Rangel Alves da Costa*
Viver entre monstros é uma experiência terrível, uma situação traumatizante. Contudo, algo de que não se pode fugir, vez que cercado de labirintos, envolvido por ambientes aterrorizantes, dificilmente alguém consegue não sofrer suas medonhas consequências.
Talvez estejam pensando que digo sobre o monstro horripilante que vive escondido logo após a curva da estrada, ou sobre a anomalia de língua de fogo e unhas de espada que se oculta atrás de morros esperando alguém passar; ou ainda sobre a monstruosidade que emerge das águas dos rios para abocanhar os banhistas.
Não. Os monstros são outros. E muito piores, muito mais audaciosos, perigosos, famintos, covardes, traiçoeiros, violentos, brutais, horripilantes, medonhos e carnicentos, pois são monstros humanos. Sim. Monstros humanos sim, mas cujas aparências em nada são afeiçoadas àquelas feras. Perto dos monstros humanos, aqueles seres são verdadeiros brinquedos.
E os monstros humanos estão em todo lugar. Onde ninguém jamais esperaria encontrá-los e lá estarão prontos para o ataque, para a vil e violenta ação. Com o mesmo sobrenome, a mesma linhagem familiar, muitas vezes convivendo na mesma casa, lado a lado. E estes são perigosíssimos porque conhecem todos os passos e ações de sua presa, de seu familiar sorrateiramente odiado.
Muitas vezes os monstros da rua são menos perigosos e violentos do que os monstros familiares, aqueles que mansamente fingem boa convivência debaixo do mesmo teto, ou mesmo aqueles que vivendo em outros ambientes, chegam para visitas ou são encontrados noutros lugares. Basta avistar o irmão ou outro parente e os olhos começam a brilhar diferente, a língua se torna estridente, as mãos se transformam em garras. E as consequências serão inevitáveis.
Traiçoeira e covardemente açula, instiga, atiça, espeta, vai tentando a todo custo despertar fúria no outro para depois querer justificar o ataque que logo será desferido. Se o outro não reage a nada, pacientemente procura se desvencilhar das provocações, ainda assim será atingido, pois é do instinto maldoso do monstro procurar qualquer coisa que lhe sirva de alvo para o primeiro bote.
E nunca perde tempo. O monstro familiar nunca perde tempo. Começa a mentir, a dizer aleivosias, a ferir na alma, a macular de todas as formas o que permanece sereno. Se este não responde aos ataques porque já conhece a fera e os seus modos de agir, logo em seguida será chamado de covarde, de medroso, de verme asqueroso, e que, permanecendo calado está consentindo e confirmando as injúrias contra si lançadas.
Quando a pessoa não reage, não responde no mesmo tom, faz de tudo para evitar e começa a fazer de conta que nem está ouvindo, então o monstro familiar só falta enlouquecer, avermelha, quer botar os bofes pela boca, pois seu único intuito é verdadeiramente arranjar confusão, intriga, inimizade. E principalmente denegrir a honra e a imagem do parente.
Como já afirmado, os monstros da rua, do local do trabalho e outros espaços, são muito menos perigosos que os familiares, mas também são monstros. Daí ser preciso muito cuidado, vez que provocam enormes estragos e feridas. Tais monstros agem mais por inveja, pela arrogância gratuita e autoritarismo barato, pelas vaidades e egoísmos exacerbados, e também pela fome instintiva em ferir e tentar submeter o próximo.
É preciso, pois, muito cuidado com um monstro chamado chefe, com outro conhecido como motorista, ou ainda outros denominados assaltantes, policiais, políticos eleitos, governantes, vizinhos. O monstro vizinho possui uma peculiaridade. Dificilmente age de maneira frontal, agressiva, mas apenas rogando por tudo na vida que o outro se transforme em carcaça para se deleitar diante dos restos.
Você conhece algum monstro assim? Também não precisa se olhar no espelho nem ao lado. Tais monstros são invisíveis.
Poeta e cronista
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