Julgamento foi no STJD, no Rio de Janeiro
(Foto: Diego Guichard)
O Grêmio está excluído da Copa do Brasil. A decisão ocorreu após julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) na tarde desta quarta-feira. Em quase quatro horas de sessão no Rio de Janeiro, os auditores resolveram, unânimes em 5 a 0, pela punição após denúncia feita pela procuradoria, baseada no artigo 243-G (e seus parágrafos) do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). O caso ocorrera na última quinta-feira, quando o goleiro do Santos Aranha foi alvo de injúrias raciais por parte de torcedores gremistas, no 2 a 0 do clube paulista, pelo jogo de ida das oitavas - a volta estava suspensa. Assim, o Peixe está classificado para as quartas do torneio e enfrenta o Botafogo, que venceu o Ceará nesta quarta-feira. A chave está paralisada até o julgamento no Pleno,
uma vez que o Grêmio irá recorrer.
O clube foi multado em R$ 50 mil, mas não perdeu mando de campo por "ato discriminatório". Os torcedores identificados praticando atos racistas serão impedidos de frequentar jogos do time gaúcho por 720 dias. A decisão não é definitiva. Cabe recurso, com novo julgamento em segunda instância no Pleno do STJD, a ser marcado em 15 dias.
O quarteto de arbitragem também fora denunciado pela procuradoria por não ter colocado o episódio relatado por Aranha na primeira versão da súmula. Wilton Pereira Sampaio acabou suspenso por 90 dias, enquanto os auxiliares pegaram gancho de 60 dias. O Grêmio ainda foi julgado por arremesso de objeto, e o Santos, por atraso na volta do intervalo, ambos levando multas de R$ 2 mil e R$ 4 mil, respectivamente.
Como foi o julgamento
O julgamento começou com o pronunciamento do presidente da sessão Fabricio Dazzi. Depois, a procuradoria apresentou provas em vídeo. Entre eles, reportagens de televisão e depoimento de Aranha. O mesmo foi feito pela defesa do Grêmio, que mostrou matérias de sites com as ações promovidas pelo clube, além de vídeos institucionais e depoimentos de jogadores, como Zé Roberto e Matheus Biteco.
O presidente Fábio Koff foi o primeiro a sentar perante os auditores para esmiuçar a posição do Grêmio sobre as injúrias raciais. Com larga experiência na magistratura, Koff tratou de exaltar os exemplos de ícones negros no clube e disse que a instituição foi "pioneira na integração racial".
- Estou aqui para dizer que a decisão desta tarde ela tem uma importância histórica. A decisão atinge um clube com 111 anos de existência que atinge uma escolinha de 1,1 mil crianças, do qual um terço é de cor. O prejuízo causado a imagem do clube é irreparável. Se a pena ocorrer, deve ter sentido pedagógico e não ultrapassar limites - afirmou.
Julgamento durou cerca de quatro horas (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)
Koff também valorizou uma das ações de sua gestão, de cortar privilégios de organizadas. Na segunda, a direção anunciou a suspensão dos direitos da Geral do Grêmio.
- O Grêmio foi precursor em cortar subsídios de organizadas e dificultar o acesso de torcedores que se escondem num grupo. O Grêmio não dá ingresso, não paga ingresso, não facilita a vida - defende.
Também julgado, assim como seus auxiliares, por só relatar as injúrias raciais em adendo na súmula, o árbitro Wilton Pereira Sampaio afirmou que ficou "assustado" ao ver as imagens após a partida, no hotel. Em campo, confirma que não havia visto nem ouvido as ofensas e lembrou que em jogos da Copa do Brasil não há árbitros auxiliares atrás das metas.
- Não presenciamos nada, foi por meio de um relato do jogador. Após o término do jogo, nenhum atleta veio me questionar. Pensei que não havia sido nada. A gente sempre assiste ao jogo depois e fiquei assustado com o ocorrido. Por isso, incluí o adendo na súmula. Nós achamos que, aos 42 minutos do segundo tempo, com o Santos ganhando o jogo, achei que era uma tentativa de passar o tempo - relatou, em meio a forte cobrança dos auditores.
Fábio Koff esteve presenta no julgamento no STJD (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)
O árbitro negou que Aranha tivesse respondido aos torcedores com xingamentos:
- O atleta se virou para a torcida, bateu no braço e cuspiu no gramado.
- No momento em que nos viramos para a torcida, já não eram mais ofensas racistas, eram xingamentos normais de jogo - disse o auxiliar Carlos Berkenbrock, que falou depois de Pereira Sampaio.
O suprocurador geral Rafael Vanzin tomou a palavra para reafirmar que considera o Grêmio responsável. Segundo ele, episódios de cunhos racistas não são de hoje, e cita o caso envolvendo o zagueiro do Inter Paulão, alvo de injúrias raciais de um torcedor no Gauchão, também na Arena.
Ainda citou as postagens no Twitter, feitas pelo vice-presidente Adalberto Preis, em que alegou que Aranha fizera "grande encenação" no episódio. Por fim, pediu a exclusão do clube da Copa do Brasil, além de pena para o quarteto de arbitragem.
- As palavras de Patrícia Moreira, que ainda não prestou depoimento, assim como as imitações de macaco, são flagrantes - Rafael Vanzin. - E as medidas tomadas pelo Grêmio não são suficientes.
Na vez de os advogados do Grêmio defenderem o clube, a pauta foi a preocupação da instituição em campanhas sociais, a ajuda nas investigações policiais e a preocupação em afirmar que a ação foi obra de uma minoria.
- Não fechamos os olhos para o que vem acontecendo. Não vamos usar o Grêmio como bode expiatório, como uma caça às bruxas - disse o adovgado do Grêmio Gabriel Vieira. - O racismo é um problema social. Quantos auditores negros temos aqui? Nenhum.
- Quatro torcedores em meio a 30 mil. O Grêmio não pode ser responsabilizado. Eles, sim, precisam ser punidos - reforçou Michel Assaf Júnior, contratado pelo clube especialmente para este caso. - Não se pode confundir extrema gravidade com a repercussão do fato, nem reincidência.
Entenda o caso