NE NOTÍCIAS
O engenheiro Carlos Henrique, que participou da construção da adutora do São Francisco, no governo Augusto Franco, é doutor em recuperação de pontes.
NE Notícias publica a seguir seus ensinamentos e avaliação do que causou a queda da ponte velha de Pedra, em Laranjeiras, no último sábado.
Antes, porém, NE Notícias pede a compreensão dos leitores para dizer: Dr. Carlos Henrique, Deus o abençoe sempre, pelos seus conhecimentos e pela advertência que faz a governos e sociedade.
Vamos ler com atenção voltada para a reflexão, ação e cobrança cidadã:
Ensaios não destrutivos em estruturas de concreto armado procurando manifestações patológicas. Há 4 anos, passei 5 meses embaixo das 14 pontes de Aracaju. As pontes com cabos embutidos sob tensão precisam ser ensaiadas para deixar todos tranquilos.
Eu especifiquei esses ensaios inclusive na ponte do Siri.
Mão de obra ruim é o que mais se tem
A tônica da Engenharia no Brasil e no mundo ocidental é Durabilidade dos concretos estruturais. A ciência e a tecnologia têm se desenvolvido muito, mas as técnicas construtivas convencionais andam atrasadas e estão assumindo passivos de longo prazo. Mão de obra ruim é o que mais se tem.
Capacidade resistente da ponte estava comprometida
O fato é que a capacidade resistente da ponte estava comprometida, na minha visão, pela corrosão dos cabos. Com cabos íntegros, essas sobrecargas seriam insignificantes diante da rigidez da estrutura. Mas com a capacidade limite chegando qualquer gota d água, digamos assim, seria possível (a queda).
Ela resistiu 80 anos e, nesse período, há sobrecargas muito maiores. Agora, com cabos comprometidos, qualquer dia, até com o peso próprio, cairia. Minha visão.
Ressonância gerada pelo acúmulo das frequência das vibrações são observadas nos cálculos de pontes. Vibrações da própria adutora, idem. O nexo causal está no esgotamento da capacidade resistente, ao meu ver devido a corrosão dos cabos de sustentação.
Está muito evidente para a tipologia estrutural adotada.
Corrosão é uma patologia super temida nas construções, principalmente de pontes, pela agressividade do meio e cargas dinâmicas.
E quando os cabos estão sob tensão, pior ainda.
Em Londres teve um período que foi proibido a construção de pontes e viadutos com cabos sob tensão porque lá usam muito a salmoura para derreter o gelo. Os cloretos atacam os aços.
E o nosso caso aqui só com o spray salino do mar.
De 17 pontes em Sergipe, apenas 3 foram recuperadas
O Estado de Sergipe tem um levantamento de 4 anos atrás de 17 pontes urbanas em Aracaju.
Três já foram recuperadas.
As que possuem cabos embutidos sob tensão deverão ser ensaiadas com ressonância magnética para verificar a existência ou não de corrosão. Está especificado, só dependendo de recursos para tal.
Acho que depois desse alerta haverá uma uma nova priorização dos investimentos em manutenção e nesses ensaios.
As pontes protendidas (cabos sob tensão) precisam dos ensaios especificados de ressonância magnética ou tomografia, como se faz periodicamente na Rio Niteroi.
Temos aqui as pontes do Siri, em Socorro; do Riomar, da Hermes Fontes, da saída da cidade em frente ao Tribunal de Justiça, do Augusto Franco e São Conrado. Essas pontes são em concreto protendido (cabos sob tensão).
Cabos metálicos sob tensão, a chamada corrosão sob tensão, geralmente dão pouco tempo para sair debaixo. Estão tracionados e perdendo seção com a corrosão.
Foi assim no Batista, onde no dia anterior ao desabamento tinha centenas de crianças embaixo.
Não temos a cultura da manutenção, do monitoramento
Não temos em geral a cultura da manutenção. Não temos a cultura do monitoramento.
A construção civil tem três fases:
1. a fase da gestão da concepção;
2. a fase da gestão da produção;
3. a última a fase da gestão do pós-uso, ou seja, da manutenção.
Vida útil depende da manutenção.
A falta de cultura da manutenção não é de governos, é nossa, sociedade.
Onde moro, para se fazer uma manutenção corretiva de corrosão tive de apelar à Defesa Civil na época.
Também corrosão é um assunto não estudado nas escolas de engenharia civil. No concreto, existe a corrosão eletroquímica. Portanto, demanda forte conhecimento de física, química, e físico -química. É interdisciplinar.
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NOTA: O engenheiro Carlos Henrique de Carvalho, é Doutor em cálculo estrutural, foi Presidente do DER e da SUDOP no governo Augusto Franco. Foi contratado pelo governo Marcelo Déda para periciar todas as pontes do Estado de Sergipe.