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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

10 ações que Temer poderia realizar com a grana que usou para comprar apoio no Congresso

O Brasil está dividido. Você já deve ter cansado de ouvir esta frase, que se tornou o mantra de 10 entre 10 analistas políticos desde junho de 2013. Como na política nem tudo é preto no branco, testemunhamos na absolvição de Michel Temer no Congresso um raro exemplo daquilo que de fato une todo brasileiro: o sentimento de vergonha sempre que assistimos nossos representantes em cena.
A acusação contra o presidente da República é a mais escandalosa possível: corrupção passiva. Ou, mais precisamente, ser o destinatário final de uma pomposa mala com R$ 500 mil, entregue pelo empresário Joesley Batista a um portador indicado por Temer, como recompensa pelo apoio a uma das empresas do grupo comandado por Batista, dona de uma termelétrica a gás que depende da Petrobras como fornecedora.
Em pauta, o arquivamento ou aceitação do pedido apresentado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para investigar Michel Temer. Para escapar da denúncia, bastava a maioria simples entre os 513 deputados e foi exatamente o que ocorreu. Um total de 263 deputados votaram para que a investigação não seguisse adiante, contra 227 favoráveis.
Conseguir apoio dos parlamentares para aprovar temas polêmicos tem sido um dos pontos fortes do governo. Ex-presidente da câmara em duas ocasiões – em 1997, quando contou com o apoio do PSDB e do PFL, e em 2009, quando contou com os votos do PT, como retribuição por ter ajudado a eleger Arlindo Chinaglia (PT-SP) dois anos antes -, Temer é o que se pode chamar de uma raposa da política, dos mais hábeis quando o assunto são os jogos de interesse do Congresso Nacional.
Desta vez, porém, o que estava em jogo não era uma reforma ou uma medida emergencial contra a crise que o país atravessa, mas a própria existência de um governo comandado por Michel Temer e, como tal, o jogo foi pesado. Cerca de dez ministros foram exonerados de seus cargos para reassumirem suas vagas de deputado e votarem a favor do presidente e contra as investigações. Antes do dia definitivo, entretanto, muita coisa rolou e alguns bilhões correram soltos no Congresso. Ao todo, R$ 17 bilhões foram destinados aos parlamentares por meio de emendas para serem gastos em obras de interesse em suas bases eleitorais.
Veja bem: no confuso dicionário político de Brasília, quando Marcelo Odebrecht, preso há dois anos em Curitiba, destina R$ 11 bilhões em dinheiro público para comprar apoio de políticos, trata-se de Corrupção Ativa. Quando um presidente distribui cargos ou verbas para obras, financiadas com o mesmo dinheiro público, o nome que se dá é Governabilidade.
A despeito de, perante a lei, a distribuição de emendas parlamentares ser comum e parte do orçamento, seu uso político – em especial as condições nas quais são liberadas – escancara uma prática de conchavos e defesa de interesses próprios, em detrimento das prioridades do país. Entre janeiro e junho deste ano, foram R$ 102,5 milhões em emendas liberadas. Na véspera da votação, R$ 17 bilhões entre emendas e verbas para prefeituras.
Abaixo, listamos alguns exemplos de prioridades – muito mais úteis do que um arquivamento de inquérito – que este valor pode comprar:

1. Aumentar em 400% os investimentos do SUS em equipamentos.

Quando se fala em prioridades para o gasto público, é raro encontrar um brasileiro que discorde que saúde e educação deveriam encabeçar a lista. Afinal, para obtermos qualquer coisa, é necessário estar em dia com o primeiro ponto, enquanto o segundo é responsável por abrir portas. Para o país com o sistema de saúde mais mal avaliado do planeta, segundo pesquisa realizada pela Bloomberg, nem de longe isto parece uma prioridade. Isto é, quando falamos de prioridades sob o ponto de vista do governo.
Investir em saúde não é algo simples e requer, via de regra, duas medidas. Primeiro, é preciso formar bons médicos, com ensino de qualidade e rigor na avaliação. Depois, é fundamental que haja bons equipamentos para que estes mesmos médicos possam realizar o trabalho de salvar vidas.
No que depender da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), esta segunda tarefa requer alguma paciência. Isto porque, ainda que existam verbas, aprovar o uso de um equipamento novo por aqui – como aqueles fabricados pela General Eletric, por exemplo, que podem chegar a custar alguns milhões – requer quatro anos de análises burocráticas. Cada agente precisa ir até a fábrica responsável pelo equipamento e certificar sua qualidade.
Terminado o passeio turístico e o preenchimento da papelada, é provável que o equipamento já esteja obsoleto ou, ao menos, desatualizado. Isso porque, em uma indústria dinâmica como a de materiais hospitalares, a eficiência dos equipamentos é ampliada, em média, a cada dois anos.
Vencido este obstáculo, ainda é preciso contar com a boa vontade do Congresso Nacional para aprovar a verba para aquisições e isto, ao menos desde 2014, tem ficado cada vez mais difícil. Hoje são R$ 3,8 bilhões para este fim, verba esta que poderia ser ampliada em 400%, caso o governo decidisse alocar os recursos utilizados esta semana para garantir a tal da governabilidade.

2. Triplicar a verba de pesquisa do orçamento de 2017.

Que o Brasil não é um país amigo da ciência não chega a ser uma novidade. Nossa agência espacial, por exemplo, ainda conta com datilógrafos concursados. Nosso Congresso leva ao menos um ano para saber se honraremos o compromisso de participar de um projeto como o Large Telescope no Chile, e outro deputado propõe vetar a importação de livros.
Casos como o projeto do senador Romário para facilitar a importação de material para pesquisa ainda são raros no país, conhecido por atrasar o lançamento da estação espacial internacional por descumprir sua parte no acordo de construção.
Recentemente, por exemplo, a Telebrás (sim, ela ainda existe) lançou um satélite geoestacionário orçado em R$ 2,8 bilhões. Exatos 12 dias antes do satélite ser lançado, foi feita uma licitação para decidir quem construiria as antenas para receber os sinais enviados do espaço. No que pode se revelar decepcionante para alguns, descobrimos que nem mesmo os chineses conseguem entregar antenas em seis cidades brasileiras no prazo de 12 dias. O resultado? R$ 200 milhões em prejuízo ao mês, valor similar ao que os nobres membros do judiciário recebem de auxílio-moradia.
Para este ano, estão previstos R$ 8,7 bilhões em verbas para a ciência, cerca de metade daquilo que o Congresso recebeu em emendas.
Enquanto decide a melhor maneira de se salvar, o Brasil continua investindo seus parcos US$ 35 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, verba igual à destinada apenas pelas empresas Google e Amazon para o mesmo fim.

3. Reduzir em um ano o prazo para universalização do saneamento básico no Brasil.

Você talvez já tenha ouvido falar naquele papo de que cada R$ 1 investido em saneamento, significam R$ 4 a menos em gastos com saúde. Pode parecer lógico, portanto, que um governo obstinado em cortar despesas destine uma boa quantidade de verbas para isso, facilmente recuperáveis em custos menores para o SUS no futuro.
No entanto, nem mesmo uma boa lógica de investimento público parece afetar aqueles que têm a caneta na mão para definir o orçamento. Hoje, 100 milhões de brasileiros não possuem acesso a tratamento de esgoto, quase metade da população.
Por ano, alocamos aí R$ 15 bilhões, na sua maior parte através de financiamentos subsidiados via Caixa Econômica Federal com recursos do seu FGTS. Em outras palavras: o governo cobra impostos para entregar saúde e depois utiliza seu dinheiro novamente para financiar o que prometeu fornecer com seus impostos.
Para resolver esta tarefa, precisamos investir R$ 317 bilhões ao longo das próximas duas décadas. Trata-se, portanto, da escolha de alongar o problema por um ano para cerca de 5 milhões de brasileiros.

4. Reverter o aumento de impostos sobre combustíveis e com o troco dar um dia sem impostos a todos os brasileiros.

Cumprir a meta fiscal deste ano de gastar apenas R$ 139 bilhões a mais do que arrecada não tem sido fácil para a equipe econômica, que já cortou quase tudo que era possível em investimentos e reduz verbas a ponto de deixar faltar serviços como os passaportes em aeroportos (operação que custa R$ 220 milhões e rende R$ 770 milhões ao governo).
Para acalmar os ânimos, a solução foi se aproveitar da queda da inflação e colocar no lombo do trabalhador um aumento de tributos na gasolina, o Pis/Cofins. Por se tratarem de tributos e não impostos, eles podem ser alterados pelo próprio executivo sem a necessidade de aprovação no Congresso, e valem já para este ano.
Com a medida, o governo espera arrecadar R$ 11 bilhões, o que acarretaria um aumento de 0,6% no índice de inflação deste ano, já que combustível é base para a produção de qualquer mercadoria. Na prática, você perde 0,6% do seu poder de compra e o governo arrecada a mesma quantia em impostos.
Com os R$ 6 bilhões que restassem da anulação deste aumento em contrapartida à não liberação de verbas para emendas, seria possível cobrir a arrecadação de um dia em impostos, que hoje soma R$ 5,7 bilhões a cada ciclo de 24 horas.

5. Dar um 14º e um 15º salários a todos os professores do país.

Com 2,6 milhões de professores recebendo em média 5% do salário líquido de um juiz federal, o Brasil é um país de contrastes. Gastamos por aqui mais que a média dos países ricos em ensino superior e cerca de três vezes menos no ensino básico.
Em Santa Catarina, estado com melhores índices educacionais do país, um professor que cumpra 40h semanais recebe como base R$ 1.917 mensais. Na média nacional, são R$ 3,2 mil mensais para cada um dos professores em níveis estadual e municipal. Colocando tudo na ponta do lápis, seria possível oferecer dois salários extras por ano para cada professor, e ainda sobraria um troco.
A verba, de R$ 17 bilhões, poderia ainda ampliar em 15% o orçamento do Ministério da Educação durante todo o ano de 2017.

6. Bancar durante um ano e três meses os gastos em saúde dos 16,46 milhões de habitantes do Rio de Janeiro.

Que o sistema público de saúde no Rio de Janeiro vive uma crise em suas finanças não chega a ser uma novidade e muito menos exclusividade desse estado. Seus hospitais já tiveram de recorrer a um socorro da União em ao menos duas ocasiões nos últimos três anos, tudo isso para que pudessem simplesmente continuar abertos.
Por ano, o orçamento do governo fluminense com saúde atinge cerca de R$ 14,4 bilhões para atender toda a população do estado. A verba mantém, além de mais de uma dezena de hospitais, literalmente centenas de postos de saúde.
Com a verba destinada a emendas, seria possível portanto bancar todos os custos do Rio, seja com investimentos em melhorias ou simplesmente pagamento de folha de pessoal, durante um ano e três meses.

7. Dobrar os gastos com segurança do RS, RJ, BA e SC, e de quebra dar um 14º salário aos policiais destes estados.

O que China, Estados Unidos, Europa e boa parte do continente asiático têm a ver com a segurança no Brasil? Simples. Some o número de homicídios ocorridos nesses lugares e você ainda não chegará ao número de homicídios que ocorrem por aqui.
Temos pouco mais de 60 mil homicídios por ano – ou 10% de todas as pessoas assassinadas no mundo -, contra o fato de que temos 3% da população mundial.
No Brasil, violência urbana tornou-se uma epidemia, daquelas difíceis de curar. Nossos gastos com segurança, que no total atingem R$ 80 bilhões anuais apenas na esfera pública, são destinados, em sua maior parte, a salários e quase nada para investimentos. Ainda assim, nossos policiais ganham relativamente mal em relação a outras funções públicas.
Prova disso é que se você somar os R$ 5,4 bilhões gastos em segurança no Rio de Janeiro no ano de 2015, antes de cortes profundos atingirem todas as pastas, aos R$ 1,9 bilhões em Santa Catarina, R$ 3,5 bilhões no Rio Grande do Sul e R$ 3,9 bilhões na Bahia, ainda assim, não atingirá os gastos liberados pelo governo nesta semana. As informações foram retiradas dos portais de transparência dos respectivos estados.
Falamos aqui de estados que concentram 48 milhões de pessoas, além de alguns com os menores índices de homicídios do país.
Se destinada apenas aos estados do Norte e Nordeste, que concentram um terço da população e 52% dos homicídios, a verba permitiria literalmente dobrar o orçamento aplicados pelos 14 estados das duas regiões.

8. Colocar 7 dos 12,9 milhões de analfabetos brasileiros em uma escola durante um ano.

Nada menos do que quatro Uruguais vivem dentro do Brasil não alfabetizado. Ainda hoje, quase duas décadas depois de atingirmos a universalização do ensino brasileiro, colocando todas as crianças na escola, não conseguimos curar a chaga do analfabetismo, que aumenta lentamente com o passar do tempo, impulsionado em especial pela evasão escolar, que saltou de 6,2% para 16,2% entre 1999 e 2011.
Com quase 40% dos nossos trabalhadores não tendo concluído o ensino médio, sentimos o peso desta baixa qualificação em todos os setores da economia, uma vez que trabalhadores menos estudados produzem menos para o país.
Com um custo médio de R$ 2,5 mil por ano para cada aluno no ensino básico, estimado pelo MEC, seria possível colocar 7 milhões de pessoas para estudarem durante o período de um ano, usando os R$ 17 bilhões.

9. Dar uma semana sem impostos a todo brasileiro com renda de até três salários mínimos por mês.

Poucas coisas parecem tão lógicas quanto dizer que, se o governo deve gastar em algo, ele deveria priorizar a população mais vulnerável, de menor renda e com menos condições de arcar com uma vida digna.
O exato oposto ocorre em Terra Brasilis. Por aqui, quem ganha até três salários mínimos paga a bagatela de R$ 998 bilhões ao ano em impostos, ou 53,9% da sua renda. Tudo graças a uma lógica da tributação brasileira que privilegia os impostos sobre consumo em detrimento dos impostos sobre patrimônio e renda, que afetam principalmente os mais ricos.
Na teoria, o governo quer estimular a poupança e reduzir o consumo, para assim reduzir a inflação, uma vez que os mais pobres consomem a maior parte da sua renda enquanto os mais ricos tendem a consumir menos. Os resultados desta prática são bastante perversos.
Uma pessoa que ganhe um benefício médio do Bolsa Família, de R$ 180, ganha menos do que os impostos embutidos em uma cesta básica. Em outras palavras: o governo dá com uma mão e tira com a outra.
Considerando a arrecadação diária média por parte desta camada da população, de R$ 2,8 bilhão/dia, seria possível criar um Tax Free de uma semana. Isso mesmo: tudo que você quiser comprar, sem imposto, durante sete dias do ano.

10. Zerar os encargos e subsídios da sua conta de luz durante dez meses.

Poucas coisas podem parecer tão confusas para uma pessoa desavisada quanto uma conta de luz examinada mais de perto. Esteja você em que parte do Brasil estiver, além de tudo que você consome, sua conta de luz banca desde um apoio a energias renováveis até uma grana extra para pagar as termelétricas da região Norte, que apesar de ser grande produtora de energia, não conta com a mesma capacidade de distribuição das demais regiões do país.
São tributos diversos, com nomes e siglas pra lá de confusas. Temos, por exemplo, o Luz Para Todos, um desconto de 90% na conta de luz de quem trabalha com aquicultura e irrigação, manutenção do sistema, manutenção da agência responsável por fiscalizar o setor, taxa de fiscalização, além de compra de energia para reserva, por questão de segurança.
Somando tudo, são R$ 20 bilhões anuais. Colocando o custo para garantir a governabilidade, temos aí dez meses de grana que sai do seu bolso que poderiam muito bem continuar nele. Caso isso fosse uma prioridade, é claro.
 Felippe HermesFelippe Hermes
Spotniks

Abrimos a caixa-preta do BNDES e estes foram os 8 fatos mais bizarros que encontramos

No Brasil, até o passado é imprevisível.
Atribuída ao ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, a frase é um resumo de como as contas públicas costumam ser tratadas por aqui. Governo após governo, esqueletos são escondidos no armário e sujeira é jogada para baixo do tapete, tudo para preservar a propaganda oficial.
Na propaganda que estávamos acostumados a ver até pouco tempo atrás, o pré-sal traria uma revolução ao país, injetando R$ 120 bilhões na educação em dez anos e outras centenas de bilhões na saúde. O crescimento da economia estava garantido, graças aos investimentos da Petrobrás e seus fornecedores, que ultrapassavam a barreira de R$ 1 trilhão. Para quem se acostumou a ouvir estes números fantásticos, junho de 2017 mostrou-se um verdadeiro balde de água fria. Foi neste mês que metade do petróleo extraído no país passou a vir do pré-sal.
A previsão de produzir quatro milhões de barris por dia tornou-se apenas miragem. Produzimos apenas 15% mais que no início da febre do óleo. O resultado? A Petrobrás inteira vale hoje R$ 178 bilhões, cerca de 10% menos que o dinheiro injetado pelo governo e pelos acionistas na maior capitalização da história da bolsa brasileira (quando corrigido pela inflação).
Descobrimos, neste meio tempo, que o Fies – outro programa revolucionário – escondia uma inadimplência de 50%, e seu custo saltou de R$ 600 milhões para R$ 11 bilhões, entre 2013 e 2015; ou que empréstimos subsidiados a grandes empresas custaram no mesmo período nada menos do que R$ 223 bilhões; ou que fraudes não auditadas no INSS somam hoje uma fatura de R$ 6 bilhões, apenas em uma modalidade de benefício, o auxílio-doença.
Todos estes números fazem parte de um mesmo escândalo, ainda adormecido: o governo se negou durante anos a incluí-los na contabilidade oficial. Varreu a sujeira para debaixo do tapete e manteve-se fiel à própria propaganda.
Graças à Lava Jato e às demais investigações da Polícia Federal, hoje sabemos que os planos infalíveis para fazer o país prosperar eram na verdade planos infalíveis destinados a fazer prosperar partidos, políticos e alguns poucos privilegiados que mantiveram relação próxima ao governo e ao Congresso.
Na última semana, o mesmo Congresso decidiu abrir a caixa-preta daquele que, pelos números, é de longe nosso maior esquema conhecido, o do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), parte fundamental do crescimento monstruoso de empresas como Odebrecht e JBS. A CPI ainda está em fase inicial, mas adiantamos aqui algumas das descobertas que estão por vir.

1. Entre 2003 e 2016, os grandes empresários receberam R$ 1 trilhão do banco, contra R$ 372 bilhões de todos os programas sociais.

Quando se trata de propaganda oficial, poucas coisas ganharam tanta relevância nos últimos anos quanto os programas sociais. Do Bolsa-Família ao Minha Casa, Minha Vida, passando ainda por Fies, Pronatec, Ciência Sem Fronteiras, etc., quase tudo era uma prova legítima de que o governo estava de fato empenhado em mudar a realidade dos mais pobres.
Na outra ponta, o mesmo governo empenhava-se em garantir financiamentos generosos para um grupo seleto, de pouco mais de 1.000 empresas do país, cujo faturamento passava dos R$ 300 milhões. Sozinhas, estas empresas – que representam 0,00002% das empresas do país – ficaram com 67% de todo o financiamento concedido pelo BNDES. O custo? R$ 1 trilhão em subsídios totais.
Na prática, cada um dos 85 milhões de brasileiros atingidos por algum programa social, recebeu ao longo do mesmo período uma média de R$ 437 por ano em benefícios.
Pequeno detalhe: cada um destes 85 milhões de brasileiros paga mensalmente 53,9% da sua renda em impostos para subsidiar o outro grupo.

2. 80% do lucro gerado pelo programa ficou com os bancos privados.

Com boa parte dos recursos do banco tendo origem no caixa do governo federal, por meio de emissão de dívida pública, o BNDES ainda encontrou um problema para repassá-lo às empresas: o banco não possui agências e sua capacidade de distribuir os recursos é limitada.
Foi aí que grandes bancos privados entraram em cena. Do total de recursos liberados, cerca de 91% se deu através das chamadas operações indiretas. Em outras palavras, o BNDES pegava dinheiro com o governo, repassava-o aos bancos privados e estes realizavam as operações finais.
Todo o risco da operação, realizada com juros menores do que a inflação no período, ficava com o próprio BNDES, enquanto o custo real de captação do dinheiro ficava com o governo. Na parte dos lucros, porém, a coisa mudava de figura.
Apenas no PSI, o Programa de Sustentação do Investimento, que liberou R$ 359 bilhões entre 2008 e 2015, os bancos privados lucraram R$ 8 bilhões, contra R$ 2 bilhões do banco público.
Em inúmeros casos, a taxa de juros praticada pelo banco chegou a ser de 0%, contra 1,5% nos empréstimos de maior risco (valor que se somaria aos 5,5% que o banco era obrigado a pagar ao governo pelo empréstimo dos recursos).
Na prática, o governo criou não apenas um “Bolsa-Empresário”, mas também um “Bolsa-Banqueiro”, com lucros altos e risco zero.

3. As obras realizadas pela Odebrecht no exterior geraram um prejuízo de R$ 1 bilhão por ano aos trabalhadores.

O porto de Mariel, em Cuba, tornou-se a grande estrela das críticas feitas ao financiamento do BNDES a obras no exterior. Trata-se não apenas de apoio a uma ditadura com sérios problemas de violação dos direitos humanos, mas também uma das operações mais privilegiadas já realizadas pelo sistema financeiro mundial.
Para emprestar os recursos à Odebrecht, que construiria o porto, tivemos de aceitar como garantia de pagamento por parte do governo cubano a renda obtida pelo país em exportação de tabaco, além de garantir que os juros se manteriam rigorosamente abaixo dos praticados mundialmente em operações do tipo e atrelar o valor da operação ao peso cubano, e não ao dólar, como seria o padrão.
Como estas, outras 3.000 obras foram realizadas com dinheiro brasileiro, sendo 85% delas feitas pela empreiteira Odebrecht.
Ao contrário das obras realizadas localmente, o banco utilizou recursos do FAT, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, para financiar as obras. Ao todo R$ 55 bilhõestiveram este destino.
Graças à diferença entre os juros praticados lá e a inflação aqui, os trabalhadores brasileiros tiveram um prejuízo de R$ 11 bilhões com as operações, ou cerca de R$ 1 bilhão por ano.
Com cerca de 35 milhões de contas ativas no FAT, ligado ao FGTS, o prejuízo médio de cada trabalhador chegou aos R$ 314, apenas com obras como a linha 4 do metrô de Caracas na Venezuela, hidrelétricas na Nicarágua, estradas em Angola e inúmeras outras.

4. As quatro empresas que mais receberam dinheiro do banco no período estão no centro da Lava Jato.

Com a prisão do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine, a JBS torna-se hoje a única entre as quatro maiores beneficiárias pelo banco a não ter seu presidente ou ex-presidente preso. Eike Batista, que cumpre prisão domiciliar, e Marcelo Odebrecht, condenado a mais de 19 anos de prisão, concluem a lista.
Dentre todas as empresas, nenhuma recebeu tantos recursos quanto a estatal. Foram cerca de R$ 35 bilhões para financiar o ousado plano de investimentos da companhia, em especial obras em refinarias como Abreu e Lima e o pré-sal, além da construção de sondas pela empresa Sete Brasil, formada por um consórcio de fundos de pensão e bancos privados como BTG, Santander e Bradesco.
Segundo se sabe hoje, pelas investigações da força tarefa da operação Lava Jato, foi nestas obras que ocorreram a maior parte dos crimes contra a Petrobras, cujos protagonistas foram as maiores empreiteiras do país.
A maior delas, a Odebrecht, beneficiou-se não apenas indiretamente, como também diretamente ao obter linhas de financiamentos para negócios tão distintos quanto a produção de cana-de-açúcar e etanol e submarinos nucleares. De fato, a Odebrecht – assim como a EBX de Eike Batista – tornou-se uma especialista em tudo.

Onde quer que houvesse uma oportunidade de conseguir um financiamento público e prestar um serviço ao governo, lá estava a empreiteira.
Das empresas de Eike financiadas pelo banco, a Eneva, de energia, e a Prumo, de logística, mudaram de mãos, sendo vendidas para controladores estrangeiros, como o nome já deixa claro (perderam o famoso X colocado pelo empresário nas empresas originais).
O mesmo destino aguarda boa parte do império construído pela família Batista na JBS. Hoje, da empresa de iogurtes à empresa de celulose, quase tudo está à venda.

5. 90% dos recursos do banco são direcionados a empresas que geram 16% dos empregos do país.

Empreender no Brasil não é nada fácil. Gastamos quase oito vezes mais tempo para preencher burocracia e pagar impostos do que a média dos países ricos. Ainda assim, temos quase duas vezes mais empresas que os Estados Unidos.
O motivo desta distorção é bastante simples: no Brasil, empreender e montar o próprio negócio – seja ele um mercadinho ou uma caixa de isopor para vender bebida na praia – pode ser a alternativa entre não ter renda alguma ou conseguir sobreviver no fim do mês.
 48 milhões de brasileiros nestas condições, o que na prática significa que há mais patrões do que empregados no Brasil e, na sua maioria, patrões cuja remuneração não chega sequer a dois salários mínimos. 36% deles recebe entre R$ 0 e um salário mínimo no fim do mês (incluindo aí boa parte dos 1,8 milhão que quebram todo ano). Apenas 12% recebe mais de cinco salários mínimos.
Ainda assim, quando decidiu alavancar a economia, o governo decidiu que o melhor a ser feito era alavancar aqueles que, em condições normais, poderiam se financiar por meio de bancos, ou ainda da bolsa de valores.
O resultado é que, desde que os desembolsos do banco começaram a explodir, o número de empresas que abriu capital na Bovespa despencou.
Pense rápido: sendo você um grande empresário, qual a melhor alternativa para captar grana para o seu negócio? Vender parte das suas ações, cumprir regras rígidas de gestão e dar satisfação a acionistas minoritários, ou pegar uma grana em um banco público, gastar como quiser e ainda pagar um valor menor do que a inflação pelos empréstimos? O resultado é uma piora bastante elevada nos padrões de governança de médias e grandes empresas.
A gestão que todo grande empresário gosta de defender como alternativa às crises constantes do governo foi severamente afetada por estas políticas. Tudo isso com a conivência dos representantes empresariais, é claro.

6. As grandes empresas apoiaram estas medidas e você pagou o pato.


O clima de revolta com possíveis aumentos de impostos tem sido canalizado com bastante eficiência por entidades como a FIESP, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. O grande problema é o que está em falta, tanto na política quanto na elite brasileira: coerência.
Para Benjamin Steinbruch, dono da CSN e atual vice-presidente da FIESP, o país precisaria de três BNDES para dar conta do recado.
Apoios enfáticos ao que algumas revistas chegaram a chamar de choque de capitalismo não foram nenhuma novidade. Em 2012, o então presidente do BTG, André Esteves, chegou a chamar de revolucionária a medida promovida pela presidente Dilma Rousseff de conceder portos, aeroportos, ferrovias e rodovias à iniciativa privada, tudo financiado com dinheiro do mesmo banco público do qual o BTG foi um dos maiores entusiastas, uma vez que tornou-se um dos 70 agentes repassadores de créditos.
Grandes empresas, como a hoje falida Oi, tiveram crescimento vertiginoso com o crédito amigo e retribuíram com elogios às medidas adotadas até então.

7. Todas as famílias e pequenas e microempresas brasileiras foram forçadas a ficar com menos de 20% do crédito total no país.

Que o Brasil não é um país habituado à poupança também não chega a ser nenhuma novidade. Exatamente por isso, os financiamentos crescentes que impulsionariam o lucro dos bancos tiveram como base a emissão de dívida pública.
Somando os três maiores bancos públicos do país, cerca de 53% do crédito existente passou a ser gerado pelo estado brasileiro, com quase 60% sendo subsidiado, seja para grandes empresas ou para o agronegócio. Durante uma década, praticamente todo mundo que sabia lidar com a tal da burocracia pôde buscar um subsídio pra chamar de seu e jogar a conta pro colo do contribuinte.
Ao todo, empresas e famílias economizam 18% ao ano, em relação ao PIB. O governo gasta 3% a mais do que arrecada e estrangeiros colocam outros 3% do PIB em investimentos. Some tudo e o resultado é uma taxa de investimentos que dificilmente passa dos 18%
Desde que começamos a impulsionar nosso crescimento via crédito, o investimento em máquinas e equipamentos do país não chegou a sofrer grandes alterações.
Saímos de um investimento de 18,3% em 2008, para 18,4% em 2015, com uma pequena diferença: nos endividamos em 15% do PIB para fazer isso.
Ao todo, dos R$ 4,4 trilhões da dívida total brasileira hoje, nada menos do que 20% teve como finalidade financiar e subsidiar empresas.
O resultado é que, para muitas empresas, tornou-se mais lógico não investir recursos próprios e alocar este dinheiro na compra de dívida pública. Desta forma, poderiam lucrar 6% já descontada a inflação, e ainda assim investir, já que sempre poderiam contar com a mão amiga do mesmo governo que lhes pagava polpudos lucros.
Ao todo, 72% do crédito do país hoje é destinado para financiar o governo, enquanto grandes empresas abocanham quase um terço do crédito restante, deixando menos de R$ 1 em cada R$ 5 de crédito existente no país para micro e pequenas empresas e famílias que decidam trocar de carro ou simplesmente comprar um celular parcelado.

8. Você, seus filhos e seus netos ainda pagarão a conta pelo menos até 2060.

Cerca de sete anos foi o tempo necessário para o PSI – Programa de Sustentação do Investimento – ser iniciado e abandonado pelo governo federal. Com as novas discussões sobre o fim da taxa de juros praticada pelo banco, abaixo das taxas de mercado, e a criação de uma nova taxa, que remunere de acordo com os juros praticados pelo próprio governo – a TLP – a expectativa é que os efeitos do programa sejam diluídos, ao menos no curto prazo.
O certo é que, independentemente do que se mude daqui pra frente, tal política deixou um saldo negativo nas contas públicas que, pela previsão mais otimista, terminará de ser pago em 2060.
Com juros de 5,5% ao ano, os empréstimos do tesouro ao banco se estendem por décadas, em uma condição pra lá de generosa. Ainda que R$ 100 bilhões tenham sido adiantados em 2016, o saldo ainda permanece e o banco terá de devolver.
Enquanto os recursos do próprio banco continuam sendo rolados, com novos empréstimos, a conta segue pesando, e segundo o próprio governo estima, serãoR$ 323,2 bilhões.
Apenas em 2017, o custo será de R$ 31 bilhões, valor superior aos desembolsos do Bolsa-Família, duas vezes maior que os investimentos em saneamento básico, maior do que os gastos com universidades públicas e quase dez vezes o gasto com equipamentos hospitalares para reaparelhar o SUS.
Trata-se definitivamente de uma herança que, na melhor das hipóteses, serve de aviso para toda vez que o governo chegar e disser que tem uma solução para salvar o país. Na hipótese mais realista, uma conta que se somará às próximas tentativas de fazer enfim chegar o país do futuro, tudo capitaneado por um presidente que nos prometerá maravilhas e que certamente não estará aqui quando a conta chegar.
 Felippe HermesFelippe Hermes
Spotniks

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

BAHIA: Causa da morte de garimpeiros, uso de bomba caseira cresce em Sento Sé

Vítimas usaram dois explosivos para tentar retirar ametistas, mas um só estourou quando entraram em poço. Polícia diz que explosões se intensificaram há um mês
O uso de bombas caseiras para penetrar em rochas profundas na mina de ametista em Sento Sé, na região do Vale do São Francisco, tem se tornado cada vez mais comum entre os garimpeiros que há quatro meses exploram o local.
Foi uma dessas bombas que causou a morte de Ivanilsom Bezerra da Silva, 22 anos, e João Martins Cordeiro Filho, 35, na noite do último domingo, informou nesta terça-feira (22) a Polícia Civil da cidade.
Zona rural de Sento Sé, a "Serra Pelada da Bahia", foi invadida por forasteiros em busca das preciosas ametistas
(Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO)
Os corpos dos garimpeiros foram levados para Petrolina (PE), onde residiam, e foram enterrados nesta terça.
A perícia do Departamento de Polícia Técnica (DPT) esteve nesta segunda no poço de 15 metros onde ocorreu o acidente e colheu vestígios do uso das bombas – os detalhes não foram informados.
No local, os peritos obtiveram informações de que o uso das bombas passou a ser intensificado há um mês com a dificuldade em se achar a pedra, devido ao aumento da exploração.
No acidente, os garimpeiros haviam jogado duas bombas dentro do poço e apenas uma havia explodido, tendo eles achado que a outra não iria mais explodir. Ao descerem no poço, houve a segunda explosão. Ivanilsom morreu na hora e João, no hospital.
A Polícia Civil informou que o fato já foi comunicado ao Exército, responsável por fiscalizar o uso de explosivos. Procurado pelo CORREIO, o Exército não respondeu.
A Agência Nacional de Mineração, que já interditou a mina, em junho deste ano, declarou que não tem como controlar o acesso de garimpeiros no local, devido à grande quantidade de pessoas.
De acordo com a agência, na área de 253 hectares do garimpo há 6.457 poços de retirada de ametista – nem todos eles ativos –, e 2.270 barracas usadas por garimpeiros. 
Cerca de 8 mil pessoas estão no local em busca da pedra violeta de quartzo cujo quilo é comercializado por garimpeiros, na região, por valores entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil, e que atravessadores vendem por até R$ 10 mil o quilo.
CORREIO DA BAHIA

A ascensão e queda de Edilson, que tem R$ 6 mi em dívidas trabalhistas: Capetinha tenta sair do inferno em meio a processos, pensões, prisões e penhoras

Capetinha tenta sair do inferno em meio a processos e prisões

Capetinha tenta sair do inferno em meio a processos, pensões, prisões e penhoras

A ascensão e queda de Edilson, que tem R$ 6 mi em dívidas trabalhistas: CORREIO teve acesso a relatório que inclui mansão de R$ 3 mi entre bens confiscados
Em 2004, ele era o anjo caído do céu para realizar o plano grandioso de levar o Vitória ao título brasileiro. De helicóptero, junto com o amigo Vampeta, o baiano Edilson descia no centro do gramado do Barradão, quase dois anos depois de conquistar o penta com a Seleção Brasileira.
Após passagens gloriosas por Palmeiras, Corinthians, Benfica de Portugal, Cruzeiro, Flamengo e Kashiwa Reysol do Japão, o Capetinha voltava para se consagrar na terra de todos os santos. Para se consagrar e para cuidar dos seus negócios, entre eles o bloco Bróder, a casa de shows Estação Ed 10, as diversas bandas de pagode que lançou e os inúmeros imóveis que adquiriu em anos de carreira.
Corta para 16 de agosto de 2017. Edilson é preso por policiais civis e é levado para a sede da Polinter, em Salvador. O motivo? Uma dívida que se arrasta desde 2013 referente ao não pagamento mensal de R$ 8,8 mil em pensão alimentícia para um dos seus filhos, que mora em Brasília. Ao ser preso por quase quatro dias, um deles no Complexo Penitenciário da Mata Escura, notícias sobre uma dívida trabalhista ainda maior vieram à tona.
Falou-se em R$ 10 milhões em débitos. Mas, esse número, ao menos os relacionados com processos trabalhistas, ainda não foi fechado. “Ainda vamos atualizar, mas a dívida atual ultrapassa R$ 6 milhões”, diz o diretor da Coordenadoria de Execução do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), Rogério Fagundes. A pergunta que fica é se Capetinha está falido.
Processos
O CORREIO teve acesso ao relatório do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT), onde foi instaurado um processo de penhora unificada que reúne de 20 a 30 processos trabalhistas contra Edilson, contra empresas em seu nome, como a casa de shows Estação Ed Dez, que funcionava no bairro da Federação, e contra pessoas ligadas a ele. O fato é que a maioria dos bens do ex-craque está bloqueada.
Há também imóveis milionários penhorados ou em processo de penhora, a exemplo de uma mansão no bairro do Horto Florestal avaliada em R$ 3 milhões, e uma casa em Guarajuba, no Litoral Norte, no valor de R$ 1 milhão.  
Além desses, na lista de bens bloqueados, penhorados ou em processo de penhora, tem outros dez imóveis, quatro carros, contas bancárias, ativos financeiros e saldos de cartões de débito e crédito provenientes de vendas de abadás para o bloco Bróder. 
Isso porque, para buscar formas de Edilson pagar as dívidas, o TRT rastreou o seu patrimônio milionário, que estaria, em parte, nas mãos de laranjas. Por isso, o tribunal arrolou no processo unificado não só o atleta, mas um grupo econômico que envolve empresas, sócios e familiares de Edilson, inclusive a sua própria mãe, Maria de Lourdes da Silva Ferreira, a qual tem um carro em seu nome
Além de familiares e sócios, na lista de “devedores” também consta as empresas E&E Eventos, a Ed Cem Editora Musical, a Gooold Soccer Assessoria Esportiva, a Tribrazil Produções Artísticas, a Nos Duas Indústria de Moda e mais duas empresas de intermediação de negócios.
“São pessoas e empresas que eventualmente estejam com o dinheiro que não está na mão dele e está na mão de terceiros. São laranjas, né? Filhos menores com imóveis, por exemplo. Isso indica que ele está tentando dificultar uma penhora”, afirma Rogério Fagundes, diretor do TRT. 
“Vamos apurar até que ponto esses sócios têm responsabilidade com as dívidas trabalhistas e até que ponto esses bens podem ou não responder pela causa”, adianta Fagundes. Enquanto isso, Edilson não pode se desfazer dos bens para quitar as dívidas. “Ele não pode vender nada. Está tudo indisponível”, afirma o diretor.
A decisão do TRT é válida ao menos até o dia 14 de setembro, quando acontece uma audiência. “É a oportunidade que ele tem para se defender. Se ele não for, vai ser pior pra ele”, conclui Fagundes.
Sem defesa
Segundo o irmão de Edilson, Eliomar Ferreira, ainda não foi constituído advogado para os processos trabalhistas. Heleno Andrade, o defensor que o tirou da prisão por conta do não pagamento da pensão, espera assumir também a causa no TRT. “Não acho que seja algo que não possa ser resolvido. Não deve ser esse valor todo”, acredita.
Eliomar disse que o irmão está viajando e, por hora, não vai falar sobre o caso. Enquanto isso, um amigo afirma que o jogador foi traído por funcionários.
“Ele (Edilson) fez acordo com o pessoal (ex-funcionários). Pagou o combinado. Mas depois o pessoal disse que não tava satisfeito e botou ele na Justiça”, alega o irmão.
Casa do Horto
Segundo o relatório do TRT, a propriedade mais cara de Edilson em Salvador é a casa onde ele mora, na Rua Sapucaia, no Horto Florestal. O imóvel, avaliado em R$ 3 milhões, foi arrematado por R$ 1,2 milhão no dia 24 de setembro de 2014. Recursos já foram julgados improcedentes. Mas, há outro ainda a ser apreciado. Por isso, Edilson continua morando na casa.
Condomínio no Horto Florestal onde Edilson tem um imóvel avaliado em R$ 3 milhões: seu xodó (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)
Dentro do condomínio fechado Parque Florestal, o imóvel, segundo amigos de Edilson, é o xodó do jogador. Amante do futevôlei, ele montou uma arena no terreno. “É uma quadra com areia transportada da praia. Na casa dele tem futevôlei todo dia até 2h da manhã”, disse um amigo de infância, que não quis se identificar. A mansão vive de portas abertas aos amigos que querem jogar. “Ele estando em casa ou não, é liberada a todos. A casa é enorme”. 
Um vizinho da família, que também preferiu o anonimato, disse que Edilson é “um cara do bem” e, apesar de ter ganhado muito dinheiro, não é um sujeito extravagante.
“Ele vive bem, mas não é um cara que vive ostentando. Quem convive com ele sabe. Sempre foi um cara simples”, diz o vizinho.
Os amigos também fizeram questão de ressaltar que, apesar de gostar de festas, Edilson cuida muito da saúde. “Ele não bebe, não fuma. Gosta de pagode, de festa, tem as bandas dele, mas se cuida”. 
Com a fortuna que fez, Edilson cuidou da família inteira. “Morei na rua da mãe dele, na Federação. Tinha seis ou sete pessoas naquela casa, entre a mãe, o tio, filhos e sobrinhos. Edilson que sustentava todo mundo. Cuida da família inteira”, comenta.
Edilson também teria ajudado muita gente de fora da família. “Para você ter uma ideia, ele deu uma casa na Barra, onde era estúdio de gravação dele, para o amigo morar. Vá por mim! Ele é ‘vacilão’ para este lado de pensão e é enrolado para pagar. Se você trabalhar para ele, é uma dificuldade. Mas ele é do bem”, conclui o amigo de infância.
Confira a lista de imóveis de Edilson que foram penhorados ou estão indisponíveis, segundo dados obtidos pelo CORREIO junto ao TRT
- Imóvel no valor de R$ 3 milhões na Rua da Sapucaia, Horto Florestal 
- Casa em Guarajuba no valor de R$ 1 milhão 
- Apartamento Duplex na Rua Severo Pessoa, Federação
- Prédio na Rua Marques de Leão, Barra
- Casa na Rua Lemos de Brito, Barra
- Duas casas na Rua Souza Uzel, Federação
- Apartamento na Rua Augusto Lopes Pontes, Costa Azul
- Apartamento no Itaigara 
- Apartamento na Pituba
Fraude na loteria
E se sobra problema com a Justiça, sorte parece algo em escassez para Edilson. Isso porque o Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) denunciou o ex-jogador baiano por participar de um esquema de fraudes de pagamentos de prêmios de loterias da Caixa Econômica Federal, em novembro de 2015. As investigações apontaram que o ex-craque da dupla Ba-Vi, supostamente, participava de um processo de cooptação de gerentes da Caixa, a fim de participarem de fraudes para recebimento indevido de prêmios de loterias. Na época, a defesa do pentacampeão negou envolvimento dele com a quadrilha. Além de Capetinha, outras dez pessoas respondem pelo mesmo processo. O processo tramita na 11ª Vara Federal de Brasília.
Carros de luxo apreendidos pela PF, em novembro de 2015, em esquema com loterias que Edilson estaria envolvido (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO)
O CORREIO tentou contato com o MPF-GO, que denunciou o esquema, mas os números da assessoria de comunicação não atenderam. O produtor de eventos Jadson Assis, amigo que trabalha com Edilson, disse que, em uma audiência recente, o jogador foi inocentado. “Uma semana antes da prisão dele houve audiência e os réus confessaram suas práticas”, disse ao CORREIO. Na época, em Salvador, foram apreendidos cinco carros de luxo que teriam sido adquiridos com o dinheiro do esquema e três pessoas foram presas.
Relembre a trajetória de sucesso de Edilson como jogador e empresário
  • No início da carreira, passagens por Guarani e Palmeiras
    No início da carreira, passagens por Guarani e Palmeiras (Fotos: Reprodução/Arquivo CORREIO)
  • Edilson, com pintura estilizada da Timbalada e, ao lado, como empresário de bloco de Carnaval
    Edilson, com pintura estilizada da Timbalada e, ao lado, como empresário de bloco de Carnaval (Foto: Revista Placar e Arquivo CORREIO)
  • Com a criançada, ao desembarcar no Vitória, em 2004, com o amigo Vampeta
    Com a criançada, ao desembarcar no Vitória, em 2004, com o amigo Vampeta (Foto: João Alvarez/Arquivo CORREIO)
  • Em ação contra o Santos, na primeira passagem pelo Vitória, em 2004
    Em ação contra o Santos, na primeira passagem pelo Vitória, em 2004 (Foto: Antonio Saturnino/Arquivo CORREIO)
  • Capetinha treinando com o Vitória, em 2007, na segunda passagem pela Toca do Leão
    Capetinha treinando com o Vitória, em 2007, na segunda passagem pela Toca do Leão (Foto: Arquivo CORREIO)
  • Capetinha em ação pelo Bahia, em 2010, após 'suspender' a aposentadoria
    Capetinha em ação pelo Bahia, em 2010, após 'suspender' a aposentadoria (Foto: Arquivo CORREIO)
  • Edilson era um dos quatro baianos da Seleção Brasileira campeã do mundo em 2002, na Ásia
    Edilson era um dos quatro baianos da Seleção Brasileira campeã do mundo em 2002, na Ásia (Foto: AFP)
  • Arrastão promovido por parentes e amigos na Federação, na Copa de 2002
    Arrastão promovido por parentes e amigos na Federação, na Copa de 2002 (Foto: Arquivo CORREIO)
  • Passagem com títulos pelo Flamengo e pelo Corinthians
    Passagem com títulos pelo Flamengo e pelo Corinthians (Foto: Welton Araujo/Arquivo CORREIO e Reprodução Internet)
  • Edilson da Silva Ferreira nasceu em 17 de setembro de 1970, em Salvador
  • Começou a carreira no Industrial, do Espírito Santo, passou pelo Tanabi-SP e chegou ao Guarani de Campinas. Seu futebol vistoso o levou ao Palmeiras para fazer parte do “dream team” montado pela Parmalat, com Roberto Carlos, Edmundo, Evair e companhia. Sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, foi bicampeão paulista (1993 e 1994), campeão brasileiro (1993) e campeão do Torneio Rio-São Paulo (1993)
  • Sua única temporada no futebol europeu foi no Benfica de Portugal, em 1994, mas voltaria ao Palmeiras em 1995. Um ano depois, acertou sua transferência para o Kashiwa Reysol, do Japão. Dois anos depois, no final de 1997, voltou ao Brasil para vestir a camisa do Corinthians 
  • No Timão, foi campeão do Mundial Interclubes em torneio organizado pela Fifa, em 2000
  • Depois passou por Flamengo, Cruzeiro e, de novo, Kashiwa Reysol
  • Em 2004, chegou de helicóptero com o amigo Vampeta para jogar no Vitória, onde levou o time à semi-final da Copa do Brasil, mas o clube acabou rebaixado no final do ano 
  • Edilson jogou ainda no Al Ain (Emirados Árabes), São Caetano, Vasco da Gama e Nagoya Grampus (Japão). Em 2007, voltou ao Vitória, onde se aposentou em 2008. Em 2010, suspendeu a aposentadoria para encerrar a carreira no Bahia.
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NA ESTRADA DA VIDA

Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...

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