por Fernando Duarte
Foto: Reprodução/ Diário de Canoas/ Charge do Sinovaldo
Peço desculpas inicialmente a Caetano Veloso, por pegar emprestado dele um verso. Nos últimos dias, infelizmente, o compositor baiano consegue resumir bem o que acontece no Brasil.
Alguma coisa está fora de ordem. Não dá para dizer que é da ordem mundial, como pede Caetano. Está tudo fora de ordem, de órbita até. Ou alguém conseguiria explicar facilmente o processo que o país vive desde 2014, talvez o derradeiro antes de iniciarmos a descida de uma ladeira sem fim?
Tivemos uma eleição conturbada, um processo de impeachment e um presidente sem popularidade, que, não cansado de ser refém do Congresso Nacional, se tornou refém de empresários e caminhoneiros, responsáveis por parar o país em troca de benefícios específicos para a categoria, travestidos de defesa dos interesses da nossa pseudo-nação.
Em tempos em que notícias falsas tenham se tornado um mal que espreita todas as pessoas que consomem informação, por que não falarmos um presidente fake? Michel Temer é algo bem próximo disso, seja você partidário do ex-vice-decorativo ou adversário ferrenho que criticou os panelaços pré-impeachment de Dilma Rousseff.
Esses hipercontextos, inclusive, nos forçam a fazer um exercício mental para tentar entender o que nos tornamos. Vimos pessoas protestando pelo desabastecimento de combustível fazendo carreatas com carros beirando a reserva.
Assistimos grevistas pedindo intervenção militar, iniciativa que traria como consequência mínima a cassação do direito de fazer greve.
Vemos minorias celebrando um político que critica os direitos dados às minorias pelo poder público - único ente capaz de tornar desiguais menos desiguais. Ao mesmo tempo em que há um quê de estranheza, há um outro tanto de loucura a impedir que haja alguma explicação lógica para tudo isso.
Em 2013, pouco antes daquelas passeatas dos 20 centavos, alguém ousaria prever que chegaríamos em 2018 muito pior do que estávamos àquela época? Ou será que em 2050, quando um historiador resolver contar o nosso passado, ele saberá explicar o que nós, jornalistas, tentamos traduzir hoje? Durante as duas semanas passadas, a palavra mais repetida na redação do Bahia Notícias era "caos".
Não que estivéssemos vivendo plenamente essa condição, que o Brasil tenha se tornado um Mad Max. Nesse caso, o recurso mais escasso foi o discernimento. Porém o palavra "caos", assim como o verso de Caetano, talvez tenha sintetizado bem o que queremos ser.
"Eu não espero pelo dia/ Em que todos/ Os homens concordem/Apenas sei de diversas/ Harmonias bonitas/ Possíveis sem juízo final...". Obrigado, Caetano. Este texto integra o comentário desta segunda-feira (4) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM e Clube FM.
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