Mais dois países europeus -- Alemanha e Dinamarca -- anunciaram que estudam adiar a segunda dose da vacina contra Covid-19 para imunizar com uma dose só o maior número de pessoas o mais rapidamente possível.
A medida foi adotada pelas autoridades nacionais de saúde do Reino Unido, com base em dados do Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização do Reino Unido, que afirma que a primeira dose garante "proteção substancial, em particular para Covid-19 grave, dentro de duas a três semanas de vacinação".
De acordo com eles, a segunda dose é mais importante para a duração da proteção que para sua eficácia, e garante um aumento apenas marginal das defesas. No Reino Unido, a segunda dose, antes prevista para 28 dias depois da primeira, agora deverá ser dada quatro meses depois .
Os cientistas que defenderam o atraso na segunda dose do imunizante no Reino Unido afirmaram que esse reforço é mais importante para a duração da proteção que para a eficácia da vacina. Artigo publicado em dezembro no New England Journal of Medicine estimou que a primeira dose teria eficiência de 52%, acima, portanto, dos 50% considerados patamar mínimo por entidades internacionais, como a OMS.
O objetivo da mudança de estratégia no Reino Unido, agora cogitada por outros países, é atingir o mais rapidamente possível os 70% da população imunizada, a chamada imunidade de rebanho, que controlaria a transmissão do coronavírus.
Alemanha e Dinamarca passaram a estudar a ideia após constatar lentidão no avanço da vacinação, entre outros motivos por falta de opções aprovadas e por falta de capacidade de fabricação. Na Bélgica, a ideia também foi defendida pelo epidemiologista e membro da força-tarefa de vacinação Pierre Van Damme.
Na Alemanha, o Ministério da Saúde pediu ao Instituto Robert Koch, responsável pelo controle de doenças transmissíveis, que estude a possibilidade de adotar a mesma estratégia.
Embora seja sede da BioNTech, que desenvolveu com a Pfizer a única vacina aprovada pela União Europeia até esta segunda (4), a Alemanha tem sofrido com a mesma escassez que afeta outros países europeus, e "uma estratégia em que tantas pessoas quanto possível são vacinadas o mais cedo possível é mais eficaz ", afirmou o chefe da equipe de pesquisa de vacinas do hospital Charité de Berlim, Leif Erik Sander, ao jornal britânico Guardian .
O chefe do comitê de vacinas da Alemanha, Thomas Mertens, disse à mídia alemã que outra opção estudada é usar cada frasco do imunizante para seis doses, em vez das cinco preconizadas pelos fabricantes.
Na Dinamarca, o Ministério da Saúde também pediu à agência de controle de doenças que avalie o espaçamento entre as doses de vacina em até seis semanas.
A BioNTech, porém, afirmou que não há respaldo científico para as decisões de espaçar mais as doses da vacina. Segundo a fabricante alemã, os ensaios clínicos aplicaram duas doses com 21 dias de intervalo, e só é possível tirar conclusões sobre segurança e eficácia do produto nesse esquema de dosagem.
A mesma afirmação foi feita pela Agência Europeia de Medicamentos, que aprovou o imunizante para uso na UE, ao jornal britânico Financial Times. "Qualquer alteração em relação ao espaçamento entre as doses exigiria uma variação da autorização de comercialização, bem como mais dados clínicos para apoiar tal mudança. Caso contrário, seria considerado como 'uso off label' (sem recomendação específica)", disse a agência.
Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas e maior autoridade no assunto dos EUA, disse à CNN que o país não vai seguir o exemplo britânico de adiar a segunda dose.
Levantamento feito pela Euronews com base em dados das agências nacionais de saúde indica que a Dinamarca vacinou até agora 40,5 mil habitantes, ou 0,78% de sua população. Na Alemanha, a taxa é de 0,23%, com 239 mil vacinas aplicadas.
O Reino Unido, que começou há cerca de um mês seu esforço de vacinação, já chegou a 1 milhão de doses aplicadas, cerca de 1,4% da população.
A Itália aplicou 118,6 mil doses (0,13%) e Portugal vacinou 0,16% dos seus residentes. Na França, a notícia de que pouco mais de 500 pessoas haviam sido imunizadas na primeira semana da campanha europeia levou o presidente Emmanuel Macron a cobrar explicações do Ministério da Saúde.
O governo francês diz que tem 2 milhões de vacinas disponíveis e promete vacinar 1 milhão de pessoas em janeiro.
Por Fram Marques, Jornalista DRT 2308/MTB-SE
FONTE: BAHIA NOTÍCIAS / Ana Estela de Sousa Pinto | Folhapress