A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é um distúrbio que interfere no processo normal de ovulação em virtude de desequilíbrio hormonal, e leva à formação de cistos. O aparecimento de cistos durante o processo de ovulação faz parte do funcionamento dos ovários, mas eles desaparecem a cada ciclo menstrual. Nas portadoras da SOP esses cistos permanecem e modificam a estrutura ovariana, tornando o órgão até três vezes mais largo do que o tamanho normal. A disfunção pode levar à secreção de hormônios masculinos, como a testosterona, em excesso. A portadora da síndrome ovula com menor freqüência e tem ciclos, em geral, irregulares.
“A síndrome dos Ovários policísticos é a desordem reprodutiva hormonal mais comum entre mulheres jovens, podendo afetar de 5 a 15% destas, dependendo do critério diagnóstico usado. (Foto: istock)
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia(SBEM), apesar da alta prevalência (15% das mulheres durante a fase de vida reprodutiva), a SOP ainda é uma doença subdiagnosticada. Um estudo publicado em dezembro de 2016 no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism avaliou as condições do diagnóstico da síndrome em 1385 pacientes de países da América do Norte e da Europa.
Aproximadamente 33% das pacientes reportaram que o diagnóstico demorou mais de dois anos, cerca de 47% das pacientes precisaram passar por três ou mais profissionais de saúde para receber o diagnóstico e apenas 15% das pacientes estavam satisfeitas com as informações fornecidas pelos médicos no momento do diagnóstico."
Além dessa realidade, muitas mulheres com o problema não fazem um tratamento com o médico especialista e podem apresentar as alterações crônicas e complicações decorrentes da SOP como a infertilidade.
Porque a SOP causa uma alteração do sistema endócrino?
A maioria dos problemas da SOP decorrem da redução da inibição hipotalâmica (região no cérebro responsável por estimular os ovários) provocada pela ausência da progesterona. Ou seja, há diminuição progesterona e aumento dos androgênios (testosterona, DHEA e Androstenediona). Assim as mulheres apresentam alterações do ciclo menstrual já que os andrógenos levam a aceleração da atresia folicular e, ao mesmo tempo, alterações decorrentes desse excesso a nível sistêmico: acne, aumento de oleosidade e, em especial, o hirsutismo (aumento dos pelos).
Porque é fundamental tratar a SOP?
Segundo a ginecologista especializada em reprodução humana Dra. Michelle Nagai “A síndrome dos Ovários policísticos é a desordem reprodutiva hormonal mais comum entre mulheres jovens, podendo afetar de 5 a 15% destas, dependendo do critério diagnóstico usado. O início do tratamento deve ser feito precocemente devido ao risco de infertilidade, câncer de endométrio e síndrome metabólica. No aparelho reprodutivo, ela se caracteriza por ciclos anovulatórios, que se apresentam como ciclos de intervalo intermenstrual longos ou períodos em que a menstruação não acontece. Por esse motivo é comum que mulheres com esse diagnóstico apresentem dificuldade em engravidar, sendo que em alguns casos existe necessidade de indução da ovulação.
É importante ressaltar que a patologia se apresenta de forma variável, por isso, uma porcentagem dessas mulheres engravidam naturalmente , mesmo sem tratamento. Outro ponto importante a ser comentado é que as pacientes que ficam longos períodos em amenorreia (sem menstruar), apresentam risco aumentado de câncer de endométrio, esse risco pode ser diminuído com o tratamento, quando evitamos que esses longos períodos aconteçam. O SOP é uma patologia complexa, multifatorial, de etiologia desconhecida, com consequências metabólicas, reprodutivas e psicológicas. E deve ser tratada de forma individual e de acordo com as características de cada paciente.“
Outro ponto importante a ser comentado é que as pacientes que ficam longos períodos em amenorreia (sem menstruar), apresentam risco aumentado de câncer de endométrio, esse risco pode ser diminuído com o tratamento, quando evitamos que esses longos períodos aconteçam. (Foto: istock)
Como o exercício físico pode melhorar a SOP?
Em pesquisa recente mulheres com SOP que fizeram 3 horas de exercícios aeróbicos por semana durante 12 semanas melhoraram a sensibilidade à insulina, o colesterol e a gordura visceral, embora não tenham perdido peso algum. Portanto, mesmo que você não esteja vendo melhorias na balança, você ainda está fazendo um bom trabalho para melhorar seus sintomas da SOP a longo prazo, praticando exercícios regularmente. Além disso, o exercício físico regular melhora os fatores de inflamatórios o que é extremamente importante porque a inflamação crônica que está ligada à resistência à insulina.
No entanto é fundamental a paciente realizar uma avaliação física completa antes de iniciar um programa de exercícios. Segundo o personal trainer Diogo Pyrrho: “Muitas lesões ocorrem no exercício devido a falta da avaliação física e do acompanhamento individualizado. Sem esse processo inicial, fica impossível a detecção de fatores limitantes ao treino e a elaboração de um correto e eficiente programa de tratamento fica totalmente comprometido.”
De fato, a avaliação física tem um papel importante no processo de desenvolvimento e de treinamento esportivo, na prescrição de exercícios físicos ou de atividades físicas para a saúde. Dessa maneira, pode-se identificar fatores de risco para o desenvolvimento de determinadas doenças, bem como avaliar de maneira específica às necessidades dos indivíduos para qualquer nível de aptidão física, fornecendo subsídios para que seus objetivos físicos sejam alcançados de maneira satisfatória.
Em pesquisa recente mulheres com SOP que fizeram 3 horas de exercícios aeróbicos por semana durante 12 semanas melhoraram a sensibilidade à insulina, o colesterol e a gordura visceral, embora não tenham perdido peso algum. (Foto: istock)
Tenho SOP, o que devo saber?
1) Pergunta: Alimentação correta é fundamental para tratar a SOP? Resposta: Sim, uma alimentação que diminua a hiperinsulinemia pode favorecer a melhora dos sintomas, a princípio pobre em carboidratos. Mas isso depende do metabolismo da paciente e o grau dos sintomas. Mas não é apenas isso, alimentação não é tratamento para SOP.
2) Pergunta: Dr. fiz uma ultrassonografia e deu ovários policísticos, tenho a síndrome? Resposta: Não, o diagnóstico da SOP necessita de pelo menos 2 critérios diagnósticos (um deles pode ser a ultrassonografia positiva, mas ela sozinha não faz o diagnóstico). Por isso atualmente a melhor denominação seria síndrome ovariana metabólica (SOM).
3) Pergunta: Resistência à insulina pode fazer parte da síndrome? Resposta: Sim, indiretamente a insulina parece potencializar a ação do hormônio luteinizante (LH) nos ovários aumentando a ação da enzima 17-hidroxilase causando hiperprodução de andrógenos (testosterona e androstenediona)
4) Pergunta: Minha irmã ou minha mãe tem SOP, tenho maior chance de ter?
Resposta: Sim, irmãs de pacientes com SOP tem 50% mais chance de ter o distúrbio e alguns estudos mostram como causa alteração no gene CYP17
5) Pergunta: Tenho SOP preciso realmente tratar porque ouvi falar que aumenta chance de eu não engravidar? Resposta: Sim, na SOP, além do hiperandrogeniamo, há um estímulo estrogênico sobre o endométrio sem a oposição da Progesterona (hormônio diminuído na SOP) assim há maior risco de infertilidade, hiperplasia do endométrio e até câncer do endométrio.
6) Pergunta: O único tratamento da SOP é com anticoncepcional oral combinado?
Resposta: Não, o tratamento deve ser individualizado sendo o ACO uma das principais opções. No entanto, muitas pacientes têm boa resposta com outros tratamentos, devendo esses serem avaliados pelo médico. Por exemplo: progesterona micronizada, metformina e antiandrogenicos.
7) Pergunta: Não menstruo há 6 meses e tenho a pelo oleosa, isso pode não ser SOP? Resposta: Sim, a amenorréia (ausência da menstruação) pode ter outras causas: estresse excessivo, perda de peso excessiva, exercícios em excesso (vigorexia), hipogonadismo, gravidez e hiperprolactinemia.
Referências:1) Effects of Exercise on Insulin Resistance and Body Composition in Overweight and Obese Women with and without Polycystic Ovary Syndrome. Hutchinson K et al. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism 2011
2) Divergences in Insulin Resistance Between the Different Phenotypes of the Polycystic Ovary Syndrome Moghetti P et al. Endocrinology, Diabetes and Metabolism. 2013
3) Criteria, prevalence, and phenotypes of polycystic ovary syndrome. Lizneva,D et al. Fertility and Sterility Vol. 106, No. 1, 2016.
4) The Frequency of Metabolic Syndrome is Higher Among PCOS Brazilian Women With Menstrual Irregularity Plus Hyperandrogenism. Melo A et al. Reproductive Sciences18(12) 2011
Por Guilherme Renke, Rio de Janeiro