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segunda-feira, 1 de maio de 2017

No Brasil, uma verdade é incontestável: não importa quem esteja roubando, o PMDB está no meio.

O deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) está no PMDB há 51 anos. Um dos fundadores da agremiação, Vasconcelos foi deputado estadual, prefeito, governador e senador antes de ir para a Câmara dos Deputados em 2014.
Em 2009, o político pernambucano parecia ter chegado ao seu limite com o partido. Diferentemente dos seus colegas, Jarbas havia defendido a cassação de Renan Calheiros, dois anos antes, por seu envolvimento com a construtora Mendes Júnior. A eleição de José Sarney (PMDB-MA) à presidência do Senado, quando congressistas afirmavam ansiar por “moralização e inovação”, foi a gota d’água para o então senador disparar: “boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção“.
É difícil encontrar alguém que discorde da afirmação. O próprio Jarbas Vasconcelos foi acusado de receber R$ 2 milhões da Odebrecht!
Apesar de ter sido fundado aglutinando forças que faziam oposição à ditadura, o PMDB se tornou o único partido a ter estado no primeiro-escalão de todos os governos desde a redemocratização; nem sempre por motivos republicanos.
Em seus diários, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) diz que a pressão do partido para emplacar o então deputado federal e hoje investigado pela Lava Jato Eliseu Padilha (PMDB-RS) no Ministério dos Transportes cheirava mal. Foi sob pressão da ala do partido abrigada no Senado que o então senador e hoje investigado pela Lava Jato Edison Lobão (PMDB-MA) se tornou Ministro de Minas e Energia no governo Lula, mesmo sem entender patavinas da área. Sem cargos após perder a disputa pelo governo do Rio Grande do Norte, o ex-deputado e hoje investigado pela Lava Jato Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) pôde contar com a ajuda do partido para virar Ministro do Turismo no governo Dilma.
Os membros da legenda sabem que o gigantesco Estado brasileiro abre muitas oportunidades para qualquer um que se torne ministro, presidente de uma agência reguladora ou chefe de uma simples autarquia. Além do orçamento administrado, estar sentado em uma dessas posições pode ser a chave para angariar apoio político e criar dificuldades para vender facilidades.
Tão íntimo do poder, não é surpresa alguma descobrir que algum nome do partido esteja envolvido em um escândalo de corrupção. Como os seis casos abaixo demonstram, independentemente de onde e como esteja ocorrendo, boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.

1. Anões do Orçamento

Instalado na Comissão de Orçamento do Congresso desde 1972, o então deputado João Alves (PFL-BA) dominava como ninguém o assunto. Ainda naquela época, conseguiu fazer o governo militar destinar recursos para suas bases eleitorais. Em troca, o deputado baiano barrava mudanças propostas pelos outros congressistas.
Com a Constituição de 88, o poder do Congresso para alterar o orçamento foi ampliado e, com isso, as oportunidades de “negócios”.
Liderados por Alves, um grupo de parlamentares passou a utilizar suas emendas orçamentárias como moeda de troca para propinas e desvios de dinheiro. A gangue cobrava um pedágio de prefeitos e construtoras que desejavam ver suas obras incluídas no orçamento. Além disso, o esquema destinava recursos para entidades sociais “fantasmas”, que eram utilizadas para financiar as campanhas dos envolvidos.
Afora o deputado pefelista, o ex-assessor da Comissão de Orçamento do Congresso Carlos Alves dos Santos afirmou em entrevista à VEJA que sete deputados e um senador estavam envolvidos no esquema.
O PMDB estava dentro do arranjo. Para desviar dinheiro público, valia à pena compactuar até com quem tinha apoiado a ditadura. Manoel Moreira (PMDB-SP), o então vice-líder do partido Cid Carvalho (PMDB-MA), o ex-líder Genebaldo Correia (PMDB-BA), José Geraldo Ribeiro (PMDB-MG) e Ronaldo Aragão (PMDB-RO) tiveram seus nomes citados. Os investigados não compartilhavam apenas a legenda, mas também a baixa estatura, recebendo o apelido de “anões do orçamento”.
Acuado pelas denúncias, Alves chegou a afirmar que o seu enriquecimento e o dos envolvidos no esquema era uma obra divina. De acordo com o próprio, apenas ele já tinha sido sorteado 200 vezes na loteria.
Revelado pouco após o impeachment de Collor, o escândalo dos anões já envolvia todas as empreiteiras hoje investigadas na Lava Jato, e suscitou movimentações nas Forças Armadas sobre um novo golpe. Ironicamente, por roubar demais, o PMDB quase foi um dos responsáveis pelo fim da jovem democracia brasileira.

2. Escândalo da construção do TRT-SP

Em 1992, o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP) iniciou a construção do Fórum Trabalhista de São Paulo. Seis anos depois, apesar de 98% dos recursos reservados para a obra terem sido gastos, apenas 64% da edificação tinha sido erguida.
O caso foi investigado na CPI do Judiciário e demonstrou que o PMDB também pode superfaturar obras de outro poder.
A comissão apontou a criação de um esquema engendrado pelo então presidente do tribunal, Nicolau dos Santos Neto, e o então senador e dono do Grupo OK, Luiz Estevão (PMDB-DF), para fraudar o erário. Estima-se que R$ 169 milhões, em valores da época, foram desviados.
Estevão se defendeu afirmando que não conhecia nenhum dos envolvidos e que tinha perdido a licitação para as empresas Incal Incorporações e Ikal Construções, do empresário Fabio Monteiro de Barros Filho. Sua tese começou a desmoronar quando a quebra do sigilo telefônico dos investigados no caso revelou 68 telefonemas de Santos Neto e 2.651 de Monteiro de Barros para o senador. Enquanto isso, mesmo tendo sido eleito para representar o Distrito Federal, Luiz Estevão destinou recursos na Comissão de Orçamento para a construção do tribunal em São Paulo.
Complicando ainda mais a situação do congressista, a quebra do sigilo fiscal das empresas ganhadoras da licitação demonstrou que tais companhias realizaram transferências no valor total de US$ 39,6 milhões nos anos de construção do tribunal para empresas do Grupo OK. Em um primeiro momento, os acusados afirmaram que os valores se referiam ao pagamento de empréstimos feitos pelo Banco OK em favor de Monteiro de Barros. Todavia, a maior parte dos valores não foi transacionada para o banco, mas sim para outras empresas do grupo.
Sua posição ficou ainda mais delicada quando funcionários do Senado que trabalhavam na CPI do Judiciário se disseram ameaçados pelo então senador. De acordo com a Folha de S. Paulo, Estevão teria invadido uma reunião e afirmado que, por serem o lado mais fraco da relação, iria “sobrar para eles”.
O acúmulo de denúncias, evidências, e o fato do então senador ser amigo pessoal de Fernando Collor – tendo sido avalista do falso empréstimo bancário que o ex-presidente fez para tentar explicar a origem dos seus recursos – tornaram a situação de Luiz Estevão insustentável. Mesmo assim, ele não perdeu o apoio do PMDB.
Na época presidente do partido e líder da agremiação no Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA) tentou ajudar Estevão no seu processo de cassação. O hoje notório Renan Calheiros (PMDB-AL) afirmava em entrevistas que a união do PMDB poderia salvar o mandato do colega.
Apesar das articulações, Estevão acabou se tornando o primeiro senador da história a ser cassado e o único em que a votação do seu processo de cassação gerou outro escândalo.
A violação do segredo do voto pelos senadores José Roberto Arruda (PSDB-DF) e ACM (PFL-BA) causou a renúncia de ambos e revelou que dos 15 votos pela absolvição de Luiz Estevão, 11 vieram do PMDB.

3. Fraude nas merendas do estado de São Paulo (Operação Alba Branca)

Na manhã do dia 19 de janeiro de 2016, a Polícia Civil e o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) prenderam dirigentes da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf). Os órgãos identificaram um esquema de pagamento de propinas em troca de contratos superfaturados para o fornecimento de suco à Secretaria de Educação Estadual e outras 22 prefeituras paulistas.
Segundo os investigadores, a cooperativa se aproveitou da legislação federal que prevê incentivos para que até 30% da merenda escolar seja comprada a partir de pequenos produtores rurais. A entidade vendia o suco com sobrepreço afirmando que ele era proveniente da agricultura familiar, mesmo o comprando mais barato de indústrias. Para garantir os contratos, acertos envolvendo “comissões” eram feitos.
Presos, os funcionários da Coaf colaboraram com as investigações e revelaram a presença de políticos no esquema. De acordo com eles, até um quarto dos valores dos contratos eram destinados ao pagamento de propinas.
Os interrogados pela polícia apontaram o deputado estadual e então presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) Fernando Capez (PSDB-SP) como um dos receptores do dinheiro ilícito. Na versão dos membros da cooperativa, Capez foi o responsável por conseguir a celebração do contrato com a Secretaria de Educação e dirimir quaisquer problemas futuros.
No plano municipal, o vice-presidente da Coaf, Carlos Alberto Santana da Silva, apontou o deputado federal Baleia Rossi (PMDB-SP) como beneficiário do esquema.
Em seu depoimento, Carlos Alberto afirmou “que em relação às vendas para as prefeituras de Campinas e Ribeirão Preto, valores eram repassados ao deputado Baleia Rossi”. Nos grampos que embasaram a operação, os investigados mencionam até entrega de dinheiro em seu escritório político em Ribeirão Preto.
O vendedor da Coaf Carlos Luciano Lopes afirmou em seu depoimento que Baleia era influente na prefeitura de Ribeirão Preto, sendo sempre requisitado pelo ex-presidente da cooperativa Cássio Chebabi quando os pagamentos vindos daquele município atrasavam.
O vendedor Adriano Miler contou que teria ido até onde Baleia Rossi estava junto com Chebabi. Ainda de acordo com o vendedor, o então presidente da cooperativa carregava consigo um envelope com R$ 200 mil. Ao se reunir com o deputado, Chebabi teria sido orientado a guardar o dinheiro e entregá-lo a Gustavo Spido (PMDB-SP), candidato a deputado estadual e aliado de Baleia.

4. Mensalão

Conhecido por ser um partido fragmentado, o PMDB não embarcou por inteiro no governo Lula. No início de 2003, uma minoria expressiva da agremiação fazia oposição à administração petista e cerrava fileiras junto aos partidos que haviam saído derrotados nas eleições de 2002 e a militantes radicais do PT.
O apoio do partido não saiu barato. Utilizando a estrutura montada pelo PT para irrigar o Valerioduto, o PMDB foi acusado de ter mais de 50 dos seus 81 deputados envolvidos no esquema que angariava recursos oriundos de caixa dois e de desvios do Banco do Brasil para comprar parlamentares.
José Borba (PMDB-PR), então líder do PMDB na Câmara, teria sacado pessoalmente R$ 2,1 milhões da agência SMPB de propriedade do publicitário Marcos Valério. Cuidadoso, Borba se recusou a assinar recibos do saque na agência do Banco Rural em Brasília, fazendo a diretora administrativa-financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, ir ao banco receber o dinheiro e em seguida entregá-lo.
Esta não foi a única vez que Borba recebeu dinheiro. A secretária de Valério, Fernanda Karina, relatou ter visto o seu então chefe se dirigir a um encontro com Borba carregando uma mala de dinheiro. Ao lançar uma nota se defendendo, o deputado paranaense não apenas confirmou conhecer o publicitário mineiro, como afirmou que ele [Valério] indicava nomes para a administração federal.
Esse dinheiro, todavia, não era destinado aos membros do partido. Estes recebiam através do assessor de Borba, Roberto Bertholdo, que já havia sido indicado pelo deputado para um assento no conselho da Usina de Itaipu.
Em entrevista à VEJA, Antônio Celso Garcia, empresário e sócio informal de Bertholdo, afirma que o seu então parceiro se reunia semanalmente em São Paulo com três dirigentes do PT à época – Delúbio Soares, Marcelo Sereno e Silvio Pereira – e depois o transportava a Brasília em jatos particulares ou alugados. A divisão do dinheiro era feita de acordo com a importância do deputado e se dava em uma sala ao lado da liderança do partido na Câmara ou em uma casa alugada no Lago Sul.

5. Petrolão

Com o fim do Mensalão, o Governo precisava de uma nova fonte de recursos capaz de manter a base aliada coesa e obediente. Em suas delações, o ex-deputado Pedro Côrrea (PP-PE) e o ex-senador Delcídio do Amaral (na época PT-MS) afirmam que o alvo foi direcionado então para a Petrobras. A estatal foi dividida entre PP, PT e PMDB. Cada um dos partidos recebeu uma diretoria da empresa e coube ao PMDB enquanto bancada indicar o Diretor da Área Internacional.
De acordo com Nestor Cerveró, devido ao enfraquecimento do PT no pós-Mensalão, a bancada do partido no Senado concordou em apoiá-lo a partir de 2006. Em troca, exigiram R$ 6 milhões de propina oriundos de contratos da Petrobras para a compra de navios-sonda.
Enciumada, a bancada do PMDB na Câmara também teria exigido espaço na Diretoria. Aproveitando a necessidade do governo em aprovar a prorrogação da CPMF em 2008, os deputados supostamente exigiram um pagamento mensal de US$ 700 mil de Cerveró para votar com o governo. Como este último teria negado o acerto, Jorge Zelada foi alçado ao posto.
O partido não se contentou apenas com a Diretoria Internacional. Sentindo que estava perdendo o apoio do PP para ficar na Diretoria de Abastecimento, Paulo Roberto Costa procurou ajuda na bancada do PMDB no Senado e encontrou. Teria apoio político para ficar no cargo. Em troca, teria que providenciar o pagamento de propinas.
Segundo o Ministério Público Federal, o esquema fez com que apenas dois operadores do partido fossem responsáveis por pagar 40 milhões de dólares em propinas.

6. Esquema PC Farias

Há 40 anos na política, o senador alagoano Renan Calheiros (PMDB) esteve durante toda a sua carreira filiado ao PMDB, exceto durante um breve período em que arregimentou as fileiras do Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Na época, Calheiros fez parte da “República de Alagoas” e se tornou líder do governo Collor no Congresso.
Mais tarde inimigos figadais graças às disputas pelo governo de Alagoas, Renan e Collor ajudaram-se mutuamente em seus tempos áureos. De acordo com o ex-deputado federal Pedro Corrêa, Renan teria sido eleito naquelas eleições com recursos oriundos do esquema montado por Paulo César Farias, o PC Farias, notório arrecadador de propinas para o grupo.
O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também é dono de uma trajetória que remonta ao governo Collor. Na época no PRN, Cunha foi convidado a assumir a direção da empresa estatal de telecomunicações no Rio de Janeiro, a TELERJ. Sua gestão foi marcada por suspeitas de tratamento privilegiado para fornecedores, irregularidades na contratação de servidores e incapacidade de fazer até mesmo catálogos telefônicos.
Com o impeachment de Collor, Cunha foi para o PPB e assumiu Companhia Estadual de Habitação do Rio (Cehab). Passou apenas seis meses no cargo, sendo afastado após denúncias de irregularidades em contratos sem licitação e favorecimento de empresas fantasmas.
Mostrando que não tem preconceito algum com a vida pregressa dos seus filiados, o PMDB abriu as portas para o deputado fluminense em 2003 e o permitiu montar uma máquina de extorsão e pagamento de propinas dentro do governo federal. Em dado momento, sua bancada era maior que as do governo e da oposição.
Spotniks

7 coisas que os sindicatos não irão lhe contar sobre a greve geral




O que você faria com 3,9 bilhões de reais todos os anos? Na ponta do lápis, este é todo o valor que o Ministério da Saúde investiu em novos hospitais, ambulâncias e equipamentos para o SUS num intervalo de doze meses. É muita grana, não? 3,9 bilhões de reais é também o atual valor repassado anualmente aos 17 mil sindicatos brasileiros, por meio do imposto sindical obrigatório, extinto esta semana pelo Congresso com a reforma trabalhista.

As consequências são inevitáveis. Seriamente afetadas pela decisão, as principais centrais sindicais do país estão neste momento realizando uma greve geral – a primeira em mais de duas décadas.


Desde o impeachment, aliás, greve geral é uma expressão que voltou ao vocabulário político brasileiro. Neste período, apenas a Central Única dos Trabalhadores, que você repetidamente testemunhou em atos contrários à saída de Dilma do Planalto, publicou nada menos do que 33 pedidos de convocação de uma greve geral em seu site.
Mesmo centrais sindicais supostamente favoráveis ao atual governo encontram-se alinhadas à ideia de greve, como é o caso da Força Sindical. Seu presidente, Paulinho da Força, além de ex-integrante da tropa de choque de Eduardo Cunha, se notabilizou pela extensa campanha contrária ao fim do imposto sindical nas últimas semanas.
Lado a lado, centrais sindicais rivais encontraram no momento atual uma forma de pressionar o governo, cada qual a seu modo. Junto delas, sindicatos dos mais variados nichos de atuação – incluindo o de professores e boa parte dos que atendem o funcionalismo público, os mais afetados pelas mudanças nas regras da previdência.
O certo é que, independentemente de quantas pessoas ou categorias estejam nas ruas neste momento, não é de se espantar que cada um, à sua maneira, esteja lutando pelos seus interesses e privilégios. Mas esse é apenas um lado da história. Há algumas coisas que todos esses grupos acabaram esquecendo de contar para você na hora de tentar convencê-lo a partir para uma greve. E é exatamente esse papel que nós desempenharemos no decorrer deste texto.

1) Não, o seu salário não depende da boa vontade de um político.

Você alguma vez já se perguntou por que o governo não determina que o salário mínimo seja de R$ 3.200 por pessoa? É um bom salário, não? Com este valor, segundo o DIEESE, seria possível atender todos os pré-requisitos, estabelecidos pela constituição, a que um cidadão tem direito. Num país onde mais da metade da população ganha 1/3 desse valor, não é difícil imaginar que um aumento desses representaria um ganho significativo de qualidade de vida, não é mesmo?
Não exatamente.
A primeira coisa que você deve entender sobre essa história é que, independentemente de o governo criar um piso artificial numa única canetada, prometendo resolver a vida dos trabalhadores brasileiros, salários ainda dependem do que podemos fazer com eles.
Pense no que ocorreria, por exemplo, se todos passassem hoje a ganhar R$ 3.200 e a quantidade de bens e serviços produzidos no país continuasse a mesma – algo que não é possível alterar da noite para o dia. Não é muito difícil perceber que o preço dos bens e serviços subiria, para atender a demanda criada pelo aumento salarial artificial, corroendo nossa moeda até igualar o novo nível de dinheiro ao nível de bens e serviços – e quem tem mais tem de trinta anos sabe na pele o que estou falando: inflação. É dinheiro de mentirinha. Uma falsa sensação de que você está ganhando bem.
Isso ocorre porque, em última instância, o salário de um indivíduo está ligado à sua produtividade. Na sociedade, a capacidade de elevar os salários esbarra justamente em existir espaço para esta elevação. Em outras palavras: se a produtividade não crescer é impossível continuar elevando a renda.
O que determina essa tal produtividade? Fatores como educação e a quantidade de recursos investidos por pessoa são fundamentais para determinar o quanto cada indivíduo é capaz de produzir em riqueza. E este é um dos maiores problemas do Brasil.
Há quatro décadas, nossa produtividade está praticamente estagnada – ou seja, cresce nada ou muito perto disso. Na prática, um trabalhador brasileiro do século vinte e um permanece com o mesmo nível de produtividade de um trabalhador dos anos setenta.
O que isso tudo significa? Que a simples vontade política não é um fator determinante na elevação da renda de uma pessoa. Ou seja: por mais interessado que um político esteja em aumentar o seu salário, ele não pode fugir dessa realidade.

2) No Brasil, abrir um sindicato é um negócio (e dos mais lucrativos).

Todos os anos, faça chuva ou faça sol, surge no país um novo sindicato num intervalo de apenas dois dias. E entender por que isso acontece não é muito difícil.
Desde 1937, quando Getúlio Vargas publicou a constituição que respaldaria sua ditadura, uma contribuição sindical tornou-se obrigatória independentemente do fato de você estar filiado a um sindicato ou não. Desde então, cada cidadão é obrigado a contribuir com os sindicatos pelo valor de um dia do seu trabalho durante o ano.
Na soma, R$ 3,9 bilhões, como citado no início desse texto, que atendem desde a CUT e os sindicatos mais conhecidos – como o Sindicato dos Comerciários – aos mais surreais, como o Sindicato das Indústrias de Roupas para Homens e Camisas Brancas do Estado de São Paulo ou o Sindicato de Trabalhadores de Entidades Sindicais (vulgo sindicato dos que trabalham em sindicatos).
Segundo dados do Ministério do Trabalho, nada menos do que um em cada cinco sindicatos do Brasil nunca participaram de uma negociação coletiva. O que significa, em outras palavras, que nunca atuaram para representar aqueles que os financiam. Na prática, isso pouco importa. Continuam recebendo.

3) Mais direitos trabalhistas não é algo que necessariamente significa uma renda maior para os trabalhadores.

O que leva um mexicano a abandonar um país onde ser demitido é pode render uma indenização equivalente a 74 semanas de trabalho para um país onde sequer existe aviso prévio, férias ou qualquer destes benefícios trabalhistas comuns, como os Estados Unidos? Ou ainda: o que leva 4 milhões de indonésios, o país onde é mais difícil demitir uma pessoa em toda a Ásia, a viverem em outras países do continente, como em Cingapura, um país onde sequer existe lei de salário mínimo?
Por que um espanhol abriria mão de um país onde o salário mínimo chega a 825 euros por mês, para migrar para a Dinamarca ou Suíça, países onde salário mínimo não é previsto em lei?
Perguntas como essas soam complicadas a muitos trabalhistas, mas revelam algo bem sugestivo sobre a vida laboral: para a maior parte dos trabalhadores é mais importante ter condições de receber uma boa renda do que ter garantia em lei de continuar recebendo algo em um emprego estável – leis que muitas vezes garantem apenas subdesenvolvimento.
Mais importa conseguir ampliar sua renda em países como o Canadá, a Austrália, Cingapura ou os Estados Unidos, onde, segundo o Banco Mundial, é mais fácil demitir uma pessoa sem complicações, do que amarrar-se às legislações de países como França, Itália ou Brasil, os três onde mais se paga impostos sobre o trabalho no mundo.
Na prática, o que qualquer um que imigre em busca de trabalho percebe é que muito mais do que escrever palavras e direitos em um papel, é preciso criar oportunidades –  sem isso, a palavra escrita em uma constituição, por mais bonita que seja, perde o valor.

4) Nenhum sindicato convocou greve geral quando o governo achou razoável aumentar sua dívida para repassar R$ 523 bilhões a grandes empresários.

Pode parecer estranho que o país tenha levado quase duas décadas para ver uma nova tentativa de se convocar uma greve geral – afinal, durante os primeiros cinco anos pós-ditadura, tivemos nada menos do que três greves bem sucedidas. Para quem acompanha de perto a política e a economia brasileiras, não é difícil citar momentos em que a situação tornou-se alarmante e mereceu atenção das centrais sindicais.
Em um dos momentos recentes de maior relevância, o governo decidiu colocar-se no centro da economia, tornando-se responsável por mais da metade do crédito no país. E fez isso de uma maneira muito simples: aumentando sua própria dívida.
Ao definir quem recebe tais empréstimos, de maneira subsidiada – ou seja, pagando juros menores do que a própria inflação – cerca de 70% dos beneficiários foram justamente as grandes empresas.
Em outras palavras: um grande esquema que endividava a população e transferia dinheiro às empresas mais ricas do país. E a pergunta que não quer calar agora é: onde estavam os grandes sindicatos nesse tempo todo?
O presidente da CUT, Vagner Freitas, estava no conselho do BNDES, o banco que aprovava cada uma destas ações.
Para isso, recebeu valores que podem chegar até R$ 23 mil mensais. Nada mal, hein?

5) O conflito entre Cidadão x Estado é tão ou mais importante que o embate entre empregado e empregador.

No papel, um sindicato existe para proteger os direitos dos trabalhadores. Na prática, o único conflito intermediado por parte dos sindicatos parece ser aquele que se origina junto aos empregadores. Conflitos eventuais entre os trabalhadores e o governo têm pouca ou nenhuma relevância.
Como mostrou uma pesquisa recente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores, para boa parte da população que vive na periferia de São Paulo, o debate entre o cidadão e o Estado é bastante presente.
No país onde mais se paga imposto sobre o trabalho no mundo, exatos R$ 57,56 a cada R$ 100 em salários, não há em Brasília um único sindicato ocupado em tentar mudar esta realidade – deixando uma parte maior do seu salário no seu bolso e não nos cofres do governo. Não há também sindicatos preocupados em ampliar o retorno do seu FGTS, que entre 1999 e 2015 teve um prejuízo de R$ 229 bilhões acumulados.
Há cinco representantes de sindicatos no conselho do FGTS, recebendo remunerações que podem chegar a R$ 7 mil, para comparecimento a uma única reunião mensal.
Exemplos como este se espalham por toda a administração pública.
Ao contrário dos acertos entre Emílio Odebrecht e sindicalistas para impedir manifestações em suas obras, porém, nada disso é escondido ou tratado como indecoroso. Trata-se de sindicalistas cumprindo seu dever: ser rigoroso junto aos empregadores, e fingir que nada ocorre de errado na relação trabalhador-governo.

6) Nenhum deles apresentou alternativas à reforma da Previdência.

Reformar a Previdência não é exatamente uma ideia nova. Desde o governo Collor, todos os governantes buscaram mudar uma ou outra regra para reduzir o custo a ser pago pelo crescimento do gasto previdenciário no longo prazo. Mas foi a partir do governo FHC que as reformas se tornaram cada vez mais duras.
No governo Lula, pensões para filhas de militares tornaram-se coisa do passado. No governo Dilma, aposentadoria integral deixou de ser uma realidade para o funcionalismo público.
Em comum, mesmo nos governos com forte apoio por parte de centrais sindicais, há uma completa apatia junto ao debate. Em todos estes casos, sindicatos do funcionalismo público opuseram-se à mudança, tal qual fazem hoje, quando Temer propõe tornar o teto do serviço público igual ao teto do setor privado.
Não há até aqui, em mais de duas décadas, nenhuma reforma que tenha sido apoiada por parte de sindicatos, em especial pelos sindicatos do funcionalismo.
Ainda que em 2015, 1 milhão de funcionários públicos tenha tido um déficit igual ao de 28 milhões de membros do INSS, em nenhum momento, qualquer destes sindicatos apresentou uma solução para o problema.
Trata-se de um debate onde um lado propõe soluções – algumas longe de serem boas para a economia brasileira, é verdade – enquanto o outro age sempre fazendo campanha contra, independentemente da pauta.
No fim, perdem todos que ainda acreditam que é possível encontrar soluções por meio do debate.

7) Para os sindicatos, a solução dos seus problemas pode ser Renan Calheiros.

A aprovação da reforma na Câmara dos Deputados parece ter mostrado a fraqueza dos sindicatos em articular apoio junto aos congressistas. Uma derrota histórica, no entanto, que põe fim a um imposto de oito décadas que mantém irrigado todo o sistema de sindicatos do país, não é algo que ocorreria sem contestação de alguns políticos.

Pensando nisso, CUT, GGT, Força Sindical e outras representantes sindicais foram ao Senado Federal em busca de apoio. Por lá, encontraram Renan Calheiros, agora oficialmente de oposição ao governo federal, ainda que do mesmo partido.
Tal qual Cunha, para estas centrais, o apoio de alguém com poder e influência, que rejeita o próprio partido e lança-se na oposição, parece uma centelha de esperança.
Para ter certeza de que Renan poderá de fato mudar algo a essa altura do campeonato, no entanto, é necessário que as centrais sindicais cumpram sua parte e demonstrem força na realização da greve.
Para os sindicalistas presentes, Renan continua sendo o “líder de todos nós”, independentemente de seus nove processos em tramitação no STF.
Spotniks

NA ESTRADA DA VIDA

Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...

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