Nomes como Hazard, Kompany, De Bruyne, Cortouis, Fellaini e Lukaku levaram a seleção belga para um novo patamar no futebol internacional. Tida como um dos elencos mais fortes dos últimos anos, a Bélgica garantiu na terça-feira, com a vitória sobre Israel por 3 a 1, o posto de primeira colocada no próximo ranking de seleções da Fifa. O resultado deixou a equipe em primeiro lugar do Grupo B das eliminatórias da Eurocopa, com 23 pontos, e será uma das cabeças de chave do torneio que será realizado em 2016 na França.
Hazard é o camisa 10 da Bélgica (Foto: Reuters)
Em 2014, a Bélgica chegou ao Brasil com expectativa de ser uma das surpresas da Copa do Mundo, mas acabou decepcionando e caiu nas quartas de final. Agora, mesmo sem nenhum título conquistado recentemente, a seleção assumirá o posto de principal seleção do mundo em novembro, superando Argentina e Alemanha, líder e vice-líder, respectivamente, na lista divulgada em outubro. A façanha causou estranheza para especialistas do futebol brasileiro.
- Gosto muito da seleção belga, mas isso está muito distante da realidade ser líder do ranking. Apesar de ter uma boa seleção - gosto do Hazard e do De Bruyne, muito talentosos - não entendo muito os critérios. Principalmente de uma seleção que não ficou entre as quatro do mundo na Copa. O calendário acaba influenciando. Eles estão acabando as eliminatórias para a Euro. Se estivéssemos nos meio das eliminatórias sul-americanas, seleções como Brasil, Argentina e Chile poderiam estar mais em cima. Não acho, no entanto, que o ranking seja injusto. Não é. Não é parâmetro pra mim, mas dá pra ver quem está em um bom momento e quem piorou, como é o caso do Brasil. Há uma coerência, mas está sujeito ao calendário - disse o ex-atacante Caio Ribeiro, atual comentarista da TV Globo.
- A seleção belga é qualificada, sem dúvida. Hazard, Benteke, Lukaku, Courtois são meus favoritos. Sem dúvidas eles têm seus méritos, apesar de terem rendido pouco na Copa do Mundo. Não acho que a gente tem que analisar isso como algo muito importante. Vale considerar, mas é uma questão que não tem que se apegar. Não é um parâmetro ideal - completou o ex-meia Roger Flores, comentarista do SporTV.
Jogadores fazem a festa no gramado após a vitória sobre Israel e classificação para a Eurocopa (Foto: AP)
Destaque máximo do Chelsea, Hazard é o camisa 10 da seleção do técnico Marc Wilmots. O meia é absoluto no esquema tático dos Blues e da equipe nacional, tendo a responsabilidade de ser o cérebro das jogadas de ataque.
Zagueiro do Manchester City, Kompany por sua vez tem a missão de conter os avanços do time adversário. Aos 29 anos, ele é tido como um dos melhores zagueiros do mundo e um dos líderes da badalada seleção belga.
Badalada por uns e considerada supervalorizada por outros, a seleção conta ainda com nomes como Kevin De Bruyne, meia recém-contratado pelo Manchester City por R$ 285 milhões após ótima passagem pelo Wolfsburg, Lukaku, atacante do Everton, Fellaini, meia do Manchester United. e Courtois, goleiro do Chelsea.
ENTENDA O RANKING DA FIFA
O ranking da Fifa começou a ser elaborado pela entidade em agosto de 1993, quando o Brasil ficou em oitavo. Porém, logo no mês seguinte a equipe do então técnico Carlos Alberto Parreira assumiu a liderança. Até junho de 1994, a Seleção oscilou entre o primeiro e o quarto lugar, mas após a conquista do tetra manteve a ponta de julho de 1994 a janeiro de 2001. Depois do penta, o Brasil retomou a hegemonia entre julho de 2002 e janeiro de 2007.
Momento histórico: federação belga comemora o primeiro lugar inédito do ranking da Fifa (Foto: Reprodução/ Facebook)
Desde então, o time canarinho voltou poucas vezes à liderança do ranking: apenas de julho a outubro de 2009 e entre abril e maio de 2010. A pior colocação da história da Seleção foi o 22º lugar em junho de 2013. A explicação para a posição tão ruim foi o fato de o Brasil não ter disputado as eliminatórias, já que era o país-sede da Copa de 2014. Pelos critérios da Fifa, jogos amistosos valem menos pontos que os oficiais.
A Fifa utiliza uma fórmula para chegar à pontuação de cada seleção mensalmente. Essa fórmula envolve a multiplicação dos pontos pelo resultado do jogo (a vitória vale três, o empate vale um e a derrota é zero), da importância da partida (confronto de Copa do Mundo, por exemplo, vale quatro, enquanto amistoso vale um), da força do adversário (de acordo com a posição no ranking) e da força da confederação continental - confira a fórmula completa abaixo.
Em outubro, a Argentina liderou o ranking com 1.419 pontos, seguida por Alemanha (1.401), Bélgica (1.387), Portugal (1.235), Colômbia (1.228), Espanha (1.223), Brasil (1.204), País de Gales (1.195), Chile (1.177) e Inglaterra (1.161) no "top 10".
Veja a comparação de Brasil (amarelo) e Bélgica (vermelho) no ranking Fifa nos últimos cinco anos (Foto: Reprodução)
Usando a fórmula da Fifa, a então líder Argentina somou 348 pontos nas duas primeiras rodadas das eliminatórias sul-americanas para a Copa: sem pontuar na derrota de 2 a 0 para o Equador e 348 com o empate de 0 a 0 contra o Paraguai. Assim, o time de Gerardo Martino passou a somar 1.383 na próxima lista que será divulgada em 5 de novembro.
No caso da Alemanha, foram 668 pontos nas eliminatórias da Eurocopa: zero na derrota de 1 a 0 para a Irlanda, mas ganhou 668 no 2 a 1 sobre a Geórgia, deixando os atuais campeões do mundo com 1.388 no próximo ranking.
Para chegar à liderança, a Bélgica somou 371 pontos na vitória de 4 a 1 sobre Andorra e mais 1.136 no 3 a 1 sobre Israel. Assim, os belgas terão 1.440 pontos em novembro, assumindo pela primeira vez o topo do ranking mensal da Fifa. A melhor posição da seleção até o momento havia sido o segundo lugar em junho, agosto e setembro deste ano, enquanto a pior foi o 71º em junho de 2007.
Confira abaixo como são os critérios da Fifa e exemplos de pontuação em um jogo:
- Fórmula
P = R x I x S x C;
- Legendas
P = pontuação no ranking
R = pontos pelo resultado do jogo
I = importância da partida (eliminatórias, amistoso...)
S = força da seleção adversária
C = força da confederação continental
- Critérios da Fifa
R = vitórias (3 pontos); empate (1 ponto) e derrota (zero)
I = Copa do Mundo (4 pontos); Copa das Confederações ou principal torneio de cada confederação (3 pontos); eliminatórias para Copa do Mundo ou para principal torneio de cada confederação (2,5 pontos); e amistosos (1 ponto);
S = o valor 200 é atribuído a todas as seleções. O líder do ranking vale 200. Para achar o coeficiente (S) de outras equipes, o valor é subtraído da colocação do time naquele momento. Equipes abaixo da 150ª posição valem sempre 50 pontos;
C = cada confederação tem um coeficiente: América do Sul (Conmebol) = 1 ponto; Europa (Uefa) = 0,99; Américas Central e do Norte (Concacaf), Ásia (AFC), África (CAF) e Oceania (OFC) = 0,85. Quando a partida é entre duas seleções de confederações diferentes, o valor final será a média.
- Exemplo da Bélgica
Contra Israel, pelas eliminatórias da Eurocopa, a Bélgica somou 1.136 pontos. Entenda:
R = 3 (vitória)
I = 2,5 (eliminatórias da Eurocopa)
S = 153 (200 - 47, a posição de Israel no ranking)
C = 0,99 (Uefa)
P = 3 x 2,5 x 153 x 0,99 = 1.136
- Exemplo do Brasil
Contra os Estados Unidos, em setembro, o Brasil somou 477,3 pontos. Entenda:
R = 3 (vitória)
I = 1 (amistoso)
S = 172 (200 - 28, posição da seleção americana no ranking)
C = 0,925 (média de Conmebol e Concacaf)
P = 3 x 1 x 172 x 0,925 = 477,3
*Estagiário, sob a supervisão de Thiago Dias
Com torcida eufórica, Bélgica vive seu melhor momento no futebol desde a estreia do ranking da Fifa (Foto: EFE)
Por Rafael Chimelli*Rio de Janeiro