*Rangel Alves da Costa
Para a pergunta acima, sobre quem vai pagar as contas da eleição, só há uma resposta: o povo. Sim, quem vai pagar os gastos eleitorais do candidato eleito é o povo. E assim também seria com qualquer outro que fosse o escolhido nas urnas. Não que a população tenha que botar a mão no bolso agora, mas pelo que o seu município e cada munícipe deixarão de receber pelo endividamento do prefeito eleito e pela conta que tem de ser paga.
Seja em município grande, mediano ou pequeno, cada eleição envolve cifras astronômicas, ainda que a lei eleitoral ilusoriamente limite os gastos de campanha. Tanto é assim que os salários de vereadores ou prefeitos, se somados por vinte anos, não chegariam sequer a um terço do que é gasto num pleito eleitoral vitorioso. E tal dinheiro não é gasto por que os candidatos se sacrificam em nome da municipalidade, por que gostam tanto do povo, mas como um verdadeiro investimento, tanto político como financeiro.
Por mais que as negativas sejam muitas, com as justificativas que sempre chegam esfarrapadas, não há como negar que cada candidato pretende logo reaver seus gastos. Principalmente quem nele investiu. Mas como, se o saldo a receber durante os quatros anos sequer se aproxima do que foi gasto? Deve ser milagre. Mas não há milagre nenhum, e todo mundo sabe disso. A verdade é que o tal dinheiro deve sair de algum lugar e não será mais de bolso próprio nem daquele investidor. De algum lugar tem de sair, mas de onde?
E tem de sair de algum lugar porque os eleitos (e também os derrotados) têm muitos compromissos financeiros assumidos, têm de honrar compromissos de muitas cifras. E quem investe em campanha de outro não o faz por bondade ou mera amizade, mas porque tenciona não só receber o seu a juros altos, bem acima do mercado, como fazer mais empréstimos para manter a dependência. Certamente nenhum candidato se submeteria a isto acaso pudesse bancar por conta própria uma campanha.
Tal contexto demonstra que, mesmo por parte do eleitor vitorioso, não há motivo algum para comemoração. E para a população em geral uma verdadeira derrota nos primeiros tempos de governança. Os débitos existentes pelos gastos de campanha acabam jogando por terra as mil e uma promessas. Logo surgem os discursos de terem encontrado a prefeitura falida, que não há dinheiro em caixa para absolutamente nada, que precisam primeiro organizar a casa para começarem a trabalhar.
Com efeito, dificilmente um novo prefeito encontra uma prefeitura com boa saúde financeira. A quase generalidade é mesmo de total desmanche e débitos monstruosos. Mas um fato que historicamente se repete e que não inibe de que candidatos gastem mundos e fundos para tomar suas chaves. E às vezes fica até difícil compreender o porquê de tanto se gastar para assumir um problema. Ora, desde já muitos prefeitos eleitos já preparam lenços para a choradeira de sempre. Basta assumirem e logo estarão nas emissoras choramingando, dizendo que encontraram escombros e que só milagre para resolver a situação.
Contudo, já sabiam disso de antemão. E por que gastaram tanto para se elegerem? Serão masoquistas? Tudo envolve aquele mistério tão conhecido pelo candidato e pouco revelado pelo eleitor e pela população. O tal mistério que faça gastar fortunas para sofrer, o tal mistério que faça gastar muito mais do que possa ganhar em vinte anos de salários. O mistério que envolve poder, administração, ter as chaves à mão, ter as verbas municipais quase todas ao seu dispor. Somente assim se explica tamanho sacrifício.
Com lápis e papel à mão, fazer as contas causa até arrepios. Mesmo que o novo gestor vá empurrando com a barriga as dívidas deixadas pelo antecessor, ainda assim encontrará dois problemas difíceis de serem resolvidos: a falta de dinheiro em caixa e o comprometimento de grande parte daquele que entrará na conta da prefeitura. Tem de pagar ao investidor da campanha, tem de cumprir com os débitos acumulados. O não pagamento pode causar sérios problemas pessoais. Por conta disso é que as promessas de campanha vão ficando para depois, pouco ou quase nada é realizado, a administração vai se tornando em mesmice. E toda a população vai sendo sucessivamente penalizada.
Alguém poderia dizer que pinto uma situação catastrófica, que não é bem assim. Que bom que não fosse mesmo. E melhor ainda se ao menos um terço das promessas fosse cumprido ao longo do mandato. Contudo, a realidade de campanha é muito diferente daquela surgida após o início do mandato. Não é fácil começar a trabalhar, a cumprir promessas, quando os cofres estão vazios e as verbas que chegam são insuficientes, principalmente pelos compromissos assumidos.
Assim, quem sempre acaba pagando a conta é a população. E paga pela precariedade na saúde, na educação, nos serviços urbanos, nas melhorias essenciais. O dinheiro que seria utilizado na municipalidade toma outras destinações. Dificilmente uma gestão não começa assim. E raramente um gestor consegue vencer tais desafios e transformar sua administração em sinônimo de eficiência. Só nos resta torcer pelo melhor, por todo lugar.
Escritor
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