Por Adriano AlbuquerqueRio de Janeiro
Poucos dias após ter sua luta contra Frankie Edgar valendo cinturão interino anunciada pelo Ultimate para 9 de julho, o lutador brasileiro José Aldo concedeu entrevista coletiva durante passagem pelo estande de um de seus patrocinadores na feira fitness Arnold Classic, no Rio de Janeiro. O ex-campeão dos pesos-penas do UFC se mostrou resignado com o desafio, que não era exatamente o que ele queria - o manauara fez campanha por uma revanche contra Conor McGregor, que tirou seu cinturão em dezembro passado - e "soltou os cachorros" contra o tratamento diferenciado que, na sua opinião, a companhia dispensa ao seu rival irlandês, que fará uma revanche contra Nate Diaz no mesmo evento, pelo peso-meio-médio.
José Aldo não escondeu a frustração por não fazer a revanche contra McGregor em seguida (Foto: Adriano Albuquerque)
- Se eu acho (que ele recebe tratamento diferenciado)?? Tenho certeza disso! Não tem como! Não só nesse aí, mas desde que ele apareceu. Tudo envolve dinheiro, mas tem que respeitar o outro lado que está (lá), porque ele não consegue fazer dinheiro sozinho. Tem sim um tratamento diferenciado com ele. Nunca vi uma revanche num peso que não existe, numa luta que não vale nada. Como o próprio Nathan falou, ele mesmo já perdeu para caras que ele pode ganhar, e nunca deram uma revanche pra ele. Chegar agora e dar uma revanche para ele sem ter nenhum seguimento, acho bem diferente, bem estranho, mas fazer o quê? Eles que mandam, a gente tem que obedecer - exclamou Aldo.
O lutador brasileiro revelou um pouco dos bastidores de seus últimos meses, em que esperou uma ligação do UFC para tratar de seu futuro, que, segundo ele, nunca aconteceu. O presidente da companhia, Dana White, só teria procurado seu treinador e empresário, Dedé Pederneiras, quando Rafael dos Anjos, adversário original de McGregor no UFC 196 do último dia 5 de março, se lesionou e foi forçado a deixar o evento com menos de duas semanas de antecedência.
- A conversa é que a gente mandava mensagem para eles todos os dias, todos os dias a gente esperava ligação, mas uma mensagem, nunca teve. Quando teve, eles mandam isso e você tem que aceitar. Você tem contrato com eles, o que vai fazer, vai para onde? Não tem para onde correr. Eles mandam, a gente até debate sim, para tentar melhorar nem que seja uma paçoca, uma água com gás, mas nem sempre isso é possível. Não existe tanta conversa, a gente fica pedindo, ficamos mais ou menos um mês. Fiquei três semanas esperando uma ligação do Dana. Quando o cara me liga, nem me liga, mandou mensagem pro Dedé - eu estava em Manaus, fazendo um jogo beneficente - pra entrar na luta que o Rafa quebrou o pé. E, mesmo assim, não foi oferecido para a gente lutar, foi perguntado, porque sabia que a gente não tinha possibilidade nenhuma de estar lutando, até porque eu vinha de uma suspensão, e assim ele já tinha em mente quem colocar na luta, né. Mas esse é um caminho que eles tentam seguir, que, para mim, é muito sujo, então não existe essa negociação como todo mundo pensa. A gente fica pedindo, pede, pede e pede, e eles não retornam, quando retornam é assim e dizem que amam a gente. É muito estranho, só para vocês terem uma noção de como são as coisas. Mas, fazer o quê?
José Aldo acredita que sua negativa em aceitar a luta de última hora no UFC 196 contribuiu para que a organização lhe negasse a revanche contra McGregor agora. Porém, o brasileiro reclamou das condições do chamado, e insinuou que o irlandês estava dopado no torneio.
- Vejo por esse lado sim, até porque a revanche (no 196) não ia ser no peso-pena! Que revanche seria essa, valendo cinturão de que? Sim, eu luto com ele, vamos lutar no peso-pena! A gente se prepara e, seja onde for, a gente vai chegar e lutar. Agora, colocar uma luta em 70kg, onde ele com certeza estava cheio de bomba no couro, onde ele se esconde, e ninguém faz doping nele, só quando ele chega em Las Vegas, uma semana antes da luta, e aí é muito mais fácil de você limpar o corpo e lutar. Botaram a luta para a gente, sabendo que não tínhamos treinamento nenhum. Não posso fazer nada, o que posso fazer agora é treinar, ganhar do Frankie Edgar, e aí sei que conquistei de novo minha disputa pelo cinturão.
Apesar de todo o desabafo, Aldo descartou buscar abrigo em outras organizações do mercado de MMA, e afirmou que pretende se aposentar após seu contrato com o UFC acabar.
- Hoje em dia, graças a Deus, eu tenho o lado financeiro. Acho que todo mundo diz que ama lutar. Ama lutar? Então quero ver subir lá de graça, quem vai treinar de graça, pagar os treinadores de graça. Tudo é dinheiro. Não tem como não falar sobre isso. Amo lutar sim, mas se não me pagar para chegar lá, não vou lutar. Tudo tem uma negociação. Não vejo bem por esse lado. Meu lado financeiro, hoje em dia estou muito bem, agradeço ao Dedé por tudo que a gente fez. Se futuramente eu não lutar mais pelo UFC, acho que tenho um contrato de seis lutas ainda, quando eu completar essas seis lutas, aí sim, penso em parar, sair desse mundo, e viver e aproveitar tudo aquilo que ganhei - concluiu.