Gabriel Barreira e Káthia MelloDo G1 Rio
Um trecho de cerca de 50 metros da Tim Maia, na Avenida Niemeyer, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, desabou na manhã desta quinta-feira (21), pouco mais de três meses após sua inauguração.
Segundo os Bombeiros, duas pessoas morreram no local após cair no mar. Uma
terceira vítima ainda é procurada. Um inquérito foi aberto para investigar as causas do acidente.
Uma das vítimas foi identificada como
Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos. Segundo o cunhado dele, João Ricardo Tinoco, ele morava em Ipanema, também na Zona Sul. Ele deixa mulher e um filho de 15 anos.
“Ele falou que ia chegar ao meio-dia em casa, aí a minha irmã, que é médica e estava indo operar, sentiu um aperto no coração e pediu para eu ligar e ele sempre corre naquela direção da Niemeyer, que é bonita. Ela me ligou e pediu uma ajuda. Como eu estava aqui pertinho, eu parei o carro e vim ver se era ele. Eu que vi pela primeira vez [o corpo]. Não ficou boa essa ciclovia, porque se logo no início já caiu. Realmente foi uma fatalidade horrível. Ele era corredor, sempre corria”, contou o cunhado (veja no vídeo abaixo).
O segundo corpo encontrado não havia sido identificado até a última atualização desta reportagem.
Segundo frequentadores e motoristas que passavam por lá, a ciclovia foi atingida por uma forte onda que, além de destruir o local, também quebrou o parabrisa de um ônibus e teria arrastado uma mulher no calçadão.
'Imperdoável', diz PrefeituraO secretário Executivo de Governo, Pedro Paulo Carvalho, garantiu que não há riscos de novos desabamentos e
classificou o acidente como "imperdoável". O mesmo adjetivo foi usado pelo prefeito Eduardo Paes, em nota divulgada pouco depois (
leia a íntegra no fim da reportagem).
"É imperdoável o que aconteceu, já determinei a apuração imediata dos fatos e estou voltando para o Brasil para acompanhar de perto", disse o prefeito, que saiu à noite do Rio (veja a íntegra da nota no fim da reportagem).
O secretário confirmou que há suspeita de que mais uma vítima ainda esteja desaparecida e que a prefeitura vai trabalhar com técnicos que fizeram a obra.
“Ainda há suspeitas de uma pessoa no mar. Ainda não há confirmação, mas o Corpo de Bombeiros trabalha com a possibilidade de mais uma vítima. Nós não vamos trabalhar com especulação. Vamos trabalhar com os técnicos que fizeram a obra para saber realmente o que causou o acidente”, afirmou o secretário.
Engenheiro Eduardo Marinho é uma das vítimas do acidente (Foto: Reprodução/Facebook)
Mulher de uma dar vítimas chega para reconhecer o corpo (Foto: Kathia Mello/G1)
As pessoas pararam na ciclovia, acharam bonito e ficaram tirando fotos das ondas. Eram enormesVeio uma maior ainda, a ciclovia levantou e caiu um pedaço. Vi as pessoas caindo. É triste."
Damião Pinheiro de Araújo,
testemunha do acidente
Damião Pinheiro de Araújo, de 60 Anos, passava pelo local de bicicleta na hora em que as ondas atingiram a ciclovia.
"As pessoas pararam na ciclovia, acharam bonito e ficaram tirando fotos das ondas. Eram enormes. Veio uma maior ainda, a ciclovia levantou e caiu um pedaço. Vi as pessoas caindo. É triste. Toda vez que o mar subir vai ter que interditar a ciclovia, faz parte da natureza. Para mim ela foi mal planejada", disse Damião.
Cunhado de uma das vítimas do desabamento da
ciclovia niemeyer (Foto: Kathia Mello/G1)
O administrador Guilherme Miranda passava pelo local no momento do acidente.
"Eu quase morri. Já chegou a imprensa inteira. Cadê o prefeito, cadê o engenheiro que fez essa obra? É desesperador você ver as pessoas morrendo na sua frente. Alguém tem que dar uma resposta disso, foram R$ 45 milhões. Acabaram de inaugurar e já está rachada em vários pontos, passo aqui todos os dias para ir e voltar do trabalho", disse Guilherme.
Ele relata ainda ter visto três corpos boiando. Miranda criticou ainda o ato de a ciclovia ser afastada da pista, o que deixa o ciclista sujeito a assaltos.
Um outro homem que também passou pelo local pouco antes do acidente relatou que a onda era muito forte. “A onda batia na pedra e subia, varria a Niemeyer e a ciclovia. Era tão forte que não dava pra passar. Eu tive que esperar no meu caminho de ida e volta”, contou Roberto Meliga.
Equipes de resgate trabalham no local onde um trecho da ciclovia Tim Maia desabou em São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro. Pelo menos duas pessoas morreram e uma ficou ferida. A obra custou cerca de R$44 milhões e foi entregue em janeiro (Foto: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Equipes de resgate trabalham no local onde um trecho da ciclovia Tim Maia desabou em São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro. Pelo menos duas pessoas morreram e uma ficou ferida. A obra custou cerca de R$44 milhões e foi entregue em janeiro (Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo)
'Falha de projeto', diz CREA-RJO engenheiro civil e conselheiro do CREA-RJ, Antônio Eulálio, declarou à Globo News que acredita que
houve "uma falha de projeto" da ciclovia da Avenida Niemeyer, em São Conrado, Zona Sul do Rio, que desabou na manhã deste sábado.
“O problema é que não foi previsto no projeto essa força excepcional porque a onda levantou a ponte. Acho que foi uma falha de projeto. Só tem uma viga central praticamente, então, não tem resistência para o momento. São dois apoios, ele não conseguiu suportar esse esforço de rotação, devido a onda que bateu. Foi falha de concepção do projeto”, afirmou o engenheiro civil e conselheiro do CREA-RJ. "Não foi previsto no projeto, deveria ter sido".
Ele acrescentou que “os autores do projeto vão ser chamados para terem direito à defesa” para que sejam aplicadas as medidas cabíveis. E acrescentou ainda que pode ocorrer a “até a cassação do registro”.
O Consórcio Contemat-Concrejato, responsável pela obra, informou que uma equipe técnica da empresa já se encontra no local, trabalhando em coordenação com a Secretaria Municipal de Obras e que as prioridades neste momento são garantir o atendimento às vítimas e seus familiares e avaliar as causas do acidente.
Helicóptero dos bombeiros fazem buscas por vítimas de desabamento de ciclovia (Foto: Maíra Coelho / Estadão Conteúdo)
A Avenida Niemeyer foi interditada nos dois sentidos por volta das 11h50, segundo o Centro de Operações da Prefeitura e não há previsão para liberação do tráfego. Os motoristas devem seguir pela Autoestrada Lagoa-Barra.
Complexo Tim Maia
O trajeto total, do Leblon à Barra, terá sete quilômetros de extensão, mas ainda não tem data exata para ser inaugurado. Com construção iniciada em junho de 2014, a ciclovia teve custo de R$ 44,7 milhões.
Grande parte da ciclovia — nos bairros do Leblon e São Conrado — já existiam e foram incluídas no complexo cicloviário que ganhou o nome de Tim Maia porque, no projeto original, vai ligar o Rio "Do Leme ao Pontal", exatamente como na canção imortalizada por ele.
No início do ano, cariocas e turistas já dividiam o espaço com os operários. Em nota na ocasião, a prefeitura do Rio informou que o uso da pista durante as obras não era proibido, mas sim indevido.
Trecho da ciclovia liga os bairros de São Conrado e Leblon e tem 3,9 km de extensão. (Foto: Reprodução / Globo News)
Ciclovia da Av. Niemeyer foi inaugurada no dia 17 de janeiro. (Foto: Reprodução / Globo news)
Ciclovia que desabou em São Conrado ficou interditada (Foto: Ricardo Abreu / GloboNews)
Ciclovia da Niemeyer foi inaugurada em janeiro (Foto: Matheus Rodrigues/G1 Rio)
Ciclovia da Avenida Niemeyer, em São Conrado, antes do acidente (Foto: Fábio Motta / Estadão Conteúdo)
Veja a íntegra da nota da prefeitura:
"O prefeito Eduardo Paes lamenta profundamente o acidente na Ciclovia da Niemeyer e se solidariza com as famílias das vítimas e com todos os cariocas neste momento. O prefeito estava em deslocamento para a Grécia - onde participaria, em Atenas, da cerimônia de passagem da tocha olímpica - e já está voltando para o Brasil. Paes atenderá a imprensa amanhã, assim que chegar ao Brasil, o que não tem horário previsto.
- É imperdoável o que aconteceu, já determinei a apuração imediata dos fatos e estou voltando para o Brasil para acompanhar de perto - disse o prefeito, que saiu ontem à noite do Rio.
A Prefeitura do Rio esclarece que a prioridade neste momento é garantir a segurança da população e o atendimento às vítimas e aos seus familiares. Técnicos do município estão desde cedo no local, trabalhando com coordenação da Secretaria Municipal de Obras. O resultado da vistoria realizada pela Fundação Geo-Rio para apurar as causas do acidente será divulgado assim que concluído. Os reparos serão executados pela empresa responsável pela construção, sem ônus adicionais ao município, já que a ciclovia ainda está na garantia de obra. A Avenida Niemeyer permanece interditada ao tráfego e o Corpo de Bombeiros continua as buscas no local."