O conselheiro Fernando Vita deixou nesta quinta-feira (21/12) o Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia, após 20 anos de trabalho. Ele completa 75 anos de vida nesta sexta-feira (22/12), e por isso se aposenta compulsoriamente. “Cumpriu seu dever como servidor público, honrou todos os cargos que ocupou com sua inteligência, dedicação, correção e retidão ética”, disse o presidente do TCM, conselheiro Francisco de Souza Andrade Netto, na sessão que marcou a despedida do conselheiro.
O presidente lembrou que Fernando Vita foi vice-presidente de todos os conselheiros que exerceram a presidência do TCM no período em que esteve no tribunal, e que exerceu todos os demais cargos de direção da corte, menos a presidência – “porque não quis, apesar do apelo de todos os seus pares”. No entanto – ressaltou Francisco Netto –, “compartilhou comigo a gestão do tribunal, e digo que é o responsável pelos êxitos administrativos que consegui, não pelos erros, que são só meus”.
Revelou que ele serviu sempre como uma espécie de “consultor” de outros presidentes e conselheiros, “sempre com o desejo de contribuir para tornar a instituição mais relevante para a sociedade”. Francisco Netto lembrou que uma “amizade legal, fraterna, solidária”, o liga ao agora ex-conselheiro, “desde a década de 1990, quando dividimos responsabilidades na administração do estado”.
Jornalista, cronista, escrito e publicitário, Fernando Vita – disse o presidente – é hoje um intelectual reconhecido no Brasil. Observou que, “o parceiro de Jaguar no seminário O Pasquim, o colega de redação e de aventuras de João Ubaldo Ribeiro – no velho Jornal da Bahia –, de Joca Teixeira Gomes, de Guido Guerra, do poeta Florisvaldo Matos, de James Amado e de tantos outros intelectuais da Bahia, deixa agora o TCM e passa a dedicar todo o seu tempo à literatura, à realidade fantástica que nasce de sua imaginação e tanto encanta os leitores”.
Para Francisco Netto, o TCM perdeu um conselheiro que engrandeceu a instituição com sua competência, comprometimento e inteligência, “mas a Bahia ganha um literato em tempo integral, que, com sua produção literária, irá enriquecer a cultura baiana”.
A sessão especial de homenagem contou com a presença do presidente do TCE, conselheiro Marcus Presídio e dos conselheiros Inaldo da Paixão e Gildásio Penedo, além de servidores. E também com “as três mulheres” da vida do conselheiro Fernando Vita: sua esposa Gal, a filha Fernanda e a neta Thaís.
Todos os conselheiros que compõem a corte se manifestaram, ressaltando a inteligência, o humor e outras qualidades do conselheiro, além do seu empenho no trabalho e pelo fortalecimento do TCM. A conselheira Aline Peixoto, de licença, fez questão de se manifestar. Em mensagem por escrito, lida durante a sessão, disse que “embora tenha partilhado da sua presença por pouco tempo no plenário da corte – apenas nove meses – aprendi muito com sua inteligência e sabedoria. E agradeço, de coração o carinho, atenção e respeito que sempre teve comigo”.
E acrescentou: “Vai nos deixar saudade e quem mais vai usufruir da sua presença é Guarajuba, os personagens da mágica “Todavia”, e agora, mais do que nunca, vem figuras para se misturar à “República dos Mentecaptos”, ao “Avião de Noé”, e escreverá mais “Cartas Anônimas” e prontuários da Dra. “Dessirée”. Cada palavra será uma viagem fascinante pelo universo criativo que só o conselheiro escritor Fernando Vita é capaz de proporcionar”.
Ao finalizar, afirmou a conselheira Aline Peixoto que “sentirei saudades de todas histórias contadas antes das sessões, da leveza da sua presença, e, principalmente, das risadas que me foram roubadas. No momento não posso estar presente, mas fica o meu abraço afetuoso tendo ao colo Rui Filho, com os pés protegidos por aqueles esmerados sapatinhos de tricô. Desejo a você, conselheiro Fernando Vita, uma aposentadoria plena de realizações e capítulos memoráveis”.
O conselheiro Mário Negromonte, além de ressaltar o “notável escritor”, destacou a expertise política de Fernando Vita e sua memória histórica. O conselheiro Ronaldo Sant’Anna, salientou seu espírito público, de servidor exemplar. O conselheiro Nelson Pellegrino lembrou a relação de amizade do conselheiro Vita com seu pai, o médico e também jornalista Antônio Pellegrino, e afirmou que ele “sempre foi um homem de posições firmes, e como conselheiro, esteve sempre vigilante em defesa do erário”. O conselheiro substituto Alex Aleluia rememorou a relação de Vita com o seu pai, o ex-vereador Afonso Barbuda, e sua preocupação com a qualidade da educação pública.
O conselheiro Plínio Carneiro Filho citou em Fernando Vita, “sua diligência, entusiasmo, responsabilidade e espírito público, que, sem dúvida, enalteceram esta corte de contas”. Ele agradeceu a colaboração, apoio e incentivo “que recebi ao longo destes anos de convivência, especialmente durante o período em que exerci a presidência da corte e tive o privilégio de tê-lo como colega de mesa diretora”.
“Com o fim deste ciclo de servidor público – disse –, agora vem a quarta etapa da vida, como nos antecipou: Ler, aprender e escrever”. E citou Gabriel Garcia Márquez, escritor querido de Vita, para destacar o ofício a que se dedicará com exclusividade: “Não se nasce escritor, aprende-se a ser escritor. Aprende-se lendo, trabalhando, sobretudo sabendo uma coisa: escrever é uma vocação excludente, todo o restante é secundário, a única coisa que se quer é escrever”.
E, para encerrar, incitou:
“Como diria o poeta, “Vai Vita, segue teu destino…vai escrever”.
FONTE: TCM/BA