Um pai de família, brasileiro, que tinha perdido os documentos há mais de uma década passou cinco meses e 14 dias num presídio de segurança máxima em Rondônia por um crime que não cometeu.
A reportagem é de Maríndia Moura e Hélio Santiago.
Evaldo Cunha da Silva, de 38 anos, é pedreiro, casado e pai de três filhos. Poucos dias depois de sair da prisão, se emociona ao falar do que passou:“Muito humilhante, demais”. Ele conta que perdeu a carteira de identidade em 2001. Na época, registrou ocorrência na delegacia, mas não providenciou a segunda via. Estava usando apenas a habilitação.
Em abril deste ano, parado numa blitz, descobriu que havia um mandado de prisão contra ele, em Goiânia, por tráfico de drogas. A pena era de seis anos e oito meses. Evaldo foi levado para um presídio provisório, onde diz ter sido espancado junto com outros presos.
“Quando fomos da central da polícia, fomos em sete e um deles estava levando um chip. E na hora da revista, um chip caiu e todos nós sete apanhamos”, lembra Evaldo.
Depois, o pedreiro, que sempre alegou inocência, foi transferido para uma penitenciária de segurança máxima em Porto Velho. Foi só mês passado, durante um mutirão carcerário, realizado pelo Tribunal de Justiça de Rondônia, em que os juízes vão para os presídios para ouvir os presos, que Evaldo conseguiu a atenção de um masgistrado para a história dele, e esclareceu o engano. O juiz disse que Evaldo não se contradisse em nenhum momento.
“Prontamente entrou em contato com a Polícia Civil de Goiás, pegando o prontuário da pessoa que realmente havia cometido o delito em Goiânia e teria sido preso naquela localidade. Em razão disso, fizeram a perícia e constataram que quem estava preso nessa unidade realmente não era o autor do crime”, conta o juiz Felipe Rocha.
A investigação revelou ainda que o homem que adulterou o documento do pedreiro estava cumprindo pena na cela ao lado. Ele disse que comprou a carteira de identidade porque achou que o dono estava morto.
“Tenho um filho no nome dele, casei no nome dele, comprei até casa no nome dele. Acho que ele não deve pagar por uma coisa que ele não fez, né?”, disse o homem que não quis se identificar.
Evaldo agora tenta retomar a vida e o trabalho. “Todo mundo da cela que estava comigo, que acreditava em mim, e me chamava de coroa inocente, todo mundo ficou alegre de voltar pra casa e me deram um conselho: esquece tudo que viu aqui e segue tua vida”, lembra emocionado.
O advogado do pedreiro vai entrar com ação de indenização por danos morais e materiais contra o estado de Goiás. O Tribunal de Justiça de Rondônia informou que vai apurar a agressão que Evaldo disse ter sofrido no presídio.
Jornal Nacional