a grandiosidade do fato histórico. Eis que o cangaço representou o despertar do homem comum, totalmente renegado pelo poder vigente, e oprimido na sua própria terra, para a possibilidade de reconhecimento e valorização através da luta.
Luta inglória, sim. Mas o cangaço não buscava vitória. Lampião não buscava troféu. Talvez apenas mostrar que o sertanejo, igualmente ao seu sol, também se levanta.


Poeta e cronista
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CRÔNICA: AFETOS PERDIDOS

Rangel Alves da Costa*


Lamentar o tempo perdido, o que não foi realizado e as coisas que por descuido, omissão ou relaxamento, não foram feitas no tempo certo, soam como fatos rotineiros na vida do ser humano. E para mais tarde viver amargurado ou entristecido porque não aproveitou como deveria determinadas oportunidades oferecidas pelo percurso que não volta atrás.
Diversas músicas e poemas abordam sobre o assunto. Não por acaso que as recordações amorosas sempre envolvem situações que poderiam ser vivenciadas de outra maneira, de modo a não surgir como saudades tão dolorosas. Igualmente cantar a infância, cujas lembranças vão além da idade para se situar nos momentos doces da criancice e nas peraltices abençoadas.
Ademais, todo retorno mental ao passado envolve além do conhecido para alcançar também o não realizado. Eis que é próprio do ser humano lamentar o que passou e sonhar em retornar para aparar as muitas arestas de suas culpas. E não apenas isso, pois também sente - como se fosse possível realizar - uma necessidade imperiosa de reviver os tempos idos para viver e conviver de forma diferente, agir de outro modo perante diversas situações, amar mais, compreender mais, buscar os afetos perdidos.
A música Epitáfio (Titãs) diz que “Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. Devia ter arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer. Queria ter aceitado as pessoas como elas são... Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol se pôr. Devia ter me importado menos com problemas pequenos, ter morrido de amor. Queria ter aceitado a vida como ela é...”.
Por sua vez, o poema Instantes (Nadine Stair é a verdadeira autora, e não Jorge Luis Borges) diz que “Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a serio. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver trataria de ter só bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora. Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda chuva e um pára-quedas. Se voltasse a viver viajaria mais leve. Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim de outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres, brincaria mais com as crianças, se eu tivesse outra vez uma vida pela frente...”.
Situações como as descritas acima são bastante comuns nas pessoas. É uma tentativa quase que desesperada de retornar ao passado para fazer aquilo que não foi feito no tempo certo. Com o tempo passando, a idade avançando, as marcas da caminhada pelo corpo e as transformações existentes, só resta ao indivíduo querer recuar aos instantes de paz, de alegrias e felicidades, de afazeres costumeiros que somente agora surgem como tentadoras recordações.
Contudo, há um aspecto sempre doloroso neste idílio de retorno ao passado. Ao perder pais, amigos ou pessoas próximas, não é difícil que a pessoa de repente se sinta culpada de não ter aproveitado mais aqueles instantes na vida, ao lado daquele que partiu. Olha para o retrato e intimamente diz que poderia ter abraçado mais, amado mais, convivido mais, compartilhado mais. E por isso chora pela recordação e pelas oportunidades perdidas de maiores demonstrações de amor e carinho. Triste que seja assim, mas inevitavelmente sofremos muito pelos nossos afetos perdidos.


Poeta e cronista
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CRÔNICA: CHUVISCOS, CHUVAS E CHUVARADAS - Rangel Alves da Costa*


Rangel Alves da Costa*


O clima ainda continua quente, mas não com aquele calor insuportável de uns quinze dias atrás. O templo nublado, o ar em maior e constante movimento, bem como as nuvens que se derramam de vez em quando, tudo isso faz com que a temperatura deixe de ser tão torturante. Mas haveria de ser assim, eis que as invernadas já se anunciam como salvação.
E salvação não apenas para o homem do campo, para o sertanejo nas distâncias matutas, mas para todo aquele que espera melhoria no preço dos alimentos, ter garantido o milho no São João, ter uma mesa mais farta e com alimento fresco saído da terra. E somente as chuvas para que o homem se anime para o preparo do solo, o plantio e a colheita.
Por isso mesmo que chega como prenúncios bons essa mistura no derramamento das nuvens. Mistura porque ainda não chegaram as trovoadas nem as chuvas mais fortes e constantes, mas apenas uma mescla de molhação, que vai desde o chuvisco à chuvarada. Eis que o tempo nublado ora traz apenas uma chuvinha miúda, ora uma chuva mais espessa e também a chuvarada mais potente e com ventania.
Os dois últimos dias estiveram neste misto climatológico. As chuvaradas começam a cair na noite, avançando na madrugada, para depois se transformar apenas em chuvas inconstantes. De repente e o tempo fecha para que as nuvens despejem as suas águas. Mas tudo muito rápido, passageiro, diferente do que geralmente ocorre na madrugada, com chuva forte de causar transtornos e alagamentos.


Nas chuvaradas assim, de barulhar nos telhados e descer sobre as ruas um véu contínuo de pingos grossos que depois escorrem pelas vias e inundam canteiros, muitos aproveitam para dormir melhor. Primeiro ouvem a canção da chuva caindo e em seguida dançam a valsa das saudades e dos sonhos incertos. Mas outros preferem ficar observando o cair das águas para viver as nostalgias da noite e reabrir os livros velhos das recordações.
Já os chuviscos tomam conta de parte da manhã e da tarde. Quase não encharcam ninguém, não formam poças nem impedem que as pessoas saiam de suas casas, mas também não garantem que cabelos não sejam desarrumados e elegâncias desfeitas, vez que todos parecem sempre iguais andando apressadamente, cabisbaixas ou portando guarda-chuvas. E as ruas são tomadas de pessoas assim, numa correria danada para fugir dos chuviscos.
Verdade é que enquanto uns louvam a Deus pelas bençãos das chuvas, outros se dizem chateados com a molhação. Muitos preferem caminhar molhados de suor a sentir pelo corpo os pingos leves que caem. É uma questão de não querer aceitar as necessárias transformações. Ademais, se as chuvas nada significam para muitos que moram nas cidades grandes e têm o asfalto por chão, diferente ocorre com os viventes dos sertões e das brenhas esturricadas.
Se para o homem urbano as chuvas podem trazem transtornos, resfriados e outras doenças, além de impedir tantas práticas no conforto de seu dia a dia, para o homem do campo tais concepções possuem norteamentos muito diferentes. É no pingo d’água que mora sua esperança de sua sobrevivência, é na gota de chuva que está a possibilidade de um amanhã sem esmolas ou padecimentos, é na trovoada que vem toda sua seiva de vida.
No sertão de onde vim, basta que as nuvens escurecidas se aproximem e os olhares já fazem a festa da esperança, os olhos marejam quando caem os primeiros pingos e tudo fica perfumado pelo cheiro que vai subindo da terra com a molhação. Coisa linda de se ver é o sorriso sertanejo em momentos assim, onde goteira se torna motivo de alegria e as correntezas vão levando os acúmulos de sofrimentos por causa das estiagens.
Mas mesmo a insensibilidade tão própria da cidade grande não ofusca o encantamento trazido pelas águas da estação. Seja através dos chuviscos, chuvas ou chuvaradas, há um tempo que se renova, se banha e se inunda para dias melhores. Igualmente ao ser humano que toma banho para se limpar e se sentir mais refrescado, o tempo também sente a necessidade dessa renovação. Por isso esses pingos que ouço lá fora e me fortificam por dentro.


Poeta e cronista
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sábado, 3 de maio de 2014

Motorista que bateu em prédio não tem habilitação, mas nega "pega"

Michel depois da batida
O técnico em eletrônica Michel Vinicius Costa Brito, 30 anos, não assumiu em depoimento que estava participando de um pega quando perdeu o controle do carro que dirigia, uma Hilux, e atingiu um prédio na Pituba, segundo informações da TV Bahia.
A versão de que o motorista estava envolvido em uma disputa com um amigo foi dada por moradores que presenciaram o momento pós-batida. "Ele só dizia que ele estava vindo da balada, e que ele estava, das palavras dele, pegando racha com esse rapaz, o amigo dele, e que ele perdeu o controle da direção, mas ele estava completamente embriagado", narrou a moradora Maria das Graças Mota.
Na delegacia, Michel disse que perdeu o controle da direção ao escorregar na pista molhada quando voltava do trabalho - ele instala câmeras de segurança. No entanto, ele assumiu que chegou a beber. Ele não tem carteira de habilitação. A fiança para que ele saia da cadeia é de 3 salários mínimos e meio, cerca de R$ 2.600.
O impacto da batida destruiu uma parte da entrada da garagem do edifício, na avenida Otávio Mangabeira, perto da Praça Nossa Senhora da Luz. Moradores dizem que o local tem acidentes constantemente, por ficar depois de uma curva - só o poste que fica em frente ao local já precisou ser trocado três vezes por conta dos impactos.
 O veículo ficou ficou completamente destruído com a batida. Outros dois carros que estava estacionados na garagem do edifício também foram atingidos.

Apesar da gravidade do acidente, o motorista não sofreu ferimentos graves.
Carro depois da batida na Pituba (Foto: Reprodução)
Carro ficou destruído depois da batida (Foto: Marina Silva)


BANANA JOGADA: Pelé minimiza ato racista contra Daniel Alves na Espanha: “Foi banal”

Pelé minimizou nesta sexta-feira (2) o ato de racismo cometido contra o lateral-direito da seleção brasileira e do Barcelona, Daniel Alves, no último domingo, durante jogo do Campeonato Espanhol. O ex-jogador considerou “banal” o fato de um torcedor do Villarreal jogar uma banana em direção ao atleta, que comeu a fruta, ato que trouxe repercussão mundial no combate ao racismo. “Racismo não é no futebol, tem em todos os setores da sociedade há muito tempo. O que não podemos deixar uma coisa tão banal, de um carinha que jogou uma banana, e fazer do limão uma limonada”, disse Pelé, durante visita a Ribeirão Preto, no interior paulista.
O ex-jogador indagou aos jornalistas presentes quais outros casos semelhantes ao de Daniel Alves tinham ocorrido no futebol mundial e foi lembrado dos atos contra o ex-lateral-esquerdo da seleção Roberto Carlos e do atacante italiano Mario Balotelli. “Quantos eventos de futebol têm no mundo? Não é tanto assim”, disse o Rei do Futebol. “No meu tempo jogavam jaca, manga”, completou o astro, dizendo não ter visto também a campanha contra o racismo promovida por Neymar após o fato ocorrido com Daniel Alves.
O atacante do Barcelona postou uma foto em que aparece segurando uma banana, além de ter feito críticas e desabafado contra o racismo no futebol por meio de sua rede social. 'JEITINHO BRASILEIRO' - Pelé também admitiu nesta sexta que tem dúvidas sobre o sucesso da Copa do Mundo no Brasil, que será iniciada no próximo dia 12 junho, mas afirmou que “com jeitinho brasileiro vai dar tudo certo”. “Temos algumas dúvidas nas construções dos estádios, o que é uma pena, porque o Brasil sempre foi grande. Realmente perdemos grande oportunidade, infelizmente temos essa dúvida e com jeitinho brasileiro vai dar tudo certo”, previu o ex-jogador.
Mesmo com a fama de “pé-frio”, o Rei do Futebol cravou que o Brasil será campeão e sequer respondeu quando indagado sobre quem seria o próximo presidente do País. O astro, no entanto, admitiu que uma derrota do Brasil na Copa possa acirrar o clima político e ampliar as manifestações de rua. “Como futebol é uma caixa de surpresa, uma derrota pode dar mais força às manifestações”, afirmou.
Pelé voltou a pedir, como na Copa das Confederações, que a seleção brasileira fosse poupada das manifestações, porque os jogadores não são responsáveis pela corrupção na política, um dos motivos dos protestos recentes. “A seleção brasileira não tem nada a ver com a corrupção da política porque a seleção só enaltece o Brasil. Não tem culpa se tem um monte de ladrões roubando, aproveitando a oportunidade”, concluiu.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

David Blaine - Mágica é uma coisa... Mas que esse cara faz já é outro nível

A mágica que esse cara faz enlouqueceu Will Smith, Bryan Castron, Kanye West e mais famosos...

O nome dele é David Blaine e sua missão no mundo é confundir a cabeça das pessoas.
Brincadeiras à parte, você não vai acreditar no que esse mágico é capaz de fazer. No vídeo a seguir (com legendas em português), David se encontra com diversas celebridades para impressiona-las… e ele consegue.
Você também vai ficar maluco com os truques. Clique no play.


Padaria testa avião não tripulado para entregar pães aos clientes

Uma padaria de São Carlos, no interior paulista, está testando o uso de um drone (avião não tripulado) para a entrega de pães. A ideia é que o consumidor pague uma taxa de R$ 2 e os pães sejam entregues em poucos minutos em suas mãos por via aérea. 

Os primeiros testes foram satisfatórios, mas para colocar a novidade em prática será preciso aguardar uma autorização do governo, já que não existe no Brasil uma lei que regulamente o uso desse tipo de aeronave. Por isso, já foi feito o pedido e é aguardada uma regulamentação por parte da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Drone usado pela Pão To Go para fazer entregas em São Carlos (SP)
O pão deve vir em uma embalagem especial para que o produto não fique danificado durante a entrega (Foto: Divulgação)

A discussão para inserir o uso de drone nessa atividade será submetida a processo de audiência pública ainda este ano. O pedido partiu da Pão To Go, uma padaria drive-thru criada em São Carlos e que hoje já tem unidades em diversos locais. O mentor da ideia, o empresário Tom Ricetti, conta que já foram realizados três testes com a aeronave. 

Ele diz ter se inspirado ao ver uma reportagem sobre a gigante do varejo on-line Amazon e a rede americana de pizzarias Domino's, que anunciaram o interesse em usar aviões não tripulados para entregar produtos aos clientes. “Achei que entregar pães, doces e outros produtos leves seria ainda mais fácil.” 

A partir daí ele adquiriu o aparelho que voa com seis hélices e pode transportar até 3,5 quilos. A aeronave não deverá aterrissar na casa do comprador, mas soltar a encomenda a no máximo 3 metros de altura numa embalagem que não prejudique a mercadoria. 

As entregas em um primeiro momento se resumiriam a regiões no entorno da padaria e a produtos sólidos, como pães e bolos. O drone não deve acabar com as entregas feitas por motos, mas representaria uma evolução nesse serviço. Hoje a padaria conta com 112 franquias no Brasil, nos Estados Unidos e Argentina e negocia novas unidades no Chile e Angola.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

ARACAJU: Bombeiros resgatam vaca que caiu em canal no bairro Aeroporto

Resgate da vaga demorou cerca de uma hora (Foto: Clodomir Sales/VC na TV Sergipe)Resgate da vaca demorou cerca de uma hora (Foto: Clodomir Sales/VC na TV Sergipe)
O Corpo de Bombeiros Militar (CBM) resgatou uma vaca que caiu em um canal nesta terça-feira (29) no Conjunto Beira Mar II no bairro Aeroporto em Aracaju, Sergipe. Segundo o comerciante Clodomir Sales, que mora na região há dez anos, a falta de uma proteção facilita que incidentes como esse aconteçam.
“Espero que a prefeitura providencie a instalação de um guarda-corpo no local porque pessoas e outros animais também podem acabar caindo no canal”, afirma. Foi necessário um trator para suspender a vaca presa em uma cinta. A operação de resgate demorou cerca de uma hora.
O animal se desequilibrou e caiu quando comia o mato às margens do canal. De acordo com Clodomir, próximo ao local existe um terreno onde vaqueiros monitoram os animais pastando. “A vaca escapou em um descuido do vaqueiro, se tivesse uma grade isso certamente não teria acontecido”, frisa.

ESPECIAL: A Bahia foi longe com ele: há 100 anos nascia Dorival Caymmi

“Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia”, cantava Dorival Caymmi (1914-2008) nos idos dos anos 50, já morando no Rio, onde conheceu sua mulher, a mineira Stella Maris (1940- 2008) e criou família. Mas a Bahia nunca saiu dos seus versos e, muito menos do pensamento e coração de Caymmi, que hoje faria cem anos. 
“Esse homem levou a Bahia longe. Ainda vai passar muito tempo e ele não vai deixar de levar. Isso é muito lindo”, afirma Paloma Amado, filha do escritor Jorge Amado (1912- 2001), parceiro e amigo de Dorival, com quem compôs alguns clássicos, como É Doce Morrer no Mar, Modinha para Teresa Batista e Canto de Obá. “Muito mais do que parceiros, eles se consideravam irmãos gêmeos”, define. 
Certamente sua maior fonte de inspiração, o mar da Bahia é tema recorrente nas canções de Dorival Caymmi, que se dizia ‘um homem do cais da Bahia, devoto também de Iemanjá’
(Foto: Acervo Família Caymmi)
“Eu ouvi, dele e de meu pai, a afirmação de que, se Jorge fosse compositor, ele escreveria as músicas de Caymmi. E, se Caymmi fosse escritor, faria as obras de Jorge. E é verdade”, endossa outro filho de Amado, João Jorge, para, em seguida, completar: “Dorival foi quem inventou a Bahia”.
E era uma Bahia de poesia, romantismo. A Bahia ingênua e pura dos pescadores; das mulatas e baianas de acarajé; dos orixás; das paisagens e belezas naturais; do vai e vem nas ruas, retratando em versos a rotina da cidade. A Bahia negra e praieira de Caymmi, dedilhada na cadência de seu violão; ora em samba-canção, ora em valsas e modinhas. 
Dorival em momento contemplação, na Lagoa do Abaeté: ‘Ficou gravado em mim pela beleza do lugar; puro’ (Foto: Acervo Família Caymmi)
“A Bahia e Dorival se confundem; é uma coisa só. E o Brasil conhece a Bahia a partir de artistas como ele e Jorge Amado”, afirma o artista plástico Juarez Paraíso. “Suas canções são grandes lemas, páginas de poesia; de estrutura simples, mas, ao mesmo tempo, complexa de conteúdo humano, e atualíssimas até hoje. Era a genialidade em pessoa”. Ao que João Jorge ratifica: “Quando você ouve uma música dele, você vê a Bahia viva, acontecendo”.
Inspirações
Em sua Bahia, Caymmi podia cantar de Mãe Menininha, a quem dedicou um samba, às suas 365 igrejas, passando pelas festividades no mar da rainha Iemanjá. “Os negros e mulatos, que têm sua vida amarrada ao mar, têm sido a minha mais permanente inspiração. Nada mais sou que um homem do cais da Bahia, devoto também de Iemanjá, certo também que estamos todos nós nas suas mãos, rogando que não envie os ventos da tempestade; que seja de bonança o mar da minha vida”, declarava Dorival.
Dorival Caymmi em seu apartamento, em Copacabana, ao lado da esposa, Stella Maris, e dos filhos: Dori, Danilo e Nana: os três herdaram o legado e o talento musical do pai
Não por acaso, ele cantarolou como era “doce morrer no mar”, narrou a lida diária dos pescadores, a jangada que saía e voltava abençoada com o peixe bom. Nada parecia superar a sua relação, quase simbiótica, com as águas salgadas da Bahia. “É uma canção que tenho vontade que se lembrem de mim através dela”, declarou sobre O Mar, cujos versos enaltecem o quanto é bonito a água quebrando na praia.
Mas ele também cantou o tabuleiro da baiana, com seu vatapá feito por quem sabe mexer; bem como o ritual das lavadeiras na Lagoa do Abaeté, de água escura, arrodeada de areia branca. “O Abaeté ficou gravado em mim pela beleza do lugar; rústico, puro”, recordou o artista no documentário Um Certo Dorival Caymmi (Aluísio Didier, 1999).
“Caymmi era um raro compositor e falava de vários temas com simplicidade e grandeza. A sua Bahia está aí; no seu legado que são suas canções. E na minha memória de criança feliz”, afirma Gal Costa, garantindo que sabe cantar todas as suas canções.
Jorge Amado e Dorival assinam alguns clássicos juntos, como a toada É Doce Morrer no Mar. “Muito mais que parceiros, eles se consideravam irmãos gêmeos”, conta Paloma, filha do escritor
Do samba à bossa  Em mais de 60 anos de carreira e 50 discos (entre obras próprias e participações), Caymmi escreveu pouco mais de 100 composições, o que alimentava o mito da preguiça baiana. Mas, como bem disse Caetano Veloso, certa feita: “Escrevi 400 canções e Dorival Caymmi 70. Mas ele tem 70 canções perfeitas e eu não”.
O tropicalista Tom Zé endossa: “Eu era muito jovem e Dorival me impressionava profundamente; principalmente a maneira de compor, mudando de andamento e estruturando seções bem compartimentadas. Sua influência na carreira de nós todos, tropicalistas, é imensa e plena”. Os devidos créditos à marca Caymmi na música brasileira, entretanto, antecedem ao tropicalismo, tendo sido fundamental para formatar a bossa nova de Tom Jobim (1927-1994) e João Gilberto, se estendendo aos Novos Baianos e influenciando artistas até hoje.
Caymmi e Gal Costa durante o show Gal Canta Caymmi, nos anos 70. “A Bahia de Caymmi Bahia está aí; no seu legado que são suas canções. E na minha memória de criança feliz”, diz Gal
Que o diga o novo disco de Gilberto Gil, Gilbertos Samba, lançado em homenagem a João Gilberto, mas que perpassa a obra de Dorival, presente em duas das 12 faixas. Inclusive, na inédita Gilbertos, gravada com Dori, primogênito de Caymmi, o cantor o cita como “quem nos deu a noção da canção como um liceu”. Gil, que foi casado com Nana e, portanto, genro de Dorival, já declarou que ele foi um dos seus grandes mestres.
Em família
O primeiro contato de Caymmi com a música remete à infância. “Eu devia ter entre 2 e 4 anos e, de repente, fui tocado por um som que vinha da vitrola do vizinho. Fiquei tomado”, contou, em Um Certo Dorival Caymmi.
Criado numa casa em que a mãe cantarolava e o pai tocava bandolim, a música naturalizou-se para Dorival. Ele chegou a cursar Direito no Rio de Janeiro mas, para garantir o pão de cada dia, apanhou seu violão e desembarcou na Rádio Tupi. “Passei a ser Cantor dos Mares, da Bahia”, relembrou no documentário.
Seu primeiro sucesso já demonstrava a devoção à sua terra. Interpretada por Carmen Miranda (1909-1955) e parte da trilha sonora do longa Banana da Terra, O Que é Que a Baiana Tem? data de 1939. Declaradamente influenciado pelo que via – “esses olhos vão ver a canção; eles veem e realizam” –, Caymmi seguiu transformando paisagens, fatos e pessoas em música, eternizando sua maneira de ver, sentir e ser a Bahia.
Com o fotógrafo e etnólogo franco-brasileiro Pierre Verger. Ele e Dorival dividiam o amor pela Bahia negra e ajudaram a construir a imagem vendida para o resto do Brasil - e mesmo o mundo
Contemporânea de Dorival, Alta Rosa, viúva de Calazans Neto (1932-2006), relembra, em tom saudosista, essa Bahia versada pelo amigo. “A Bahia que Dorival cantava era dengo, como ele mesmo era; dengoso. Mas está perdendo aquela delicadeza”.
Em sua última visita ao estado, em 2006, quando veio receber o Prêmio Jorge Amado de Literatura e Arte, Dorival, enfim, parecia reconhecer o seu legado. “Agora, sinto que fiz a minha parte. A Bahia é a minha vida, a minha história. Minhas músicas falam de uma Bahia que amo; autêntica e diferente de todos os estados”.
Aos 92 anos e já debilitado, ele subiu ao palco do Teatro Castro Alves de cadeira de rodas. Fazia 11 anos que Dorival não vinha aqui e foi aplaudido de pé, durante 15 minutos, pelos cerca de 1,5 mil convidados. Pois que sigamos aplaudindo-o pela sua eternidade. A Bahia e sua gente agradecem.






Neta fala sobre vida e obra do mestre, por Hagamenon Brito
Carioca nascida em Caracas, Venezuela, e filha da cantora Nana Caymmi, a jornalista Stella Caymmi, 50 anos, é autora da excelente biografia Dorival Caymmi: O Mar e o Tempo (Editora 34/R$ 76/ 616 páginas). 
Publicada originalmente em 2001, quando foi finalista do Prêmio Jabuti, a obra ganha edição revista e atualizada, com sessão de lançamento em Salvador na Saraiva do Shopping Iguatemi, dia 14 de maio, às 19h.
Com predileção especial no repertório majestoso do avô pelas canções Saudade, Sábado em Copacabana, História dos Pescadores e Acaçá, Stella vem participando de diversas atividades de pensamento, pesquisa e curadorias relativas ao centenário de Caymmi.
Apesar de ser neta de Dorival Caymmi e, portanto, conviver desde sempre com ele, como foi pesquisar por dez anos a vida e a obra do seu avô para a biografia O Mar e o Tempo? Mudou sua visão, de algum modo, sobre ele?
Foi uma tarefa hercúlea. Não fiz o giro tradicional de instituições de pesquisa porque descobri que o material que meu avô guardava era incomensurável. Já sabia que era muito, mas quando fui pôr a mão na massa foi que me dei conta da enormidade. Ele havia guardado praticamente tudo desde a década de 1930. Por exemplo, jornais desde a década de 30, 40 agendas que não eram só agendas, mas funcionavam para várias finalidades, diário, anotações, impressões, letras de músicas, saudações ao orixá ou santo do dia e por aí vai. Ou seja, só aí 40 tomos! Sem falar  na iconografia que ele juntou, outro material de proporções épicas, etc. Afora as entrevistas com ele, mais de 80 e as demais entrevistas com parentes, contemporâneos, artistas... Resumindo: tive de virar uma arquivista amadora, uma museóloga, antes de fechar a pesquisa e começar a escrever. Mudou minha visão, sim. Quando você mergulha na vida de uma pessoa - e no caso ao mergulhar na vida de Dorival Caymmi, mergulho também na história da minha família e portanto minha história também -, você vai tocando mais fundo no âmago das questões, na medida do possível, e vai tendo perspectivas e relevos que se fosse algo mais superficial, eu não perceberia. Só o tempo permite esse amadurecimento. Mudou sobretudo porque o lado humano de Caymmi por trás do artista e avô foi se mostrando para mim. Por exemplo, porque ele escondeu Saudade da Bahia por dez anos. É porque revelava muito o estado de melancolia em que ele se encontrava quando a compôs de uma sentada só em 1947 num bar do Leblon pedindo no balcão um papel de embrulho para anotar a letra. Eram sentimentos marrons, segundo Victor Pauchet, do livro de vida inteira que Caymmi carregava consigo, um manual de saúde mental e física. Os sentimentos escuros eram para ser evitados... E descobri que ele trabalhou muito. Ninguém faz uma temporada de um ano numa boate,  a Bon Gourmet, com folga de um dia na semana se é preguiçoso, concorda? Sabiamente, ele usou a preguiça para equilibrar-se no tempo.
Caymmi mudou-se para o Rio na juventude, em abril de 1938. Como foram a infância, a adolescência e o começo da juventude dele naquela Salvador ainda pré-industrial e idílica, com fatos e personagens que marcariam a sua obra?
A infância, a adolescência e o começo da juventude foram o cenário em que ele captou e construiu a maior parte da matéria-prima, a Bahia com seus costumes, encantos e mistérios, para sua obra! Uma Bahia que durante essas primeiras décadas da vida de Dorival havia mudado muito pouco. Assim ele pode pintá-la em suas músicas e letras, era como se a Bahia tivesse ficado um período intocável e imóvel para o artista desenhá-la e delineá-la  com seus lápis e pincéis.
Em algum momento da vida, Caymmi mostrou-se triste ou saudoso daquela velha Salvador que, aos poucos, se tornou um quadro pregado da memória, mesmo que a cidade ainda conserve parte daquela magia?
Triste, ou melhor, melancólico como disse em Saudade da Bahia, sentindo necessidade talvez dessa mãe negra de colo quente que conta histórias para ninar. Saudade da velha São Salvador da sua infância, adolescência e início da juventude, sempre. Buscava-a sempre, porque nela também buscava a si mesmo, a memória dela e a memória de si mesmo se fundiam; acho que é natural. Eu mesma aqui no Rio, já noto tantas mudanças no cenário da minha vida que fico lutando comigo para tentar não esquecê-la. Acho que muitos de nós fazemos isso. Busca essa recuperação afetiva. Nesse sentido as mudanças dificultam a memória ou a agridem, até, não é? A Itapuã da sua infância ainda é Itapuã, mas já não é mais, entende? É o grande mistério do tempo, com quem ele se relacionava quase de uma maneira antropoformizante, para melhor compreendê-lo e aceitá-lo, para um bem viver, sem lutas inglórias contra ele. Tornou-o seu aliado e seu inspirador. Xangô, o orixá, o ajudou muito como também outro livro de cabeceira, a Bíblia, onde tem a sua passagem predileta em Eclesiastes: “Há tempo para tudo sob o sol, tempo pra plantar, tempo  pra colher, tempo para rir, tempo para chorar”. Tô citando de cor e fora de ordem, mas era isso mesmo. Ele ía ao âmago do grande mistério da vida. 
Stella Caymmi com o avô em 2008
Qual o impacto do Rio na obra de Caymmi? Aliás, ele sofreu algum tipo de preconceito (racial, artístico) na chegada ao Rio?
Não sofreu preconceito racial, nunca me disse nada sobre isso. Mas artístico sim, não diria preconceito, mas uma palavra mais dura num certo sentido, a inveja. Como dizia minha avó Stella: inveja seca pimenteira. É uma barra. Um anônimo que chega ao Rio e o toma de assalto mansamente e abala o meio artístico sobretudo, além do que já estava estabilizado na Era do Rádio, uma parte daqueles compositores e letristas que estavam em torno da Carmen (Miranda) e de certa forma dependiam dela. E aí chega Caymmi, ela grava O Que É Que a Baiana Tem? no filme Banana da Terra e depois num 78 rotações. Imagine, em dueto com ele,  encarna a baiana, uma baiana de palco naturalmente, e daí a leva pro mundo. Ou seja, ele mudou a história da música com seu aparecimento na Era do Rádio. Não foi mole não! E foi difícil para os demais artistas, além daqueles que o admiravam e até veneravam desde o início, como Almirante, Aloysio de Oliveira e Braguinha por exemplo, do filme Banana da Terra... Viram seu valor de imediato! Os demais tiveram tremenda dificuldade como foi o caso de Ary (Barroso), de David Nasser, de Sílvio Caldas, e por aí vai. Mas ele ficou amigo de quase todos, não perdia tempo com brigas tolas, ele precisava viver! O Rio  deu a Caymmi as condições para realizar sua carreira. Além disso, foi lá que ele constituiu família com a mineira Stella e teve seus filhos e a maior parte dos seus netos (eu nasci em Caracas, sou uma exceção). E o Rio dos anos 1940 e 1950 o impactaram esteticamente na medida em que ele é matéria- prima de uma nova vertente na sua obra que são os chamados sambas urbanos, ou fase carioca, ou fase romântica. 
Carmen Miranda foi fundamental para o sucesso de Caymmi. É verdade ou lenda que ele ajudou ela a criar até o gestual com as mãos e os olhinhos revirados na hora de cantar?
 Sobre o gestual, a Carmen cantava também com as mãos, os olhos, o corpo, enfim. Mas ela precisava de Caymmi para compreender essa descrição da baiana não mítica, mas a baiana que Caymmi conheceu com torso e não turbante, com pano da Costa e não xale, balangandãs... Trouxe a mulher afro-brasileira, a baiana para o centro da cultura brasileira com uma força imagética inigualável. O Brasil é grande hoje, imagine como ele não era imenso e diverso no início do século XX! E ela pediu que ele fosse seu ponto na gravação do filme, assim Caymmi colaborou com seus trejeitos. Eles se entenderam de imediato. Era um momento crucial na carreira de Carmen, que ela sequer desconfiava no que ía dar e crucial para ele, pois o começo da carreira de Caymmi já foi seu ápice! Isso é incrível, ainda que ele tenha se mantido incólume durante a maior parte do século XX e  continuando a compor, não só nas quatro principais vertentes, mas valsas, fado, ciranda, com uma liberdade incrível.
Qual o impacto da estreia de Caymmi, com sua grave/doce e seu modo de tocar violão, na MPB dos anos 1940?
Um impacto estético difícil de dimensionar. Ele é um dos construtores da música popular brasileira, um dos que ditam seu rumo, além de ser um dos tradutores não só da Bahia, mas do Brasil. Não só na sua área de músico popular, mas tão tradutor e igualmente importante - até porque a penetração da música e do rádio era tal que a penetração do livro ou do jornal não conseguiram alcançar - como  Gilberto Freire, ou Portinari, ou Jorge Amado, ou Guimarães Rosa, ou Jobim e Vinicius de Moraes. Ensinam-nos como por espelho um pouco do que nós somos.
Considero Caymmi e Jorge Amado os principais criadores da ideia de baianidade. Ele tinha consciência disso, também, do quanto sua música se misturou à ideia da cultura do seu povo?
Tinha, não como um intelectual que discorre, explica ou escreve um ensaio sobre o assunto. Tinha consciência dele mesmo, profunda, consciência de ser baiano, e sendo baiano, consciência de ser brasileiro e assim sendo, consciência da sua universalidade, sem precisar apregoar isso. Ele sabia quem era e o que tinha feito. E sabia também das suas limitações que ele tratou de vencer da maneira que pode e que as circunstâncias lhe pediram. Ele era um curtidor das coisas saborosas da vida cotidiana. Ele se divertia muito com essa história de preguiçoso. Muito mesmo. E usava malandramente a seu favor. Era um drible digno de Garrincha.
Que lembrança ele guardou da última visita à Bahia, em 2006?
Ele voltou no tempo e foi se “despedir”, sem o saber exatamente (é claro que sempre sabemos que um dia iremos embora dessa vida), da sua Bahia, foi rezar pro Senhor do Bonfim. Eu estava lá, assisti ao momento de suas orações, é um momento que ninguém que estivesse lá poderia esquecer. Foi passear pelos caminhos da sua infância e deve  ter visto em seu coração os pais, seus irmãos,  os amigos, as festas de largo, o São João, as roças do candomblé, tudo estava ali nele enquanto ele olhava para a cidade e para o tempo. E aceitava que as mudanças eram inevitáveis. Ele não era  um saudosista. Apenas tudo isso  constituía uma boa parte do que ele 

NA ESTRADA DA VIDA

Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...

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