A campanha presidencial de Dilma Rousseff prometia mundos e fundos: retomar o crescimento, colocar todas as crianças na escola, manter direitos trabalhistas…
Foram tantas promessas desesperadas que logo após as eleições muitas delas já haviam ido por água abaixo: a expectativa de crescimento diminuiu, a educação infantil sofreu cortes e direitos trabalhistas foram alterados. No meio do ajuste, sobrou até para os programas sociais, as estrelas do governo. Até o momento, apenas o Bolsa Família não recebeu cortes – ainda.
O rumo que os 9 meses pós-eleição tomaram deixaram bem claro que o segundo mandato de Dilma deve ser bem diferente do cenário pintado durante a campanha: boa parte do que a candidata acusou seus adversários de propor, ela mesma está fazendo. Para dar a dimensão das mentiras contadas por Dilma, separamos 9 promessas e explicamos porque elas continuarão sendo apenas… promessas.
1. COLOCAR TODAS AS CRIANÇAS DE 4 A 5 ANOS NA CRECHE
Eu tenho um grande compromisso com creche e pré-escola, pois acredito que creches e pré-escolas são o futuro do Brasil.
#SomosTodosDilma
Ainda na campanha de 2010, Dilma prometeu entregar 6.000 creches, para poder cumprir com a obrigatoriedade de matricular todas as crianças entre 4 e 5 anos na creche – medida que passa a valer no ano que vem. Chegando, porém, ao final do quarto ano do primeiro mandato, Dilma só havia entregue de fato 417 unidades – 7% do prometido.
Ciente de que seria um fiasco prometer um número tão alto novamente, na campanha do ano passado, Dilma prometeu apenas cumprir a promessa das 6 mil creches feita em 2010, que já deveriam ter sido entregues naquele ano. Para cumprir a promessa, Dilma se responsabilizou em entregar mais de 100 unidades por mês. Porém, ainda em abril, somente 62 unidadeshaviam sido completadas – uma média de 15 por mês.
E os números devem piorar: no último dia 22, foi anunciado um corte nas verbas do Ministério da Educação no valor de R$ 9,2 bilhões, dos quais R$ 3,4 bi (mais de um terço)tinham como destino a construção de novas unidades de educação infantil e quadras esportivas.
Os cortes comprometem a meta de ampliar o acesso à educação infantil este ano e dificultam que ela volte ao ritmo normal no próximo ano. E, para os próximos anos, as perspectivas não são nada animadoras: Dilma também está fracassando na meta de colocar o país de volta na rota do crescimento.
2. FAZER A ECONOMIA VOLTAR A CRESCER
Promoverei com urgência ações na economia para retomarmos nosso nível de crescimento e continuar crescendo nos níveis de emprego.
Durante a campanha, a candidata petista afirmou que seu governo, caso reeleito, teria como principal meta colocar o país de volta na “rota do crescimento”. Não era por menos: Dilma tem os piores números de crescimento histórico do país, atrás apenas de Collor. Nem mesmo os militares durante a “década perdida” tiveram médias tão baixas. Mas a candidata prometia crescimento.
“É absurda a previsão de que o Brasil vai explodir em 2015. É um país estável, economicamente forte, uma economia sólida, um baita agronegócio. O Brasil vai bombar”, afirmou em entrevista.
As promessas, no entanto, ficaram apenas no papel – e nas entrevistas. Dados divulgados pelo IBGE em março apontaram para um crescimento de míseros 0,1% em 2014, abaixo das expectativas do FMI. Para este ano, o governo já espera uma retração de 1,49%, enquanto economistas do setor privado já calculam um cenário com dois anos de recessão: -2,4% este ano e mais -0,5% para o ano que vem – algo que não acontecia desde a década de 1930.
3. CONTROLAR A INFLAÇÃO
Eu quero a inflação menor, pq a inflação corrói o salário do trabalhador, mas a nossa inflação é a metade da deles #Dilma13MaisNordeste
Além do crescimento da economia, Dilma prometeu também controlar a inflação e mantê-la dentro da meta.
Mas, dados do IBGE divulgados mensalmente mostram que a inflação acumulada em 12 meses já superou o teto da meta (6,5%), atingindo 9,31% em junho. Na verdade, a inflação está tão fora de controle que o próprio governo já admitiu que o teto da meta não será respeitadoaté o final o ano: estimativas do Ministério do Planejamento já falam em uma inflação de 9,0% este ano – pior resultado desde 2003.
4. NÃO ELEVAR JUROS
Os tucanos sempre quiseram plantar dificuldades para colher juros. Eles plantam inflação pra colher juros. #QueroDilmaTreze
Durante a campanha, Dilma assumiu em diversas ocasiões o compromisso de manter os juros em níveis baixos. É uma bandeira histórica de seu governo: desde 2013, a presidente já vinha criticando as altas taxas de juros do país, considerada uma das maiores do mundo. Mas, desde que foi reeleita, o Banco Central apenas elevou a Taxa Básica de Juros: era 10,9% em outubro, elevou-se para 11,15% em novembro, logo após as eleições, e já está em 13,15% ao ano. E não deve parar por aí: bancos privados já apostam que o ano terminará com a Selic batendo nos 14,25%.
Não tem jeito: quem planta inflação, acaba colhendo juros. Foi exatamente o que Dilma fez.
5. REDUZIR A CONTA DE ENERGIA ELÉTRICA
No início de 2013, Dilma fez um pronunciamento em rede nacional falando sobre o custo da energia elétrica.
“Acabo de assinar o ato que coloca em vigor, a partir de amanhã, uma forte redução na conta de luz de todos os brasileiros. […] A partir de agora, a conta de luz das famílias brasileiras vai ficar 18% mais barata. É a primeira vez que isso ocorre no Brasil.”
Ano passado, pouco antes das eleições, voltou a tocar no assunto durante uma coletiva de imprensa realizada em setembro. Na ocasião, Dilma afirmou que não haveria o chamado “tarifaço”:
Dilma: Quem fala em tarifaço está mal intencionado. Não sei o q estão querendo fazer quem fala em tarifaço. #coletiva
A realidade, porém, foi bem diferente. Desde que Dilma iniciou seu segundo mandato, a energia elétrica já subiu 44,75%, de acordo com o IBGE. Os aumentos começaram no início do ano e, apesar da presidente teimar que não existe risco de apagão, já apelou para que os brasileiros economizem energia elétrica e façam “um consumo racional de energia”.
6. NÃO AUMENTAR IMPOSTOS
Vcs (PSDB) chegaram à obra-prima de aumentar impostos e ainda assim deixar uma dívida muito maior do que receberam.
#SomosTodosDilma
Na mesma ocasião em que relutou em assumir um tarifaço, Dilma ainda afirmou categoricamente que não aumentaria impostos. No programa exibido em 2013, a presidente destacou que o governo vinha baixando impostos, como uma das bandeiras de seu governo. Já nos debates, criticou o aumento de impostos promovido por Fernando Henrique Cardoso.
Nesse início de segundo governo, no entanto, as promessas já foram deixadas para trás. De janeiro pra cá, o governo já aumentou os impostos sobre a gasolina e o álcool, dobrou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para pessoas físicas de 1,5% ao ano para 3%, elevou o PIS/Cofins de 9,25% para 11,75% para produtos importados, e alguns produtos específicos, como cosméticos e bebidas, estão sendo alvo de aumentos seletivos de alguns tributos. Só esses aumentos devem render mais R$ 20 bilhões aos cofres públicos. Ah, e se você pensa que terminou, o governo já está estudando também tributar a internet. Salve esse texto enquanto ainda é de graça.
7. ASSEGURAR DIREITOS TRABALHISTAS
Tem coisas que eu não concordo, como mexer nos direitos do trabalhador e não abro mão nem que a vaca tussa! #Dilminha13
Mexer nos direitos trabalhistas? “Nem que a vaca tussa!”, prometia Dilma em campanha.
Passados dois meses das eleições, porém, o governo cortou R$ 18 bilhões em benefícios do trabalhador.
As novas regras aumentaram o tempo de trabalho para requerer o seguro-desemprego, de 1 para 6 meses, tornaram a remuneração do benefício proporcional ao tempo de contribuição – antes o valor era fixado em um salário mínimo –, aumentaram o prazo do pagamento do auxílio-doença e colocaram maiores restrições na requisição de pensão por morte.
8. MANTER O EMPREGO E A RENDA
Nós saímos da crise garantindo emprego, garantindo renda e trabalhando para que o nosso país esteja cada vez melhor. #MelhorComDilma13
Esse foi tão repetido que virou bordão: “passar pela crise mantendo o emprego e a renda”. Mas a insistência não foi suficiente pra transforma a frase em realidade. Em público, Dilma afirmava que a crise de 2008 já tinha sido superada com o emprego e a renda preservados. Emcoletivas mais reservadas em centrais sindicais, já admitia que a crise ainda não tinha chegado ao fim, mas prometia passar por ela sem desemprego ou arrochos salariais:
“Nosso projeto é de passar e superar a crise garantindo emprego e renda e mantendo a valorização do salário mínimo.”
Com o agravamento da situação econômica do país no último ano, ficou claro que ainda estamos em crise. Só que dessa vez, nada de manter o emprego ou a renda: os últimos dados do IBGE, referentes a junho, mostraram uma taxa de desemprego de 6,9%, o maior índice para o mês desde 2010.A renda também está ameaçada: em março, o IBGE registrou a maior queda no rendimento real do trabalhador nos últimos 10 anos.
O rendimento médio do trabalhador em junho mais uma vez apresentou queda: no mesmo mês do ano passado, o rendimento médio ficou em torno dos R$ 2.217 na pesquisa mensal, mas este ano o trabalhador ganhou efetivamente R$ 2.164. A disparada da inflação contribui nesse processo, corroendo o poder de compra do salário recebido todo mês.
9. AMPLIAR O ACESSO A SAÚDE
Reduzir a prioridade do pré-sal parece algo distante, mas não é. Significa menos dinheiro para saúde e educação. goo.gl/IUxvlc
Dilma também prometeu ampliar o sistema público de saúde. Entre as propostas estava expandir o SAMU, o Mais Médicos e lançar um novo programa, o Mais Especialidades. Durante os debates, ainda criticou os opositores de estarem dispostos a cortar o dinheiro da saúde.
Na realidade, porém, o segundo governo Dilma já iniciou o ano cortando verbas para saúde: foram R$ 12 bilhões, o segundo maior corte. Com menos dinheiro, e tamanha burocracia no setor, é previsível que a situação da saúde pouco avance este ano e o programa Mais Especialidades pode continuar no papel por mais tempo. Por outro lado, o governo assegurou que irá manter os recursos para o Mais Médicos, SUS e Farmácia Popular, mas sem grandes aumentos.